Prólogo - Conto de Fadas (Fairytale)

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                                               Inglaterra, Era Vitoriana 

 Meu pai sempre me contava uma história quando eu era criança a ouvia atentamente como um conto de fadas, quando era um pouco mais velho a ouvia sem entender por que ainda me contava essa história de dormir. Eu pensava que era um hábito, um modo de nós dois estarmos juntos, quando me tornei um jovem com 16 anos fui mandado a um internato para garotos, recebi uma única carta vinda do meu pai, nela estava escrito em tinta preta com sua letra bem estruturada o mesmo conto. Então sentindo falta de meu lar eu a li em voz alta na solidão do meu dormitório a luz de uma vela.

"Existia uma família dona de terras milenares, esta era a mais fértil todo tipo de semente germinava naquele solo, não importava o clima ou estação do ano. Um dia um dos jovens recebeu algumas sementes e as plantou no final do jardim, delas em poucos dias cresceram os mais belos carvalhos, quando o sol os tocava suas folhas radiavam a luz, davam beleza e sombra, se tornou um costume fazer piqueniques abaixo deles ouvindo o vento  e os pássaros a cantar.

 Os tempos simples no campo passaram, o tempo pedia mudança na vida pacata daquela feliz família, a todo custo nobres queriam suas terras. Para que não as perdesse aquele que deu vida as árvores teve que tomar uma decisão. Chamou um de seus irmãos e serraram um dos carvalhos, ele possuía a madeira mais bonita que já virá, não era de um carvalho comum a madeira era forte, de um marrom escuro avermelhado. Com seu dom para arte esculpiu o tronco durante dois meses o transformando em uma alta estante de livros decorada por rosas, folhas e espinhos. Quando recebeu novamente os infelizes visitantes mostrou seu trabalho, um dos homens nobres se encantou e pediu que estipulasse seu preço, o jovem pediu que os deixassem viver em paz. Assim foi e sua vida seguia, até ser convocado ao reino lhe pediam uma encomenda, uma nova peça feita por ele e que receberia muito ouro e prata. O segundo carvalho foi cortado e trabalhado em um piano grandioso, com faces de anjos e flores.

 A fama do artista corria pelos reinos, seu nome era conhecido e agora era rico, tinha título de nobre e sua pacata casa se tornava um casarão luxuoso, mas ele só tinha mais um carvalho e não devia cortá-lo, dele pegou galhos e os transformou em mudas e mandou que cada um de seus familiares plantasse uma, a terra os fez crescer em menos de um mês. Existia magia ali era o segredo deles.

 O jovem homem foi cortar seu quarto carvalho sozinho, pegou seu serrote e caminhou ao fundo do jardim o dia estava nublado e fazia frio, chegando no corredor de árvores andou por ele e escolheu a maior, enfiou os dentes da ferramenta nela e algo liquido começou a sair de seu tronco, passou sua mão que ficou tomada por sangue, apavorado gritou e se afastou. Das sombras das árvores um ser surgiu, parecia com um homem porém gigante de pele verde pálida, longos cabelos escuros, olhos negros e asas como de uma fada, aquela criatura se aproximava enquanto o seu corpo paralisado não se mexia. Com uma voz não humana ela falava:

 — Demos a tu um belo presente mas nos traiu, matou meus filhos pelo luxo. Deves a mim um filho seu. Cada nova geração sua deverá o mesmo, seu primeiro filho. Esse será nosso pacto, meu preço por sua ingratidão. — o grande ser levantou voo com suas asas.

 O mortal olhava ao redor aterrorizado não tinha mais sangue só confusão em sua mente. Passou-se alguns meses e sofrendo cobranças voltou a cortar a madeira, como nada o castigava continuou a fazer o mesmo por anos e anos. 

 Já havia se passado 20 anos desde tudo, a noite anunciava o choro de uma criança, seu primeiro filho nascia. Todos festejavam mas ele sentia medo, pegou nos braços pela primeira vez o recém-nascido, uma menininha com traços que lembravam sua queria esposa.

 A noite avançou a mulher exausta dormia na cama, a criança nos braços do homem também e o vento forte batia contra as janelas, olhou afora avistou uma grande sombra, o homem verde. Lágrimas caiam sobre a pequena, levantou-se e foi a caminho de seu destino, atravessou a porta da varanda e andou até a gigante criatura que estendia sua grande mão magra de dedos longos a ele, entregou o bebê e com o vento o ser desapareceu. A feliz família se tornou amaldiçoada pelas forças da natureza."

