Capítulo 6: Lucas

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No dia seguinte, eu passei pelo prédio da Elisa antes de ir para a cafeteria, para levar ela de carona até o trabalho, assim como prometido na noite anterior.

Quando entrei, o porteiro disse para eu subir, me dando o número do andar e o número do apartamento de Elisa.

Cheguei na porta dela e bati. Esperei por um tempo, mas ninguém me atendeu. Bati de novo um pouco mais forte e esperei. Depois de um tempo a porta se abriu para revelar uma Lisa com uma blusa larga que cobria metade da coxa, o cabelo um pouco bagunçado, com cara de cansada e esfregando os olhos com as costas da mão.

Achei adorável o modo como ela estava. O pijama, embora fosse uma camisa larga e velha, a fazia ficar mais bonita do que já era.

Estaria mentindo se falasse que não corei e não senti algo no meu estômago, que minha mãe costumava chamar de "borboletas".

- O que você 'tá' fazendo aqui? – Perguntou ela, com uma vozinha cansada que, admito, nunca ficaria cansado de ouvir. Fiquei mais vermelho ao pensar em acordar todos os dias ao lado dela.

- Eu... umm, eu... – Limpei a garganta, respirei fundo e tentei terminar a minha sentença sem gaguejar – Bom dia para você também, Lisa! Eu vim te buscar. Assim como eu disse ontem à noite.

- Ah! 'Tá' bom! Eu tenho que me arrumar. Entra! Pode esperar no sofá. – Ela disse, se afastando da porta para eu entrar no seu apartamento.

Ao entrar, percebi que era um lugar pequeno, mas aconchegante e que mostrava muito da sua personalidade. Encostada na parede, ao lado da porta havia uma estante cheia de livros, no sofá algumas almofadas rosa e bege que pareciam bem confortáveis. Em uma porta de frente para a sala, que parecia ser do seu quarto, havia alguns adesivos da Taylor Swift, do filme "A culpa é das estrelas" e "Girl Power".

Era um apartamento pequeno, mas o suficiente para alguém que mora sozinho.

Calma! Ela realmente morava sozinha ou foi só mais uma das minhas suposições?

Vai, Lucas! Você consegue! É só uma pergunta casual.

- Umm, você mora sozinha?

- Uhum!

- Você... você não tem ninguém... umm, para compartilhar o apartamento com você? Tipo uma amiga? Ou... ou um namorado?

- O que!? Não! Não! – Ela respondeu, rindo e entrando no quarto, sem fechar a porta para continuarmos a conversa, enquanto eu me sentava no sofá – Minhas amigas têm suas próprias casas e eu não tenho um namorado.

Ufa!

- Ah! Por que? Não conseguia admitir que precisava dele? Bem a sua cara! – Provoquei, sabendo que ficaria irritada, já que foi bem essa sua reação ao mesmo comentário no dia anterior.

- Ha! Ha! Muito engraçadinho você! – Disse ela, aparecendo na porta do quarto vestindo uma blusa azul-escuro, larga com uma parte de alguma música da Taylor Swift meio desbotada, um short jeans meio rasgado e uma bota, tipo coturno, preta nas mãos. Estava mais linda do que nunca – Acabou que ele me mostrou que as pessoas não são confiáveis, muito menos homens. Então, sim, eu não precisava dele.

Ela sentou do meu lado para colocar os sapatos e eu apenas fiquei a admirando.

- O interrogatório terminou? – Ela perguntou, se levantando para ir ao banheiro.

- Uuuh! Parece que eu não sou único com respostinhas. – Ela riu enquanto revirava os olhos e preparava a escova para escovar os dentes – Eu ia perguntar o que seu namorado fez, mas parece que você não quer conversar sobre isso, então, é, o interrogatório terminou.

Enquanto terminava de se arrumar, ficamos em silêncio, mas escutei uma música tocando, vindo do banheiro onde ela estava. Já tinha ouvido aquela música antes. Minha irmã adorava aquela música, mas não disse nada.

Quando ela ficou pronta, descemos até a portaria, saímos para a rua e entramos no meu carro. Ainda estávamos em silêncio e achei que continuaríamos assim até chegarmos na Le Café, mas escutei a Lisa dizendo:

- Ele me traiu!

Ela disse tão baixo, como se não quisesse tocar no assunto, que eu achei ter imaginado, mas quando olhei para ela, Elisa já estava olhando de volta para mim, esperando alguma reação.

- Calma! Como assim?

Era uma pergunta muito idiota, mas estava tão chocado que foi a única coisa que consegui falar.

- O nome dele é Gustavo e ele me traiu com a melhor amiga dele. Eu descobri no dia do meu aniversário de 19 anos.

Não demonstrei nenhuma reação, mas, no momento em que ela terminou de falar, minha vontade era de ir atrás daquele cara e fazer ele se arrepender do que fez.

A Elisa não parecia triste, prestes a chorar ou alguma coisa assim. Muito pelo contrário, ela parecia estar com o dobro da raiva e nojo que eu estava sentindo naquele exato segundo.

- Eu... eu 'tô' bem! Não vejo ele desde o dia em que achei ele beijando outra menina numa praça e eu 'tô' bem. Claro, algumas coisas mudaram para mim, mas eu continuo bem.

- Que coisas?

- Ah, para mim é difícil confiar nas pessoas, principalmente nos homens, como eu disse no meu apartamento, e, sei lá, eu meio que parei de acreditar no amor.

- Como assim?

- Tipo, quando vejo algum casal, eu não consigo acreditar que eles se amam de verdade. E eu... eu acho que nunca vou achar alguém que me ame e eu ame de volta, porque, para mim, isso não existe.

A nossa conversa acabou ali.

Nós fomos para a cafeteria em silêncio e, durante o trajeto, prometi para mim mesmo que a ensinaria o amor verdadeiro. Custe o que custar.

O amor (não) existeOnde histórias criam vida. Descubra agora