Capítulo 13 - Pesadelo (Nightmare)

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 Tudo está mais sombrio do que me lembrava, os pinheiros parecem estarem ainda mais próximos da estreita trilha, ando entre eles afastando seus galhos baixos, me sinto preocupada, perdida, todos os lados são exatamente iguais, estou longe de Dag o único que conhece bem este lugar.

 Tento me movimentar com cuidado para não atrair nenhuma criatura seguindo reto, minha respiração começa a ficar acelerada decorrente da sensação de ser mais uma vez observada, olho em volta árvores e mais árvores, não vejo nenhuma sombra. Continuo desta vez mais depressa passando pela paisagem imutável, paro, me deparo com um bloqueio de troncos largos que anunciam o fim da trilha, dou um passo atrás e trombo contra algo sólido, me viro e percebo outro tronco, o encaro confusa. "Ele não estava ali antes? Estava?" corro em direção de um caminho livre, noto um vulto, meu corpo estremece, sigo rapidamente sem olhar para trás.

 Diante do novo atalho mais espaçoso respiro aliviada me recuperando do susto, vago sem direção, percebo movimentações estranhas os pinheiros parecem deslizar mudando de lugar o acesso largo começa a se afunilar, sinto pânico, prossigo em meio as árvores que ficam mais próximas como paredes prestes a me esmagar, fujo do ambiente claustrofobia, os galhos me cercam bloqueando minha passagem luto contra eles que me prendem como uma grande gaiola, meu corpo é tomado por mãos de madeira que rasgam minha pele, o desespero é maior que a dor, tento vencê-las me debatendo, meu sangue escorre e pinga, os troncos me imprensam colocando uma grande força sobre mim impedindo-me de escapar, grito ao vento e os sussurros fazem o mesmo, gritam de dor, agonia e medo. Me rendo ficando ali presa quase sem forças.

 — Estão este é o fim? — converso com o bosque e suas vozes. — Serei um de vocês? — sussurro.

 Fecho os olhos com força, o vento assopra meu rosto, o mesmo responde minhas perguntas.

 — Elionor! — ouço gritos agudos chamarem meu nome.

 — Eli, Eli, Eli! — mais chamados.

 — Abra os olhos! — pedidos desesperados.

 — Não desista, Elionor! — um incentivo de um estranho.

 — Não termine como nós! — o forte grito dos homens presos.

 Abro as pestanas e levanto a cabeça, gotas de chuva caem em minha face, molham meu corpo dolorido e machucado, abro a boca bebendo daquela água, engulo, observo as garras de galhos fixas em meus braços, tronco e pernas. Tento me mover, meu braço está muito apertado o empurro para baixo levando minha mão ao meu bolso, gemo de dor, as folhas picam minha pele como unhas afiadas, os sussurros e gritos continuam a clamar por mim, tateio o tecido em busca da abertura do bolso, enfim o encontro, sinto com a ponta dos dedos a meia de Sr. Juan, alcanço conseguindo segurá-la por um fio descosturado, tomo cuidado a tirando do bolso mas ela cai no chão de barro encharcado.

 — Não! — berro aos pratos. — Não, não. — choramingo.

 Uma luz abrange o solo brilhante e prateada se expande rapidamente e sobe pelas árvores altas, a força sobre meu corpo cede, sou liberta das diversas mãos, observo meus braços e pernas feridos se cicatrizarem, os pinheiros secos voltam a ter vida e outros retornam a ser o que eram antes da corrupção pessoas, homens, mulheres e até mesmo crianças caem desacordados no barro. Os lenhadores e suas famílias que vieram a sua busca e nunca retornaram, fito um garotinho pequeno e frágil de cabelos loiros que recordam meu irmão, me agacho e toco em seu rosto quente de bochechas grandes rosadas, ele não se move, respira tranquilo em seu sono profundo.

 Vagarosamente me ergo contemplando todos aqueles corpos caídos que imploravam por ajuda, os libertei do feitiço e agora farei o mesmo quebrando a maldição, lembro-me da semente e a procuro, por sorte ainda está comigo, volto a caminhar desviando das pessoas inconscientes.

O Bosque dos Esquecidos (The Woods of the Forgotten)Onde histórias criam vida. Descubra agora