promete?

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POV: Juliette

Foi muito difícil pra mim entrar nesse assunto. Há muito tempo eu evitava falar sobre... Nem com as minhas amigas mais próximas eu conseguia. É algo que ainda me dói, que ainda meche aqui dentro, num lugar que eu nem sei nomear direito. Mas com a Sarah... com ela, eu quis falar.
Mesmo sem dar todos os detalhes, eu só não queria deixá-la no escuro. Ela merece clareza, merece saber onde está pisando. Eu quero muito me permitir — pela primeira vez em muito tempo. E ela me prometeu paciência... nada mais justo da minha parte do que ser sincera com ela, principalmente sobre os meus sentimentos.

Eu via a angústia nos olhos dela enquanto eu contava, mas via também empatia, carinho, uma delicadeza que me desarmava inteira. Como ela pode ser tão fofa assim? Meu coração até errou as batidas quando ela falou aquelas coisas... Foi difícil acreditar que alguém podia, de fato, querer estar comigo. Talvez seja só a minha insegurança gritando, como sempre fez, dizendo que eu nunca vou ser suficiente pra alguém.

Mas ela... Ela me fez prometer que eu não a afastaria de mim. E eu prometi. Mesmo com a minha mente gritando que talvez esse fosse o certo, eu fiz um esforço enorme pra escutar só o meu coração. E olha... por mais que ele já tenha me machucado outras vezes, tinha algo ali dentro me dizendo que, dessa vez, podia ser diferente.

Pelo menos eu estava tentando acreditar nisso.

Ela me encheu de beijos depois da promessa. Eu ria nos braços dela, e por alguns instantes tudo parecia leve, bonito... verdadeiro. Até que o telefone tocou.

Era Oliter. E ela estava muito, mas muito preocupada. Me deu até sermão.

— Alô! — atendi.

— Ju, graças a Deus! É a Oli. Meu Deus, eu liguei no seu celular milhões de vezes... Você não atende, não responde! Estamos preocupadas! — a voz dela tremia, dava pra sentir a aflição.

— Ah... oi, meu amor. Desculpa! Deve ter descarregado — falei tentando acalmar ela, mas já me sentia culpada por não ter avisado.

— Devia ter dito alguma coisa, mulher! Sei lá, usado esse telefone aí. E tu esqueceu que a gente ia sair hoje? Por que tá aí ainda, hein? Tu tá bem?

Ela me metralhou de perguntas, e eu entendia. Oli sempre foi intensa nas emoções.

— Sim, sim, tô bem! Desculpa mesmo. Era pra eu ter ido, mas... não deu — minha voz carregava a culpa.

— Ok... mas quando tu chegar, tu vai me explicar tudo! E venha logo! — exigiu, no tom autoritário que só a Oli sabe usar com tanto amor.

— Tá, tá bom... Quando eu chegar eu explico, mulher! Não se preocupa, eu já tô indo.

Não tinha muito o que fazer. Eu precisava ir. E por mais que eu quisesse ficar, eu também não podia esquecer de quem sempre cuida de mim. Não reclamo das amigas que tenho — de jeito nenhum! Elas são minha fortaleza. Principalmente Oli, que nunca me solta, mesmo quando eu esqueço de mim.

— Tá bom. Te espero... xêro! — ela disse, já mais calma.

— Xau, xêro! — respondi, ainda com o coração apertado pela despedida que viria... de Sarah, de mim mesma naquele instante, e da paz que encontrei naquele abraço.

Quando encerrei a ligação, dei de cara com uma Sarah com a expressão visivelmente preocupada.

— Algum problema? — ela perguntou, franzindo a testa, tentando disfarçar a tensão, mas os olhos dela sempre dizem mais do que os lábios.

Expliquei a situação, tentando resumir sem pressa, mas com aquele cuidado de quem não queria que ela pensasse que eu queria ir embora dela.

A verdade é que nenhuma de nós queria sair dali. A gente sabia que precisava, mas parecia injusto com o momento que estávamos vivendo. Me doeu um pouco quando ela disse que estava com medo... e só ali, naquele instante, eu lembrei o real motivo de estarmos juntas naquela manhã. Tanta coisa tinha acontecido em tão pouco tempo. Revelações, promessas, risos e cicatrizes abertas com cuidado — tudo em menos de 24 horas, mas com o peso doce de uma semana inteira.

Eu era apenas euOnde histórias criam vida. Descubra agora