High up and above

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Maio 2006


Sem Astória, Draco caiu numa espiral cada vez mais perigosa de vício e desespero. Voltou para casa, dando uma desculpa qualquer à sua mãe, sem deixá-la jamais suspeitar da verdade. Sabia que ela não seria complacente e ficaria ao lado da nora, e do neto.

Então, se sentindo preso e derrotado, com os sentimentos em rodamoinho sem escapatória dentro de si, ele bebia. Muito.

No começo, o álcool foi suficiente. Uma garrafa de seu velho whisky, que ela tanto amava, a cada noite sozinho. Depois foram as poções. Já as conhecia de seu sexto ano. Elas o faziam ficar apático, para funcionar sem sentir nada. Por fim o ópio.

Ele veio com a companhia de Goyle, que Draco aceitou de bom grado, já que não tinha mais ninguém. Goyle sempre usara cocaína. Casava bem com seus surtos de violência. Draco havia experimentado uma vez, na escola, mas não gostou do pico de adrenalina e da sensação paranoide que ela lhe causou, como se ele precisasse de mais disso, com o quartel do Lorde das Trevas em sua casa e uma missão fadada ao fracasso. Mas na noite em que Greg voltou à Mansão Malfoy, ele trazia o torpor numa sacolinha ziploc. Pequenos rolinhos de ópio que ele enrolou em um formato banal com papel de seda e os deixou semelhante a um cigarro sem filtro. Draco deu algumas tragadas e o mundo inteiro desapareceu.

Não havia Astória, ou bebê, ou casamento ou marca negra, que ele jurava que sentia queimar quando estava triste ou com medo, o que era o tempo todo agora, ou jantares que exigiam a presença da esposa, ou negócios que ele estava deixando de fechar, ou sua mãe sendo torturada dentro de casa, ou antigos colegas de negócio querendo renovar pactos escuros, ou doações para uma reconstrução de Hogwarts, ou jantares para heróis de guerra que ganham a primeira página, ou sanções econômicas que ele estava sofrendo, multas de guerra. Ele subiu, subiu bem alto e não havia nada lá. Não havia frio ou medo, só o nada. E Draco gostou do nada. Era preferível à miséria que estava suportando. Ele olhou sem ver Greg passando a mão no vidro de seu retrato de casamento, na parte em que Astória estava. Escutou sem ouvir seu amigo chamando sua mulher de gostosa, em como ele queria ter tido a chance de "invadir seu pote de mel". Isso tudo ele presenciou, mas não sentiu, não pensou.

Quando seus membros já estavam desossados e um languido contentamento tomou conta de seu ser, ele caiu de volta. A queda foi horrível.

Seus sentidos estavam embotados, seus componentes tremiam e tudo que ele podia pensar era em quando fumaria o próximo. Por três dias ele flutuou. O aniversário da batalha veio e passou e nesse ano, a marca negra não queimou e ele não chorou bêbado no colo de Astória. Ele sentia falta de Astória...Num estalo, mandou Goyle embora e se afundou numa banheira de água quente, pensando em quão perto ele estave da beira e em como seria fácil ele simplesmente...ir.

oOo

Draco estava tendo dificuldades com essa poção. A fumaça perolada que subia do caldeirão de estanho número 2 cobria todo o pequeno cubículo de desencantamento de ingredientes e fazia seus cabelos penderem moles e pesados sobre sua cabeça. Ele piscou os olhos convulsivamente, sentindo uma picada dolorida no canto da visão, se amaldiçoando por ter teimado em não usar os óculos de proteção mais uma vez. Ele esfregou os olhos com a mão da varinha, que estava limpa, e notou que ela voltou cheia de cabelinhos curtos e transparentes.

"Ótimo, queimei os cílios, como se dormir estivesse sendo fácil esses dias" ele pensou, com amargura. Ele ouvia um barulho vindo de fora de sua sala, mas não deu atenção. A poção levantava fervura e ficava azul de novo, com a varinha ele retirou o ingrediente da vez e o pousou dentro de um frasco já etiquetado (baço de morcego). A voz de uma mulher, alta e chorosa chegou até ele e Draco, percebendo quem poderia ser, deixou a poção em estase quase no mesmo momento em que a porta de seu cubículo era arrombada com violência e ele deu vários passos para trás.

Expiação - DrastóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora