Capítulo - 1 - Casa Gregory (House Gregory)

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                      Inglaterra, Beaconsfield 20 de dezembro de 1984 

 Vejo pela janela de corpo estreito e largo os pequenos flocos de neve caírem sobre o solo de grama morta, um dia frio e triste este é o dia de meu aniversário desde que meu irmão foi adotado, já faz 4 anos que isso aconteceu e fiquei só no orfanato, quando ele estava aqui sempre alegrava meu dia e especialmente em meu aniversário se arriscava roubando alguma guloseima das irmãs ou me dando presentes inusitados, coisas que Philipe encontrava perdidas ou alguma coisa do jardim da antiga igreja vitoriana que abriga o orfanato.

 — Trouxe flores para você Elionor! — dizia ele com um sorriso canto a canto da boca segurando lírios murchos em suas pequenas mãos.

 — Olha só, de onde roubou eles dessa vez? — Philipe olhou para os lados e balançou a perna envergonhado.

 — Dos túmulos dos fundos do orfanato. Mas juro eu pedi permissão mas o homem do túmulo não me respondeu se eu podia pegar as flores e mesmo assim as peguei.

 Ainda lembro do abraço apertado que dei em meu querido irmão, foi meu último aniversário ao seu lado e um mês após um casal se encantaria com o garotinho loiro de 7 anos. Sempre que alguém chegava ao orfanato as freiras mandavam colocar nossa melhor roupa e fazer uma fila por ordem de idade e tamanho no grande salão principal, de um lado as garotas e do outro os garotos. Os mais jovens sempre tinham chances de receber um lar, mas eu com meus 14 anos na época não teria a mesma sorte. Assim um casal recém-chegados da Alemanha percorreram o meio das duas fileiras de órfãos e pararam em frente ao meu irmão, como sempre ele era educado, falante e muito encantador, era certo que seria adotado. Três dias depois as irmãs deram a noticia a nós.

 — Philipe lembra do casal alemão que conversou com você na segunda-feira? Eles serão seus novos pais! — Irmã Joli estava muito animada como sempre ficava em saber que uma das pobres crianças iria ganhar um lar. Meu jovem irmão também ficou extremamente alegre mas ao saber que somente ele seria levado pelo casal, tudo mudou.

 As 15h seus novos pais buscariam seu filho, Philipe não queria me largar e nem sair de nosso quarto, irmã Joli teve que chamar ajuda de Anne Lúcia a Madre Superior e eu tentei acalmar meu pequeno irmão enxugando suas lágrimas mesmo que as minhas ainda escorriam sobre meu rosto. A Madre irritada segurou Philipe pelos braços e o levou porta afora. Corri atrás mas fui impedida de descer então do topo das escadas os vi, a mulher jovem e bonita de cabelos escuros abraçava o garoto enquanto o homem sorria alegre e segurava a mala da criança. Agradeceram as irmãs e foram com o garotinho de olhos inchados e vermelhos para fora, voltei ao quarto e pela janela tive a última visão de meu irmão dentro de um carro azul-marinho partindo.

 Mas eu poderei encontrá-lo novamente a partir de hoje tenho 18 anos e não pertenço mais a este lugar, tiro meu pijama surrado e visto-me com minhas melhores roupas de frio, uma blusa de lã vermelha feita por uma das irmãs, por cima um macacão quentinho não esqueço de minhas meias longas e minhas botas. Paro em frente ao espelho penteio meus cabelos curtos castanhos, coloco uma touca, puxo do gancho meu longo casaco preto, estou pronta. Seguro minha pequena maleta com minhas coisas e vou de encontro com a Madre em seu escritório no terceiro andar. Bato na porta de madeira.

 — Entre. — diz ela. — entro na sala a Madre está sentada em sua mesa larga com muita papelada espalhada, me sento em sua frente em uma cadeira baixa. — Anne Lúcia me olha através de seus óculos de lentes grossas, separa alguns documentos e me entrega. — Aqui estão seus documentos, também histórico escolar fornecido pelo orfanato e uma carta de recomendação para que possa arranjar um trabalho rápido. Espero que tenha sorte em sua jornada. — seguro os documentos.

 — Obrigada, Madre. Posso pedir uma coisa? — desconfiada a mulher aperta os olhos e franze a testa.

 — Depende do que a senhorita quer, não abuse de minha boa vontade.

O Bosque dos Esquecidos (The Woods of the Forgotten)Onde histórias criam vida. Descubra agora