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01 de setembro de 1999

- É esquisito não estar no trem - Astória comentou, levantando as cortinas e as amarrando, para deixar a luz do dia entrar.

- Han? Sua irmã, Daphne, passava uma escova de leve nos cabelos, distraída.

- Eu disse que é estranho não estar no trem, é o primeiro ano em sete que fico em Londres- riu a morena, postando-se atrás de sua irmã e olhando o reflexo das duas no espelho. Daphne, a irmã mais velha, era tão loira quanto ela era morena. Seus olhos eram muito azuis, enquanto os seus pendiam para o violeta, mas as duas tinham a mesma pele branca e pareciam quase a mesma pessoa- você está nervosa?

Daphne riu e segurou as mãos da irmã, que a abraçava pelos ombros.

-Quem não fica nervosa no dia de seu casamento?

Astória olhou para baixo, toda a felicidade esquecida, e sentiu os olhos marejarem.

-Tory...

Daphne também quis chorar. Estava ciente do acordo da irmã, e sabe que escapou por um tris do mesmo destino, mas ela tinha uma garra, uma malícia, que sua irmã mais nova não possuía. Sabia que o dinheiro de sua família estava no fim e que seu pai era bom para nada depois da morte de sua mãe, e não havia de onde tirar mais dinheiro, exceto...delas. Resolveu tomar a dianteira da situação e forjou um flagrante com o namorado de escola, com quem já dormia há mais de um ano, mas mentiu ao pai dizendo que acabara de ser desonrada e, chorando, pediu a ele que remediasse a situação.

Contou a irmã seu plano e tentou fazer com que ela também tivesse uma chance, mas Tory não quis. Sabia que seu pai estava afundado em dívidas e, de qualquer jeito, não havia nenhum namorado ou ex para ser persuadido.

A mais nova, otimista por natureza, sacudiu a cabeça, voltando a atenção para sua irmã mais velha

- Nada de tristeza hoje, é o seu casamento e meu aniversário, então, sorrindo!

Daphne sorriu, levemente entristecida, mas disposta a esquecer, pelo menos por hoje, afinal, era o dia de seu casamento e aniversário da irmã. Abrindo um enorme sorriso, pôs-se a discutir com a irmã como queria seu cabelo e logo estavam as duas rindo, aos gritos.

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Astória estremeceu em seus saltos, o buquê em sua mão chacoalhando visivelmente. Sentiu todo o sangue afluir ao rosto e sabia que devia estar vermelha como um tomate. Sentiu suor nas axilas e embaixo dos seios e rezou para que sua maquiagem não derretesse.

Via Narcisa e Draco entrando na pequena capela abarrotada de gente. Eles haviam sido convidados, mas imaginara que o homem ainda estaria na prisão. Eles mantinham o rosto erguido, impassíveis, mesmo com todos os olhares feios que recebiam. Draco tinha no rosto uma máscara de empáfia, os olhos cinzentos olhando a todos de cima, a boca contorcida de tédio. Quando eles se sentaram, Augusta Longbottom e seu neto Neville se levantaram e saíram da igreja, ela cuspiu a palavra " comensal" quando se cruzaram no corredor. Narcisa olhou para baixo, constrangida, mas Draco meramente a olhou, como se fosse uma partida de quadribol desinteressante.

Enquanto isso, o casamento continuava, como se nada tivesse acontecido.

Logo chegou o momento em que os noivos trocaram os votos, mas ela não conseguiu ouvir nada que sua irmã e seu noivo falavam, estava ocupada olhando os olhos do homem pálido, que vagavam com desinteresse pela igreja e por um instante pousaram nela. Astória estremeceu mais uma vez e desviou as orbes por um momento, mas percebeu que ele perguntava, aos cochichos, para sua mãe quem era ela.

Ele não sabia, ele ainda não sabia.

Forçou-se a encará-lo enquanto via seus olhos se arregalando enquanto via a boca de Narcisa formando as palavras, que mais adivinhou do que ouviu de fato.

Expiação - DrastóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora