Não sei o que aconteceu comigo. Vi Gustavo se aproximando de Elisa e acho que perdi o controle. Não queria assustá-la, muito menos que ela ficasse chateada comigo.
Quando vi Lisa se afastando de mim e indo em direção do carro, me senti um grande idiota. Eu queria que ela aproveitasse esse dia, mas acabou que eu estraguei tudo.
Decidi ir junto com ela para o carro, assim eu podia tentar consertar as coisas.
Entramos no carro em silêncio e ela encostou a cabeça na janela, olhando para o lado de fora, enquanto chacoalhava a perna, num movimento nervoso.
Eu comecei a dirigir para voltarmos para casa e tentei pensar em alguma coisa para falar ou fazer para ela se acalmar. Enquanto eu dirigia me lembrei da primeira vez que eu achei que tinha estragado tudo.
Então liguei uma música e, concidentemente, começou a tocar "Don't blame me" da Taylor Swift. Tentei não ser muito brusco, então estiquei meu braço devagar e segurei a coxa dela, fazendo com que ela parasse de balançar o pé.
Ela olhou para a minha mão em sua perna e depois para mim. Eu dei um sorriso simpático para ela e, enquanto fazia movimentos de vai e vem com o meu polegar em sua coxa, disse:
- Desculpa!
Elisa esticou a mão e segurou a minha que estava tentando acalmá-la, dando um aperto e falou:
- 'Tá' tudo bem, Lucas! Você não tem que pedir desculpa. A culpa de tudo aquilo não foi sua. Só 'tô' um pouco irritada ainda com as coisas que o Gustavo falou, mas eu 'tô' bem. Eu prometo!
Concordei com a cabeça e continuei dirigindo, com as nossas mãos dadas ainda em sua coxa.
Quando estacionei o carro na garagem da minha casa começou a chover e logo lembrei de uma conversa que tive com Lisa sobre seu sonho de dançar na chuva e achei que era uma ótima oportunidade para fazê-la esquecer seu ex-namorado e realizar seu sonho.
Então coloquei a "nossa música", "Dandelions" da Ruth B., aumentei no máximo, saí do carro e abri sua porta estendendo minha mão para ela segurar.
- Me concede essa dança, Aurora?
O sorriso que vi em seu rosto era o maior e mais brilhante que já tinha visto e quando ela segurou minha mão e eu a puxei para fora do carro, a risada que ouvi sair de sua boca foi um som que com certeza eu queria ouvir mais vezes, talvez estava até viciado em sua risada.
A minha rua era bem tranquila e com a chuva nenhum carro passava por lá, então a puxei para o meio da rua, onde ainda conseguíamos escutar a música tocando no carro e começamos a dançar, minhas mãos em sua cintura e seus braços envolta dos meus ombros.
Era a dança mais desajeitada que eu vi em toda a minha vida, mas era nossa.
Ela ria e eu não conseguia conter o sorriso com seu entusiasmo. Íamos de um lado para o outro, eu girava ela, às vezes afundava ela nos meus braços e ela jogava a cabeça para trás fazendo com que seu cabelo tocasse brevemente as poças de água que tinham no cimento.
Quando a música estava chegando no final, nós só ficamos abraçados debaixo da chuva, no meio da rua, esperando pelo fim do nosso momento especial. Até que Elisa levantou a cabeça do meu peito e ficou olhando no fundo dos meus olhos e eu, nos dela.
Naquele exato momento o mundo pareceu parar de girar e ser só nós dois contra todos.
Então começou a tocar "In Luv with U" do Finn e achei que aquela era a hora perfeita para fazer o que eu venho querendo fazer.
- Lisa – Eu disse, segurando uma de suas bochechas com uma de minhas mãos e a outra em sua cintura – Quando eu derrubei o café em você, quando nos conhecemos, eu não estava com pressa. Eu... eu simplesmente te vi vindo em minha direção e te achei a mulher mais linda que já tinha visto em toda a minha vida e eu... eu travei. – Eu dei uma risada nervosa e ela respondeu com um sorriso, como se me incentivasse a continuar falando – Todos os dias em que passamos juntos eu guardei em meu coração, os fazendo meus tesouros secretos. Todos os momentos em que compartilhamos... tudo, tudo eu guardei comigo e eu vou continuar guardando. Quantas noites eu já não sonhei com você, quantas noites eu acordei querendo te achar dormindo pacificamente do meu lado, na minha casa, na minha cama. As últimas noites em que dormimos juntos... eu... partiu o meu coração saber que você só me vê como seu amigo ou, sei lá, talvez ainda me veja só como o garoto que derramou o café por toda a sua blusa, mas...
- Lucas – Ela disse, acariciando o meu cabelo, agora molhado da chuva – Eu já te perdoei do negócio do café.
- Uhumm – Eu disse concordando com a cabeça, nervoso. Naquela hora a música já tinha mudado e estava tocando "Golden hour" do JVKE – Eu... o que eu 'tô' tentando dizer é que eu... eu 'tô' apaixonado por você, Lisa.
Com as últimas palavras, Lisa ficou me olhando surpresa, mas com um certo brilho em seus olhos. Depois de um tempo ela começou a se inclinar para frente até que...
Bem quando a batida da música caiu, nossos lábios se encostaram.
Tudo parecia uma cena de um filme. A chuva, a música, o beijo.
Nossos lábios se movimentavam em sintonia como se fôssemos feitos um para o outro. Como peças de um quebra-cabeça se encaixando, montando a imagem final.
Meus braços a envolviam com proteção e minha mão direita se emaranhava entre seus cabelos curtos, enquanto uma mão de Elisa se perdia nos meus fios pretos e a outra apertava o meu ombro.
Ela tinha gosto de chuva com chocolate e um pouco das frutas que tinham na sua panqueca do café da manhã. Seus lábios eram macios e suaves e diziam palavras que ela nunca ousou me falar.
Não queria que aquele momento acabasse, mas estávamos encharcados e eu sentia Lisa tremer em meus braços.
Nós nos afastamos, só o suficiente para ela apoiar sua testa contra a minha. Elisa deu um sorriso e disse:
- Eu também 'tô' apaixonada por você, Lucas!
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O amor (não) existe
RomansaDuas pessoas podem verdadeiramente se amar? Elisa acredita que não, e acha impossível algo ou alguém mudar seu pensamento. Até que ela conhece Lucas que a mostrará o amor verdadeiro.