O rapaz me fita com seus olhos cinzentos e frisa a testa, fico estática por alguns minutos até conseguir que palavras saiam da minha boca.
— Dag? — falo titubeante.
Ele dá um leve sorriso que se apaga logo em seguida ao ver minha face preocupada.
— Ouvi gritos, há algo de errado, Elionor?
— Meu irmão fugiu, eu o vi desaparecer por este caminho. Preciso encontrá-lo. — Dag leva a mão esquerda ao meu ombro me reconfortando.
— Vamos encontrá-lo, confie em mim. — suspiro.
O punk se afasta por um momento estudando o território, olha a vegetação e então aponta para o meio entre duas árvores.
— Veja, o solo naquela região está amassado ele deve ter passado por lá. — anda em direção do local. — Rápido por aqui.
O sigo com passos apresados, o caminho é sombrio repleto por velhas árvores algumas já secas e sem vida, o rapaz continua atento em busca de novas pistas, para de repente em minha frente e se agacha afastando algumas folhas do solo com as mãos dando visão a uma trilha de pequenas pegadas na terra. Fica de pé e retorna sua procura estando a alguns metros a frente quebra o silêncio.
— Por que estava aqui com seu irmão? — pergunta.
— Meus pais estão enterrados neste cemitério. — o respondo e então o questiono. — E você? O que faz no Abney Park? — ele vira o rosto.
— Vim visitar o túmulo de Violet. — fico surpresa, o rapaz continua. — Consegui reencontrá-la, não foi como eu queria pois somos de épocas distintas, porém pude passar o resto de seus dias de vida estando por perto. Eu trabalhava como zelador no hospital em que ela estava internada. Já faz dois anos que ela se foi, desde então, todos os meses eu venho visitar seu leito onde sua família dedicou a frase "Amada mãe e esposa." — Dag fecha os olhos. — Preciso esquecer o passado e seguir em diante, mas é tão difícil e doloroso ser deixado para trás. — observo lágrimas escorrerem por seu queijo, o punk tenta disfarçar as enxugando e voltando a caminhar mais rápido.
— Eu sinto muito. — falo sem ter respostas.
Chegamos no final do grande cemitério um portão igual ao da entrada principal se encontra aberto, saímos por ele e ficamos em dúvida de qual direção da rua tomar.
— Tem ideia para onde ele poderia ir? — o jovem me questiona.
— Talvez para o orfanato, só que ele fica em Beaconsfield. — digo pensativa.
— Ele pode ter ido para a estação Stoke Newington! — o rapaz começa a correr rua acima.
O acompanho correndo logo atrás por duas quadras até a entrada de vidro da estação, adentramos ela ignorando o guichê de tickets. Apresados descendo pelas escadas em direção da linha que faz o início do trajeto para Beaconsfield, de longe avistamos filas prontas para entrar no trem amarelo e Philipe vestindo seu uniforme escolar escuro atravessando uma das portas. Tentamos nos aproximar e impedir que a locomotiva se vá, no que conseguimos alcançá-la suas portas elétricas se fecham e o trem se vai.
— Merda! — grito furiosa. — E se acontecer algo com ele? — comento aflita.
— O que fez ele fugir de você? Pareciam ser tão próximos. — Dag me questiona.
— Conflito entre mim e a sua mãe adotiva, ela quer eu longe dele, assim Philipe ouviu toda a nossa discussão e armou um plano para que ficássemos juntos e pudéssemos fugir. Eu neguei, como poderia fazer isso? Ele agora tem novos pais, eu poderia ser presa além que nem tenho onde morar. Meu irmão ficou bravo, disse que eu não o amava mais e então me deixou. — conto triste. — o rapaz me encara.
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O Bosque dos Esquecidos (The Woods of the Forgotten)
FantasyInglaterra 1984, uma jovem órfão completa seus esperados 18 anos para seguir a busca por seu irmão mais novo que foi adotado e afastado dela há 4 anos, mas seus planos mudam quando é engolida por um bosque de pinheiros que a leva a um estranho loca...