Prólogo: Elisa

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Meu coração foi dilacerado em dois, enquanto eu sentia meus pulmões pararem de funcionar. Com apenas um beijo eu sangrei até morrer e dei meu último suspiro.

Foi assim que me senti quando vi meu namorado, meu primeiro amor, beijar outra garota. Quando vi o amor da minha vida beijar o amor da vida dele, uma parte de mim morreu.

Sempre confiei em Gustavo quando ele dizia que Ana era apenas sua amiga. Ele sempre voltava para os meus braços, depois de uma longa noite fora de casa com sua "amiga", como se eu fosse sua metade que sempre faltou, assim como faltava em mim e ele completou.

Quando minhas melhores amigas, Dayana e Vitória, me falaram que eles estavam se beijando atrás da árvore do parque, achei que estavam mentindo, já que nunca gostaram de Gustavo. Achei que era apenas uma piada de mau gosto, mas fui a procura dos dois mesmo assim.

Senti vontade de vomitar quando os vi se beijando com tanta paixão. Eles se beijavam com tanta vontade, como se fossem a última coisa que encostariam seus lábios.

Com todas as forças no meu corpo, saí de trás da árvore, fazendo com que os "pombinhos" me vissem.

No momento que os olhos de Gustavo encontraram os meus, ele deu um passo largo para trás, se afastando ao máximo de Ana, como se quisesse apagar da minha memória o modo como seus lábios se movimentavam em sintonia com os dela, ou o modo que suas mãos seguravam e acariciavam a cintura dela, como se fosse feita perfeitamente para encaixar nas mãos que muitas vezes brincou com o meu cabelo para me ajudar a adormecer.

- Lisa! – Ele disse tão baixo que, por um momento, achei que tinha imaginado. Odiei escutar o apelido carinhoso que minha família me deu sair da boca dele. Nunca quis tanto que alguém me chamasse simplesmente de Elisa antes. Mas ouvir aquela palavra, tão simples, mas de grande significado para mim, saindo da boca dele me fez querer gritar com ele, chorar até não ter mais nada no meu organismo que estivesse implorando para sair.

Mas, ao invés disso, fiquei parada olhando para ele, com lágrimas borrando a minha visão, com todos os membros do meu corpo completamente dormentes.

Não queria chorar na frente de Gustavo por causa dele, muito menos na frente de Ana, mas no momento em que pisquei para tentar esclarecer a minha visão, uma lágrima escorreu pela minha bochecha esquerda.

No segundo em que a gotinha atingiu o chão nos meus pés, vi os olhos de Gustavo se arregalarem em desespero e ele andando rapidamente em minha direção.

Quando chegou perto de mim, por completo instinto, Gustavo estendeu a mão para enxugar a minha bochecha. Mas, só de pensar em experimentar seu toque novamente, senti uma grande repulsa, e achei melhor me afastar dele antes que tivesse a oportunidade de me encostar.

- Lisa... – Ele começou de novo, mas antes que tivesse a chance de terminar, eu o interrompi.

- Não me chame assim!

- Elisa, eu prometo que não é o que você está pensando. Não é o que parece! – Por que eles tinham que sempre falar a mesma coisa? Havia alguma lista de desculpas obrigatórias para quem traía seus parceiros?

- Certeza? Porque, ao que me parece, você estava beijando a Ana! - Eu disse, minha voz não passando de um sussurro, mas com um tom desafiador.

- Ok! É o que parece ser. Mas eu juro que não significou nada! Foi só um beijo! – Mais uma desculpa obrigatória que todos os traidores usam.

- Agora foi só um beijo! – Escutei Ana falando para si mesma. Dava para ver no rosto dela que ela estava completamente machucada pelo comentário dele. Não por acreditar no que disse, mas por saber que estava só mentindo para eu o perdoar.

Olhando para ela naquele momento, percebi o porquê de Gustavo querer ficar com alguém como ela.

Ana sempre foi muito bonita. Alta, cabelo loiro-escuro, comprido até o meio das costas, olhos castanhos claros que lembravam um pouco mel. Muitos diziam para ela tentar seguir a carreira de modelo e Gustavo sempre concordava.

Já eu, era o completo oposto. Claro, eu amava o jeito que eu era. Nunca tive problemas com o fato de eu não ser nem tão alta, nem tão baixa, embora muitas vezes, Gustavo brincava que eu era muito pequenininha. Sempre amei meu cabelo castanho, curto do jeito que é. Nunca tive problemas em deixá-lo crescer até um pouco mais abaixo dos ombros, mas sempre preferi do jeito que estava. E sempre achei legal o jeito como meus olhos castanho-escuro, sem luz, pareciam pretos, mas, com a claridade do sol, era algo quase impossível de desviar a atenção.

Mas, ao ver o quão diferente eu era de Ana, percebi que nunca seria bonita o suficiente para Gustavo.

Dando um passo à frente, me aproximei dele o suficiente para tentar intimidá-lo, mas sem dar abertura ao toque e falei:

- Tudo bem! Eu entendo que não foi só um beijo e que, sim, significou alguma coisa. Só achei injusto você mentir para mim! Pode ficar com ela. Vocês sempre se deram bem mesmo!

Segurando para não cair em prantos, tirei a aliança prata que Gustavo me deu quando começamos a namorar e a entreguei em suas mãos.

- Aqui! Dá essa para ela. Não pretendo ficar com isso mesmo. Não quero mais nada com você!

Depois disso, saí andando, deixando Gustavo completamente em choque, e não virei para olhar para trás nem uma única vez. Sabia que, se olhasse, voltaria correndo para os braços de Gustavo, aos prantos e pedindo desculpa por uma coisa que eu nem fiz.

Então fui embora e prometi para mim mesma que, depois daquele dia, nunca mais me deixaria levar por um cabelo fofinho e um sorriso bonito.

O amor (não) existeOnde histórias criam vida. Descubra agora