Não queria ter falado para o Lucas sobre o meu último relacionamento, mas me senti mais leve ao conversar com alguém sobre isso.
Só conhecia o Lucas há dois dias, não simpatizei muito com ele quando nos conhecemos e ainda tinha dificuldades em simpatizar, mas sabia que eu podia confiar nele e que ele não falaria para ninguém sobre a nossa conversa.
E também sabia que ele estaria do meu lado se eu precisasse. O que era estranho, porque eu não fui a pessoa mais gentil com ele nos últimos dias.
Chegamos na cafeteria, mas estava muito antes da hora de abrir, então o nosso chefe deixou a gente ficar de bobeira.
Eu sentei em um dos banquinhos altos do balcão e Lucas foi direto para parte de trás.
- O que você quer para o café da manhã? – Ele perguntou, parando na minha frente, com as mãos no balcão enquanto eu estava com o queixo apoiado na mão direita e a outra dobrada perto de mim.
- Que!?
- Eu vi que você saiu de casa sem café da manhã e não estou a fim de te carregar desmaiada até o hospital por falta de glicose no sangue. Então, o que você vai querer?
- Umm... que tal o meu preferido? Milk-shake de Ovomaltine com Nutella nas paredes do copo, chantilly e morango no topo!
- Uau! – Ele disse, levantando as sobrancelhas surpreso e se afastando do balcão para fazer o meu pedido.
- O que você quis dizer com "uau"? – Eu perguntei, franzindo a testa.
- Nada! É só que, sei lá, para alguém tão amargo igual você eu esperava um negócio menos diabético.
- Eu não sou amarga! – Falei, fingindo estar ofendida.
Ele olhou para mim e levantou as sobrancelhas como se perguntasse "tem certeza?".
- Ok! Ok! Você é uma exceção, o único que vê esse lado meu! – Eu disse em tom sarcástico.
- Uau! Me sinto lisonjeado! É uma honra ver o seu lado secreto!
Então voltamos a ficar em silêncio. Ele concentrado em fazer o meu café da manhã e eu o assistindo como se fosse a coisa mais interessante do mundo, embora estivesse entediada.
Depois de um tempo, com Lucas ainda de costas para mim, fazendo o meu milk-shake, eu perguntei:
- Você está fazendo isso porque está com dó de mim, né?
- Você não precisa da minha piedade, Lisa. – Ele disse colocando a bebida na minha frente, do jeitinho que eu pedi.
Dei meu primeiro gole e sorri com o sabor. Não tinha percebido que estava com fome até eu ver o copo na minha frente.
Lucas riu com a minha reação e começou a arrumar o que tinha bagunçado, porque estava quase na hora de abrir.
Terminei meu milk-shake, dei o copo para o Lucas lavar e fui virar a plaquinha de "fechado" para "aberto", já que estava na hora de abrir.
No momento em que cheguei atrás do balcão e vesti o avental, a porta abriu, com o sino tocando, anunciando a chegada de alguém, e quando virei eu não acreditei em quem vi.
Minhas melhores amigas, Dayana e Vitória, olhando para mim, com os maiores sorrisos que já vi.
Fui correndo até elas e nós três nos abraçamos. Fazia tempo que eu não as via, e quando elas me abraçaram me senti em casa depois de um longo e cansativo tempo longe.
As duas sempre foram mais altas do que eu, então sempre tive o conforto de ser "submersa" por elas quando a gente se abraçava e isso sempre me fez sentir bem, porque sabia que, se precisasse, elas sempre estariam do meu lado.
Quando nos afastamos, consegui ver como elas estavam. Dayana tinha deixado o cabelo crescer e estava maior do que da última vez que nos vimos. Seus cachos castanhos estavam caindo pelas costas até a cintura. Sua pele morena destacando os seus olhos verdes e seus lábios foram realçados com o batom que usava, a deixando mais parecida com uma modelo do que nunca. Já Vitória tinha cortado o cabelo, o deixando na altura dos ombros e parecia estar mais preto do que quando a vi pela última vez, o que deixava sua pele um pouco mais pálida, mas combinando perfeitamente com ela. Seus olhos castanhos foram realçados com um delineado que ela sempre costumava fazer.
