Re-mis-são

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Março 2004

Astória entreabriu a porta do quarto, planejava descer para pegar alguma bobagem na cozinha. Agora que o tratamento terminara, sentia uma fome interrupta, como se o estômago, antes um animal tão calmo, houvesse se transformado em uma fera selvagem.

Ela parou, no topo das escadas, ao escutar o leve vshhh da lareira e pensou em voltar e se trancar no quarto, sua aparência não a recomendava a ninguém, mas a voz alta e surpresa do marido a fez parar e se esgueirar, em silêncio.

- Mãe, o que faz aqui?

-Filho! Espere, seu pai está vindo.

-Draco - a voz odiosa de Lucius se fez ouvir - sua lareira está suja, veja, manchou o casaco de sua mãe.

- Desculpe mamãe, agora que Astória voltou para casa, terei tempo de brigar com o elfo sobre isso. Sentem-se, por favor, papai, um whisky?

Copos e garrafas tilintaram e a mulher imaginou o marido remexendo na miniadega trouxa que tinham embaixo da escada.

- Mamãe, xerez doce?

- Obrigada meu filho, mas estou tão contente que sua esposa esteja bem, querida Astória, fez tanta falta, é verdade que está curada? – Astória conteve um arroubo de gratidão ao ouvir Narcisa, ela soava verdadeira.

- Mamãe, o curandeiro trouxa não falou em cura, falou em re-mis-sao - Draco falou, devagar- acho que é esse o nome, mas o medibruxo Smethwyck, que fez uma especialização em curas trouxas e estava tratando-a concomitantemente fez um rápido scan e...

Astória esticou a cabeça, Draco fora interrompido e ela não escutara por quem.

- O que foi papai? – ah, só podia ser, a mulher pensou, com asco.

- Draco, mas ela está acordada? Gostaria de vê-la, eu não vejo-

- Mamãe, não sei se Astória quer receber alguém, ela está muito insegura em rela -

Mais barulhos indistinguíveis, algaravias em que se ouvia a voz do Lucius, mas não conseguia entender bem suas palavras, pelo menos até ele começar a gritar:

- ......vai ....dei....AGORA DRACO.

Draco fala algo que Astória não consegue escutar e logo a voz do pai se faz ouvir novamente, debochada.

- Sua reputação? Você é um Malfoy. Não tente me enganar, sei que não quer deixá-la por que tem sentimentos por ela...

- Lucius, deixe o menino, ele sabe-aaahhhh

A moça escondida no topo das escadas escuta um grito de dor feminino e logo em seguida a voz do homem mais velho, ele soava cheio de ódio.

- E é tudo culpa sua, mulher idiota...

PAF

Então, as coisas se escalonaram vertiginosamente e Astória se agarrou à sua varinha entre os seios, deixando-se ficar sentada no andar de cima, com medo, respirando pesadamente.

- Crucio

- DRACO, NÃAAAAO, SOLTE-O – Narcisa faz um pedido desesperado ao filho - você é um funcionário do ministér-

- É a primeira vez que ele encosta em você? - a voz de Draco, embora sibilante, é muito clara ao cortar a mãe.

Astória não consegue se forçar a espiar, e fica, portanto, sem saber a resposta dessa pergunta, já que, se a mulher respondeu, foi de modo não verbal.

- Enervate – o homem mais novo revitaliza o pai.

- Saia hoje da mansão Malfoy, se eu soub- Lucius e Narcisa poderiam pensar que Draco estava frio, mas Astória conseguiu ouvir o leve fremido de sua voz, indícios de seu pavor.

Expiação - DrastóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora