Capítulo 2: Lucas

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Eram 8:40 da manhã e nenhum sinal da nova funcionária que eu iria ajudar.

Estava começando a ficar frio, então aproveitei o atraso da barista, peguei um café com leite e creme e comecei a ir em direção ao meu carro para voltar para casa e pegar uma blusa.

Quando eu estava quase chegando onde eu estacionei, vi uma moça incrivelmente linda vindo em minha direção e travei. Simplesmente parei onde estava.

Por que eu sou assim? Tenho 22 anos e ainda não aprendi a agir naturalmente perto de uma menina bonita.

Com certeza ela estava absorta em seus próprios pensamentos, porque no momento em que parei de andar ela continuou vindo em minha direção, fazendo com que a gente trombasse.

O impacto foi tão forte que acabei derrubando o meu café em sua blusa e ela quase caiu de cara no chão. Por completo instinto estendi os braços e segurei ela, sem saber por onde. Só quando a coloquei de pé que percebi que estava a mantendo estável pela cintura. Não tive nem tempo de corar porque logo ela começou a tentar se livrar das minhas mãos.

- Ei, ei! Ok! Pronto, pronto! – Eu disse, levantando as mãos tentando mostrá-la que eu não encostaria mais nela, se era o que ela queria. Tentando mostrá-la que respeitaria seu espaço pessoal.

Mesmo com ela claramente incomodada com o fato de, há apenas alguns segundos, minhas mãos estarem em sua cintura, algo que não fiz de propósito, já que não sairia segurando as cinturas das mulheres que passam na rua sem nenhum motivo, não pude evitar perceber o quão bonita ela realmente era, principalmente de perto, já que estava parado, do seu lado, a encarando.

Sério, Lucas!? Tinha que encarar!?

- Você está bem? Se machucou?

- Você manchou a minha blusa!

Sua voz era delicada, mas impunha um certo poder. Somente ouvindo a voz dela dava para perceber que ela sabia se virar sozinha e, se não fosse tratada do modo esperado, batalharia por esse respeito e mostraria toda a sua capacidade. Fiquei surpreso ao ver que sua voz condizia com sua aparência.

Porém, no momento em que aquelas palavras deixaram sua boca, percebi que sua blusa branca estava completamente machada de café e que ela estava começando a ficar irritada com a situação.

- Me desculpa por isso! Estava com pressa. – Falei, encolhendo os ombros, envergonhado por tê-la sujado de café e com o fato de que tinha acabado de mentir. Não estava com pressa. Não estava nem andando. Estava apenas a admirando, hipnotizado por sua beleza.

- Vou ter que aparecer no trabalho encharcada de café! – Ela esbravejou, puxando a blusa. Provavelmente já estava sentindo o meu café melando sua pele, e logo me senti um idiota por ter escolhido bem aquele dia para pedir creme.

Ela claramente estava irritada por ter que trabalhar suja de café, mas não pude deixar de perceber que ela ficava mais atraente assim.

Me senti desconcertado. Não por ter feito ela ficar irritada, mas por ter me metido nessa situação porque agi como um idiota quando vi uma moça bonita.

- Desculpa! – Repeti, mentalmente implorando para que ela me perdoasse – Se você quiser, eu posso te dar uma carona até sua casa para se trocar.

- Não tenho tempo! Estou atrasada e não vou pegar carona com um estranho. – Ela disse, revirando os olhos.

Revirei os meus e bufei quando percebi que sua atitude não mudaria. Ela era bonita, mas eu não ia engolir desaforo.

- Primeiro, se você está tão atrasada e não queria trabalhar melada de café, você não deveria ter entrado no meu caminho. E, segundo, meu nome é Lucas. Prazer! Como vai a sua manhã? Bem!? Que bom! A minha também está uma maravilha! Viu? Agora não somos completos estranhos. Já que nos conhecemos, você gostaria de receber uma carona e trocar de blusa na sua casa ou vai continuar com a postura de babaca...?

Sinalizei para ela completar a frase com seu nome, para tentar esconder o choque e arrependimento por ter sido tão grosso com ela.

- Elisa.

- Ok! Meu carro está logo ali. Se você quiser, eu consigo te trazer antes que seu chefe sinta sua falta.

- Já falei, não vou pegar carona com um completo desconhecido. – Eu ia contrariá-la, mas ela logo levantou o dedo indicador, fazendo com que eu fechasse minha boca – Só sei o seu nome, qual é o seu carro e sua preferência para café. – Ela falou cheirando sua blusa.

Achei engraçada a última parte, mas não ri porque fiquei com medo de irritá-la mais.

– Não nos conhecemos! E eu tenho um moletom. Posso colocar por cima da blusa.

Ela parecia mais calma, então baixei minha guarda e me acalmei também, embora, quem fosse a irritada, era Elisa.

- Olha, realmente, eu não te vi vindo na minha direção. – Mais uma mentira. - Desculpa por ter derrubado o meu café em você. De verdade!

- Ok! Tudo bem! Não tem problema. – Ela disse num tom de cansaço e arrependimento – Me desculpa por ter sido grossa, também.

"Grossa é pouco! ", pensei. Pelo menos, eu achei que tinha só pensado, porque quando olhei para Elisa, ela estava, de novo, com cara de irritada.

- 'Tá' bom, então! Eu tenho que ir!

Vi ela saindo irritada, vestindo o moletom e a minha vontade era correr atrás dela e dizer que não era minha intenção fazer ela ficar com raiva. Mas achei melhor deixá-la ir.

Entrei no carro e fui para casa. Peguei um moletom e voltei para a cafeteria.

Antes de sair do carro respirei fundo e fechei os olhos. Eu disse para mim mesmo esquecer a Elisa. Não precisava ficar preocupado com ela.

Nunca mais a veria mesmo. Né?

O amor (não) existeOnde histórias criam vida. Descubra agora