 Com a atmosfera do quarto a história se tornava ainda mais assustadora, guardei a carta em uma gaveta da mesa de cabeceira, apaguei a vela e fui dormir.

 Quatro longos anos se passaram e eu retornava a casa de meus pais, chegando lá fui muito bem recebido por todos e apresentado a uma bela jovem de cabelos cor de fogo e olhos verdes. Conversamos por horas no jardim, ambos sabiam o que nossos pais estavam tramando, um casamento de negócios ela era filha de um dono de fábrica moveleira de Londres e nossa família produtores de madeira, a aliança perfeita. O casamento foi firmado pelas famílias e aconteceria breve.

 Nevava era dezembro, estava em pé no altar esperando minha futura noiva, sem atrasos ela surgiu usando um longo véu de laço e fitas branco que cobria seu rosto e boa parte do vestido cor pérola, conseguia ver que sorria e eu fazia o mesmo, nunca estive tão feliz como estava naquele dia. A cerimônia foi feita e da capela fomos a nossa futura morava, o casarão de meu pai. Nosso casamento mantinha-se muito agradável e alegre. Próximo do ano novo uma notícia me fez muito triste, o falecimento de meu querido pai. Passei alguns meses cabisbaixo, devia viver com a dor da perda e a difícil vida de negócios, após dois anos difíceis me tornei um homem de respeito como devia ser e logo seria pai.

 Com o início da primavera nosso solzinho nasceu, um garotinho lindo e muito esperto como estávamos felizes, minha mãe não largava de seu neto e eu paparicava minha esposa e filho. Todavia algo estranho ocorria lá fora, os trabalhadores do corte de madeira estavam desaparecendo sem motivo, nem mesmo suas famílias sabiam o que ocorria. Em uma noite limpa e fresca resolvi caminhar pelo jardim para colocar os pensamentos no lugar e senti ser observado, gritei ao vento que o sujeito aparecesse e uma grande sombra se formou diante de mim. Eu não podia acreditar no que via era a criatura dos contos, eu me negava a olhar ela e a acreditar que a historia podia ser real. Com seus olhos negros me encarava.

 — Se passaram dois meses e seu filho continua em seus braços enquanto seus homens estão se tornando pinheiros. — a criatura apontava em direção do bosque que parecia estar mais perto, repleto por novas árvores que pareciam mais grossas e seus galhos lembravam mãos.

 — Não, você não é real! — eu chorava como uma criança, eu sabia o que eu devia fazer mas não podia aceitar. — Tem que ter outra maneira!

 — Um pacto foi feito. — ele estendia as grandes mãos que pareciam finos galhos. — Me de a criança e devolverei os homens a suas famílias.

 Corri para dentro da grande casa em desespero subindo pelas escadas e tirei meu filho do berço, o menino acordou e começou a chorar acordando sua mãe que gritava que eu o soltasse e me acalmasse. Ela se colocou em minha frente e a empurrei, ela gritava tão alto e o choro ecoava, minha cabeça explodiria. "Eu devia deixar pobres famílias sem seus homens? Todavia como podia tirar um filho de sua mãe e entregá-lo a uma criatura? O meu filho!" Eu corria em sentido do ser que estava próximo ao casarão, senti um impacto nas costas e sangue escorrer, olhei para trás e vi minha amada segurando uma pistola, ela havia atirado em mim. Caído de joelhos estendo os braços a ela entregando a criança e pedindo perdão. O homem verde gritava furioso.

 — Sangue derramado, solo amaldiçoado. — grunhia o monstro — o solo se tornava movediço e engolia meu corpo.

 O céu havia escurecido, seres aladas surgiam por todos os lados e sussurravam em meio aos gritos.

 — Sangue derramado.

 — Sangue sobre sangue.

 — As noites são longas.

 — Os dias não acabam.

  Como um enxame de abelhas as pequenas criaturas aladas voavam ao redor da jovem mãe a atacando e tentando tirar seu filho, mesmo pequenas eram fortes. A mulher lutava contra elas mesmo assim conseguem vence-la arrancando o garotinho de sua proteção o levando até o gigante que se junta a revoada e some em meio o topo das árvores. 

O Bosque dos Esquecidos (The Woods of the Forgotten)Onde histórias criam vida. Descubra agora