Capítulo - 12 - Poeira ao vento (Dust in the Wind)

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 *Edit: nome do cap.* Capítulo editado após a saída da caverna, releiam. Desculpe pela mudança mas foi necessária para ficar ainda melhor.* 

 Juntos nos movemos com passos curtos e silenciosos fazendo o possível para não chamar atenção das feras que procuram por nós com bastante vontade, seus corpos grandes e gordos espalham poeira, a besta mais aproximada balança as antenas atentas a qualquer som ou movimento, sei que ela pode nos sentir, a coisa abeirada se movimenta em nosso entorno, sinto gotículas quentes de saliva tocarem meu rosto. Esperamos imóveis o enorme mostro se distanciar mas a criatura faz o inverso e fica a pouquíssimos centímetros de Violet, a jovem prende a respiração e se encolhe tentando desviar das longas antenas do bicho que fica ereta se apoiando em suas patas dianteiras no solo movediço, o chão começa a se romper com seu peso, ele se divide em uma nova fenda que faz a garota ser afastada me puxando, a seguro com força tentando trazê-la para perto esticando o braço no máximo.

 — Não solte! — falo a franzina que luta para segurar minha mão.

 A divisão acaba distanciando cada vez mais até nossas mãos serem separadas, assim a invisibilidade é quebrada voltando a ser visível chamando a atenção dos colossos para si. Dag vê a situação entra em completo desespero, desfaz sua proteção saindo correndo desajeitado até a beirada rachada, deita no chão estendendo seu corpo com esperança de alcançar sua amada longínqua cercada por feras, seus olhos estão vidrados no rosto aflito.

 — Violet! — grita por seu nome a garota estica o corpo tentando segurar a mão estendida do rapaz.

 Uma das agressivas bestas joga sua calda em direção do rebelde, ágil desvia levando o impacto de raspão, uma das pequenas e asquerosas pernas do animal arranham seu punho, a monstruosidade se prepara para atacar a moça. O punk levanta, se colocando em perigo salta caindo por cima do corpo duro da criatura agitada, a escala com dificuldade até chegar a cabeça do bicho, retira de sua bota de couro sua pequena lâmina, o sangue do aranhão escorre banhando a faca de seu canivete que fica completamente escarlate e como um truque de mágica o objeto dobra de tamanho se transformando em uma espada de corpo fino e ponta afiada, ele percebe e sem perder tempo coloca-se de pé levantando a espada com suas duas mãos rígidas dá um golpe rápido no pescoço da lacraia que perde o controle, coloca seu peso sobre a espada perfurando mais fundo fazendo a lâmina atravessá-lo separando a cabeça do resto do corpo do monstro.

 O jovem pula para o pedaço de terra a frente enquanto o cadáver da mostrenga desaba abaixo acertando as duas outras que são carregadas junto a ele para baixo afundando no solo que desmorona, Dag observa espantado o acontecimento e a pesada espada em sua mão esquerda, prende o objeto em seu sinto de spikes toma a mão de sua namorada, o solo treme, confiantes se impulsionam e pulam pela larga lacuna conseguindo se juntar a mim.

 O chão abaixo de nossos pés está ruindo, fugimos da terra seca que afunda engolindo tudo em seu caminho como uma avalanche, diante do pandemônio Dag e Violet correm lado a lado de mãos dadas e sorrisos brilhantes, enxergo não muito distante a caverna, sem olhar para trás e sem mudar o ritmo disparamos em direção da entrada de rochas, chego por primeiro, observo o corajoso casal se esforçando para escapar de uma gigantesca onda escura, correm por mais alguns metros e se lançam para dentro do abrigo, a avalanche cessa e a poeira começa a abaixar deixando visível uma planície de nada, não há mais solo estamos acima de um infinito abismo.

 Respiramos atenuados, encosto meu corpo na parede rochosa gelada, o interior da caverna é escuro e úmido, o rapaz sentado encara sua mão antes ferida e sangrenta.

 — O meu sangue transformou a faca em uma espada. — dialoga procurando uma maneira de entender o que foi capaz de fazer.

 — Foi valente como um guerreiro. — a jovem beija delicadamente sua boca.

 — Sabe que daria minha vida por você Violet. — pousa a mão em seu rosto branco.

 — Eu sei. — abaixa seus olhos escuros com ar triste. — se levanta e anda em minha direção, tira de um bolso interno da cintura do vestido azul surrado a semente castanha. — Deve ficar com você.

 Olho o grão em minha mão, a fecho.

 — Protegerei ele, logo estaremos longe daqui. — o guardo comigo.

