POV: Juliette
Não sei dizer exatamente o que aconteceu… Só lembro da escuridão me envolvendo, o ar fugindo dos meus pulmões e a dor no peito crescendo até me engolir por completo.
Quando abri os olhos, estava dentro de um carro. O cheiro dela, o calor dela, os braços dela em volta do meu corpo. Sarah.
Meu coração disparou de novo — não de amor, mas de medo.
Imediatamente, a cena da balada invadiu minha mente como um vendaval: os dois tão próximos… o rosto dele quase tocando o dela… e eu ali, invisível.
Juro por Deus, eu teria preferido continuar desacordada.Comecei a me mexer, querendo fugir daquele abraço.
— Me… me larga… — foi tudo que consegui dizer, com a voz falha, entrecortada pela falta de ar e pelas lágrimas presas na garganta.
Mas ela não soltou. E eu também não consegui empurrá-la. No fundo, por mais que doesse, estar ali com ela me fazia sentir que eu ainda estava viva. E isso me quebrava mais ainda.Eu sei… eu sei que tô sendo covarde. Que tô deixando meu medo e meus traumas me travarem. Mas é que… é a primeira vez que eu realmente tento enfrentá-los.
Ou… tentava.Já fiquei com algumas pessoas antes. Homens, sempre homens. Mas mulher… ela foi a primeira. Desde que… bom, prefiro nem lembrar.
Tem coisas que a gente guarda tão fundo que só de chegar perto a alma sangra.E é isso que ela não entende. Não é sobre ela. É sobre mim. Sobre as marcas que eu carrego e que ainda queimam na pele, na memória, no coração. Uma delas é a insegurança — essa maldita sombra que me persegue em silêncio.
Quando o carro parou, reconheci vagamente o prédio. Devia ser o da amiga dela. Eu não queria sair dali.
Queria sumir, queria voltar no tempo, queria qualquer coisa menos enfrentar aquilo tudo de novo.Mas ela tava certa.
Eu não estava em condições de ficar sozinha.
Então respirei o pouco que consegui, e desci.
Um passo depois do outro. Como se cada um deles fosse um pedaço do meu orgulho sendo deixado pra trás.Porque, apesar de tudo… parte de mim ainda queria encontrar um lugar pra ficar.
E, por mais que doesse admitir… esse lugar ainda era ela.— Eu só vou entrar, pegar a chave do carro e te levo em casa, também preciso avisar a Thais. Se sente melhor? — ela perguntou com uma voz cheia de cuidado enquanto caminhávamos juntas até o prédio.
Apenas assenti com a cabeça. Não tinha forças pra falar… nem coragem.Dentro do elevador, o silêncio nos engoliu.
E foi ali, naquele cubículo espelhado, que minha mente começou a girar de novo.
Preciso avisar as meninas…
Elas devem estar loucas tentando me achar. E eu, aqui, como se o mundo tivesse desabado em cima do meu peito.Sarah estava inquieta ao meu lado. Eu percebia seu nervosismo mesmo sem ela dizer nada. Os dedos se mexendo, o olhar vago, o peso no ombro.
Ela estava quebrada… e a culpa era minha.
Eu não queria ser assim. Juro que não queria.
Não queria me afastar, me fechar, me encolher.
Mas tá doendo tanto…
Só de lembrar da cena, meu estômago revira. Meu corpo inteiro dói.
Parece que até o ar me machuca.Talvez… talvez eu devesse deixá-la ir.
Ela não merece essa confusão que vive dentro de mim.
Eu a envolvi num furacão que eu mesma não sei como sair.
E se ela decidir ir embora, não posso culpá-la. Só posso aceitar. E talvez, no fundo, até agradecer por ter tentado.O elevador finalmente parou.
Caminhamos até o apartamento, e quando entramos, tudo pareceu calmo demais. Um contraste gritante com o caos que carregávamos por dentro.

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Eu era apenas eu
FanfictionJuliette Freire, é uma famosa professora de dança, dona da freire dancing, um estúdio de dança, conta com a ajuda de uma equipe bem capacitada que também são seus amigos, e devido ter crescido tanto na sua área profissional ela já não necessita atua...