O Bosque dos Esquecidos (The Woods of the Forgotten)

Capítulo - 24 - Reencontro (Reencounter)

                                                          Londres, 1985

 Depois de uma hora de viagem desço na Edgware Road Station, percorro seu ambiente cinéreo, observo o fluxo de pessoas apresadas próximo do horário do almoço e o colorido das locomotivas se aproximando. Avanço até a plataforma três, ali fico a espera do próximo metro que me levará a South Kensington Station em Kensington, região próxima do meu destino. O trem vermelho e branco chega com seus vagões iluminados o adentro e me sento em um dos bancos laterais, permaneço dentro dele por mais 20 minutos. Escuto meu estômago roncar resolvo fazer uma pausa antes de seguir viagem, vou a um café fora da estação, bebo um chá gelado de menta e como um pão doce, sinto minha energia renovada pelo açúcar, pago o lanche com minhas últimas libras e continuo o percurso a pé.

  O dia está nublado e abafado, ando pelas ruas do centro de Kensinton repleto por conjuntos comerciais e residenciais, construções novas e antigas, pego um atalho por ruas mais estreitas de prédios baixos, paro em frente a uma igreja estilo gótico de torre alta e jardim verde onde flores recém-nascidas colorem a paisagem, caminho atravessando a grade baixa ao seu redor indo em direção da entrada estreita e alta da igreja, penetro seu interior andando pelo chão de pedras. Deslumbro a pintura de Cristo atrás do altar vazio e as escrituras ao seu lado e acima a gigante janela de vitrais de cores distintas e fortes retratando santos, nunca fui religiosa mesmo crescendo em um orfanato católico mas ali no silêncio faço o nome do pai e uma rápida prese por mim e meu querido irmão.

 Saio do lugar religioso e percorro mais uma quadra chegando na rua principal de Chelsea, a famosa King's Road. Ando pela calçada em meio a grande movimentação de pessoas com sacolas de compras, olho as vitrines das lojas de luxo e observo o trânsito caótico, avisto em meio a multidão um jovem de cabelos tingidos de loiro espetados, jaqueta de couro e coturnos pesados, corro até ele e seguro seu braço.

 — Dag? — ele que se vira mostrando ser outro punk entre tantos que percorrem a Kig's Road. — solto seu braço envergonhada enquanto o rapaz me encara. — Desculpe, achei que você era outra pessoa. — me afasto deixando o rebelde.

 Me encosto em uma parede de concreto com alguns cartazes, adesivos e pichações, levo a mão ao bolso da calça jeans e tiro o pedaço de papel amassado, o desdobro e tento ler as letras borradas, com dificuldade consigo distinguir o endereço que procuro. Deixo toda a agitação em sentido da zona residencial de Chelsea, percorro ruas de moradias ricas encontrando o meu destino, uma grandiosa mansão vitoriana que guarda um jardim maior ainda, a residência da família Berenberg.

 Cruzo o portal de pedras coberto por hera lembrando os altos muros que protegiam o Casarão Gregory, sigo pelo caminho de lajota cor de tijolo com detalhes florais, subo um pequeno lance de escadas que leva a entrada da grande casa coberta por um teto baixo de gesso branco. Seguro a aldraba dourada e bato ela contra a porta negra três vezes, escuto alguém se aproximar e destrancar a porta dupla, um homem alto de bigode com vestes de mordomo surge.

 — Senhorita, o que deseja? — pergunta cordialmente.

 — Busco por Sophie Berenberg. — respondo o homem que me olha dos pés a cabeça.

 — Os senhores não se encontram. Poderia deixar um recado ou voltar outra hora, talvez outro dia. — diz sério.

 — Sou irmã do garoto que adotaram, preciso ver ele.

 — Sinto muito, não será possível. — o mordomo fecha a porta na minha cara.

 — Ei! — grito batendo nela com as mãos.

 Cansada de tanto tentar chamar atenção de alguém me sento nas escadas, observo o céu ficar cada vez mais escuro e o ar mudar, ficar frio. Me encolho puxando as mangas do suéter de lã amarelo e permaneço ali esperando de olhos atentos qualquer carro que entre ou saia da mansão.