 — Então o que está esperando? — Dag se levanta em um pulo.

 Iniciamos a caminhada pela caverna que se assemelha a um túnel oval de bico alto, avançamos pela escuridão que desvanece aos poucos perante o brilha dos cristais multicoloridos fixos nas rochas que preenchem do chão ao teto, fico encantada. Possuem diversos tamanhos de pequenos pontos brilhosos a altos cristais maiores que nós e ainda outros gigantes de copos largos que tocam o limite da caverna, se tornam obstáculos no caminho que precisamos muitas vezes desviar, chegamos a um ponto repleto por eles, azuis como o céu em volta da passagem circular se cruzam bloqueando ela como uma grade. Me espremo sobre um vão entre alguns deles com muito empenho consigo cruzar o acesso, logo em seguida Violet se coloca no espaço estreito o passando com facilidade por ser mais magra e menor que eu, já o rapaz encara o local sabendo que não conseguirá passar, seu corpo é esguio mais de surpreendente altura.

 — Tente. — fala a moça com um leve sorriso.

 — Não vou conseguir. — responde ríspido.

 — Sem ao menos tentar não vai mesmo. — uso uma provocação para motivá-lo. — ele me olha com seu olhar frio.

 — Se eu ficar preso vão ter que achar um jeito de me tirar daqui. — tira a espada de seu cinto e a arremessa pela fresta. — se aproxima.

 Estica os dois braços passando a fresta, então passa sua cabeça e tronco, se segura em um cristal e força o resto de seu corpo conseguindo se jogar para o outro lado faltando somente seus pés, os puxa e fica completamente fora da estreita fresta. Ajudamos o rebelde a ficar em pé.

 — Nem foi tão difícil. — debocho e volto a seguir em frente, escuto um risinho de Violet e um resmungo de Dag.

 O resto da caminhada é tranquila vemos o final da gruta, aligeiramos chegando na saída, está amanhecendo, lá fora à vegetação morta, grama negra como se tivesse sigo queimada junto a outras plantas e flores. Ao fundo o imenso paredão rochoso, nosso novo desafio. "Como subiremos?" Pisamos sobre o solo esmarrido indo em sentido da parede, coloco minhas mãos firmes nela me elevando, procuro espaço para alocar meus pés, escalo poucos metros logo deslizo, tento mais uma vez, o punk faz o mesmo conseguindo me ultrapassar mas também acaba perdendo altura deslizando voltando abaixo, desisto, Dag insiste mais vezes até render-se exausto. Parados fitamos a estrutura calados imaginando maneiras de vencê-la.

 Um assustador uivo é ouvido me viro e olho em direção da caverna, rajadas de vento saem de sua boca parecendo gritos abafados, os ventos ficam mais intensos vindo até nós batendo em nossos corpos e no rochedo, trazem destroços, pedaços de galhos, raízes, folhas secas e muita terra, protegemos nossos olhos com nossas mãos e braços, com visão turva noto acima da gruta uma obscuridade surgir um gigantesco redemoinho que rodopia feroz crescendo.

 Se aproxima vagaroso aspirando o que pode, fazendo que tudo se torne uma parte dele, não temos escapatória diante do ambiente amplo vazio, seguramos fortemente nas rochas lisas, a ventania caminha em nosso sentido levantando-nos do chão, meus dedos escorregam enquanto sou sugada pelo tormento, somos vencidos por sua força poderosa sendo arrastados para seu interior nebuloso giratório, totalmente descontrolado, me movo dentro de seu centro sentindo-me uma massa de bolo no liquidificador, sou elevada para o topo, em meio a loucura consigo captar imagens desfocadas da paisagem afora, o enorme tufão está prestes a se chocar contra o paredão.

 Fecho os olhos o redemoinho grandioso dá de encontro com o rochedo ficando enlouquecido enroscado nas grandes pedras, sua velocidade começa a aumentar e então se desfaz soltando a esmo tudo que o completava, rejeitados pela tormenta lançados ao vento em direção do bosque de pinheiros.

 Caio atingindo as copas das árvores de folhas espinhentas e então me choco com o solo, fico ali desorientada e tonta, sento e seguro minha cabeça dolorida procuro ao redor por meus companheiros, não os encontro.

— Pessoal? — tento gritar por eles. — Dag?! Violet?! Onde vocês estão? — sem respostas.

Cambaleante me coloco de pé, estou de volta ao bosque sussurrante novamente só, os sinistros sussurros me dão boas vindas. 

O Bosque dos Esquecidos (The Woods of the Forgotten)Onde histórias criam vida. Descubra agora