O bosque parece comum pinheiros altos por todos os lados igual ao que me lembro do dia nevado que me trouxe a casa Gregory, está silencioso o único som que escuto é nossa respiração, faz frio e é difícil saber o que encontrar adiante com o escuro e uma densa neblina, andamos no caminho estreito entre as árvores vejo os galhos baixos e sinto medo, lembro-me de como podem agarrar meu corpo como mãos humanas e me impedir de seguir em frente, passo a mão sobre o bolso da saia do vestido que parece estar vazio, paro e coloco a mão dentro em busca da meia com a mistura do jardineiro, ela sumiu. Dag para e me observar procurar por algo impaciente pergunta.
— Perdeu alguma coisa? — ele se encosta em um dos pinheiros próximos.
— Sim, uma coisa que Sr. Juan me deu para me proteger das árvores selvagens, estava em meu bolso deve ter caído quando você me empurro metros abaixo. — falo o acusando brava, ele me olha e se desencosta.
— Isso realmente funcionaria contra elas?
— Sim, já o vi usar. — vem em minha direção.
— Beleza me diz o que é que eu vou procurar. — o rapaz rasga uma tira de tecido de sua camiseta branca surrada, quebra um galho grosso de um pinheiro, enrola o pedaço de pano na madeira dando um nó firme, do bolso da jaqueta de couro retira um isqueiro prateado e ateia fogo, o galho em sua mão esquerda vira uma tocha que ilumina e traz calor ao nosso redor.
— Boa ideia. — digo vendo a tocha.
— Sempre em mãos um isqueiro. — ele pisca.
— Procure uma meia velha amarrada. — Dag ri.
— Certamente o cheiro dela deve afastar qualquer coisa e claro ajudará na busca. — tento segurar o riso mas não consigo. "Não é hora para brincadeiras mas por que o senhor me deu uma meia velha?" — o jovem se afasta retomando o caminho observo ele se distanciar acompanhando a chama dançante ficar cada vez mais longe.
A iluminação desaparece fico parada na trilha de pedras sozinha, me movo de um lado para o outro tentando me aquecer, devia ter trazido meu casaco. Contemplo a vista sombria do bosque noturno, os troncos finos dos pinheiros que ao longe lembram homens magros perdidos na nevoa, algo passa atrás de mim, seguro firme o sino em meu pescoço e olho em volta, novamente acontece de rasteio vejo uma sombra, sinto medo.
— Dag? É você? — silêncio. — Eu não estou gostando dessa brincadeira! — falo alto.
Percebo um pequeno ponto de luz se aproximar, um vaga-lume. O inseto pousa em meu braço, o levando e observo ele caminhar com suas patinhas e seu traseiro iluminado, não via um inseto como este a muitos anos fico inerte em nostalgia, sorrio. Ele para de se movimentar e fica estático na palma de minha mão, noto que algo escorre de seu diminuto corpo, gotas de sangue pingam em minha mão, assustada a balanço fazendo o bicho levantar voo brilhando na escuridão, fito o sangue no meio de minha palma, novas luminosidades minúsculas surgem mais vaga-lumes que voam em minha volta, uma nuvem de insetos, ficam cada vez mais perto balanço os braços tentando afastá-los, não funciona, alguns pousam em minha cabeça e corpo zunindo em meus ouvidos estão me consumindo como um enxame de abelhas, fecho os ouvidos e grito por ajuda.
Com o coturno jogo os galhos e ramos de pinheiro para os lados procurando o que Elionor deixou cair, me abaixo iluminando o chão em mais uma tentativa de encontrar tateio o solo e passo a mão por algo macio, seguro e o trago para perto, encontro a velha meia desfaço o nó e vejo seu interior composto por terra. "É com isso que aquele homem quer que destrua as criaturas?" O vento me traz o som de um grito, um pedido de ajuda reconheço a voz me levanto rápido e corro em direção do atalho, tento passar por meio as árvores mas não consigo o caminho está mais estreito que antes.
— Merda! — levo minha mão livre a minha bota e tiro meu canivete.
Golpeio com violência os galhos baixos dos pinheiros com a lâmina, fortes tenho dificuldade em quebrá-los, consigo levar ao chão alguns podendo me aprofundar na trilha mas o caminho todo está bloqueado pelas árvores espinhentas, ouço novamente a garota gritar me apreso lutando com os galhos que parecem fugir dos golpes e revidar.
Estou cercada por vaga-lumes não tenho para onde fugir, sento no solo e me encolho tentando me proteger, os bichos fazem cócegas asquerosas na minha pele. Escuto barulho de galhos se quebrando e logo em seguida alguém correndo, uma claridade me alcança. Os pirilampos começam a se espalhar e alguns caem mortos na terra, consigo ver o rebelde jovem balançando o fogo assustando os bichos voadores ele estende a mão, seguro firme e sou libertada da massa de insetos luminosos, os vaga-lumes desfazem a nuvem e tomam voo nas trevas. Chacoalho o corpo fazendo os pirilampos pendurados em minha roupa fugirem, Dag bagunça meu cabelo derrubando os últimos insetos dos meus fios de cabelo, me dá o facho de fogo, seguro, ele tira de seu corpo a jaqueta e coloca sobre meus ombros frios, pega novamente a chama.
— Está bem? — concordo que sim. — Encontrei. — aponta ofegante. — Dentro do bolso.
— Obrigada. — falo sem jeito.
— Vamos dar o fora daqui antes que voltem. — sem perguntas o rapaz punk volta a andar.
Minha mão ainda tem sangue incomodada a limpo no vestido, sigo o caminho que Dag abre com sua luz e sua lâmina afiada como se soubesse para onde devemos ir.
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O Bosque dos Esquecidos (The Woods of the Forgotten)
FantasiInglaterra 1984, uma jovem órfão completa seus esperados 18 anos para seguir a busca por seu irmão mais novo que foi adotado e afastado dela há 4 anos, mas seus planos mudam quando é engolida por um bosque de pinheiros que a leva a um estranho loca...