O Bosque dos Esquecidos (The Woods of the Forgotten)

Capítulo 9 - Anel de Fada (Fairy Ring)

 Estou dentro de um recipiente de vidro, de cima cai neve deixando tudo ao meu redor branco, meus olhos doem com a brancura, estou sendo engolida pelos grossos flocos que caem como areia sobre mim. Com dificuldade ando até a parede de vidro e bato com as mãos, grito por ajuda, o interior arredondado e estreito se enche cada vez mais me deixando somente com o torso a mostra, uma grande sombra paira o ambiente, aperto os olhos na nevasca e fito a face que reconheço, o rosto de meu irmão Philipe, o pequeno garoto está do tamanho de um gigante, se aproxima de minha prisão e me observa com seus olhos azuis, estico os braços.

 — Socorro! Philipe me ajude! — peço por ajuda, ele não se move, continua com o rosto perto do vidro a me observar. — Sou eu Elionor! Me ajude! — insisto, o garoto continua sem se mover.

 Uma grande jorrada de neve cai sobre meu corpo, sou puxada para baixo e me sinto sufocada, luto contra o fluxo. Um grito no silêncio, o meu grito, Violet está ao meu lado com o rosto preocupado segurando meus braços.

 — Elionor, você está bem? — me pergunta com a voz baixa. — confusa corro os olhos por todos os lados, anoiteceu, uma aura sombrosa tomou conta do tranquilo lugar.

 — Sim. — respondo com a respiração acelerada. — a gentil moça solta dos meus braços e se senta ao meu lado se encostando no tronco onde estou.

 — Um pesadelo? — ela me questiona, aceno com a cabeça que sim. — Sempre tive pesadelos, é assustador.

 — Onde está Dag? — pergunto sentindo a ausência do rapaz.

 — Dormindo como uma pedra, já eu não consegui pregar os olhos, minha cabeça está com mil pensamentos. — tento avistar Dag na escuridão, vejo o contorno da grande árvore em frente e de seu corpo sobre seus pés.

 — Quais pensamentos? — me ajeito. — Violet fita a noite.

 — Sobre como vim parar no bosque, quem me odiava tanta para me jogar para cá sabendo dos inúmeros perigos. — diz a jovem pensativa.

 — Não desconfia de ninguém? — a garota se volta a mim.

 — Existe uma pessoa, Charlote. — diz sem rodeios.

 — Charlote? — fico surpresa em ouvir esse nome.

 — Te contarei um segredo, Dag não pode saber disso. — sinalizo que costurei a boca, Violet dá um pequeno riso. — No casarão eu tinha uma relação muito próxima de uma garotinha, Clara, mas com a chegada de Dag nossa relação começou a ficar complicada, ela odiava ele e sentia ciúmes, eu a amava como uma irmã nunca iria trocá-la mas ela não me ouvia, se afastava, então resolvi a convidar para um chá no jardim como antigamente fazíamos, fiquei a sua espera por horas mas ela não foi. Estava triste bebendo o chá frio quando Willian apareceu, educadamente o cumprimentei e logo ele se sentou em minha frente sobre a toalha de piquenique que havia estendido sobre a grama, imaginei que ele queria falar suas típicas abobrinhas e piadas sem graça, mas não, aquele dia Willian se declarou, disse que eu era a mais bela jovem e que seu coração se agitava ao me ver, tantas bobagens! Me levantei furiosa pois ele era comprometido com Charlote há anos e como todos deviam saber eu nutria sentimentos por Dag. Insistente me roubou um beijo, eu me desvencilhei de seus braços e o acertei com um tapa forte em seu rosto, o aproveitador riu, avistei alguém atrás das roseiras que fugiu e só consegui ver um cabelo loiro como o de Charlote, rapidamente corri abandonando o piquenique e procurei pelo jardim e pela casa por ela, a encontrei em seu quarto e lhe contei tudo, ela segurou minha mão e com face serena disse que estava tudo bem e que confiava em mim. Dois dias depois recebi o bilhete que achei ser de Dag e cai em uma armadilha, sei que ela me queria longe.

 — Nossa! Realmente pode ter sido ela ou até mesmo o próprio Willian por vingança. — Violet concorda e volta a falar.

 — Os dois possuem um passado horrível. Ambos assaltavam bancos, certo que mataram pessoas. Eles chegaram a casa Gregory fugindo da polícia, eles são perigosos mesmo que seus encantadores sorrisos mostrem o contrário. — me espanto com sua revelação. — passos se aproximam é Dag, ficamos quietas.