Depois de um tempo, Vitória perguntou:
- Lisa, não vai fazer um tour para a gente pelo seu novo local de trabalho?
- Ah! Claro! Vem!
Eu peguei as duas pela mão e as guiei até o balcão. Elas se sentaram nos banquinhos, uma do lado da outra, e eu fui para o outro lado.
- Bom, é aqui que eu trabalho, na verdade. Eu fico aqui, fazendo café o dia inteiro.
Quando terminei de falar, Lucas saiu de uma porta que dava para a cozinha, onde eles faziam os bolos e outras coisas do tipo, e foi para o meu lado.
- Bom dia, meninas! Já fizeram os pedidos? – Ele perguntou.
- Não! – As duas falaram em uníssono.
- Ok! Aparentemente, vocês são amigas da Lisa, né? Então eu faço o pedido de vocês, e a Lisa pode ficar aqui conversando.
Eu concordei com a cabeça, ele pegou os pedidos das meninas e foi fazer as bebidas que elas pediram.
- Quando você ia falar para a gente que você está trabalhando com um gatinho desse? – A Dayana cochichou só para eu e a Vitória escutar.
- Que!? O Lucas? Ha! – Eu falei sem acreditar no modo como minha amiga se referiu a ele.
- Aaa! 'Vamo' lá. Ele é bonitinho, vocês passam o dia inteiro juntos, vocês parecem ter um nível de intimidade. Chama ele para sair! – Sugeriu a Vitória enquanto a Dayana concordava com a cabeça.
Antes que eu tivesse a oportunidade de responder, o Lucas apareceu com as bebidas.
- Um milk-shake de morango para a... – Ele indicou para a Dayana continuar com o nome dela.
- Dayana. Obrigada! – Ela agradeceu com um sorriso largo.
- E um latte simples para a... – Ele fez o mesmo com a Vitória.
- Vitória. Obrigada!
- Uhum. Então, Lisa, quando você ia me falar que tem duas amigas lindas? – Ele disse colocando o braço envolta dos meus ombros.
- Se eu soubesse que você ia dar em cima delas, nem deixaria elas entrarem! – Eu falei empurrando ele para longe, para tirar o braço dos meus ombros.
- Aww! 'Tá' com ciúmes, gatinha? Fica tranquila. Já te falei, sou todo seu! – Ele disse, se aproximando do meu ouvido e deixando um beijinho na minha bochecha.
Ousado!
- Ha! Ha! Eu nunca teria ciúmes de você! – Eu disse, limpando a minha bochecha, exageradamente, com as costas da mão.
Só quando o Lucas saiu de perto percebi que as minhas amigas estavam olhando para mim, com sorrisos largos e olhinhos brilhando de esperança.
Desde quando o Gustavo me traiu elas tentavam me convencer a sair com outros caras, mas sempre recusei a oferta.
As meninas foram se levantando, e, antes de irem embora, me deram um abraço.
Antes da Vitória me soltar para ir embora, ela cochichou no meu ouvido:
- Pensa no que eu te disse! Ele realmente parece um cara legal, e ele claramente gosta de você. Dá para ver pelo modo como ele te olha e te trata!
Ela se afastou e eu revirei os olhos para ela.
O dia foi ocupado, mas passou rápido, então não pensei nas ações do Lucas.
No final do dia só queria ir para casa e me jogar na cama.
Mas, enquanto eu fechava a cafeteria, só conseguia escutar a voz da minha melhor amiga falando "ele claramente gosta de você. Dá para ver pelo modo como ele te olha e te trata!".
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O amor (não) existe
RomanceDuas pessoas podem verdadeiramente se amar? Elisa acredita que não, e acha impossível algo ou alguém mudar seu pensamento. Até que ela conhece Lucas que a mostrará o amor verdadeiro.