Camafeu

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01 de setembro de 1999

- Um beijo, por quê? – Draco esfregou o antebraço direito enquanto franzia a testa.

- Nunca fui beijada, não quero que a primeira vez seja no altar, no meu casamento, em frente a dezenas de pessoas. Quero que meu primeiro beijo seja só meu.

O homem não pensou mais nem por um momento. Esperava por uma chance dessas desde que a viu em cima do altar, tremendo, sacudindo o buquê de flores. Avançou rapidamente e apenas no último instante se lembrou que era seria o primeiro beijo deles, seu e dela.

Apagou os cigarros no cinzeiro de pedra, e pousou seu copo e o dela na mesinha que ela antes tinha esticado os pés. Levou a mão ao rosto da menina e fez um carinho torpe, reparando que a sua pele era muito macia e muito transparente, quase dava para enxergar seus capilares se enchendo de sangue enquanto ela enrubescia ao seu toque. Aproximou sua boca da dela devagar e inspirou a estranha fragrância que vinha de seus lábios, era intoxicante. Draco se deu conta que era desejo. Pura lascívia. Sem conseguir se fazer esperar mais, tomou-lhe a boca com sofreguidão, obrigando seus lábios carnudos a se abrirem mais e enfiando sua língua, ao mesmo tempo que chupava seu lábio inferior.

Ela era realmente uma boa aluna, logo começou a imitar seu professor, e rodou sua língua na boca de seu amante, deixando-as se encontrar em um delicioso embate. A menina soltou um pequeno gemido, tonta pela novidade, e o homem aprofundou o beijo, mordiscando seus lábios e dançando sua língua na dela. Pousou a mão em seu joelho e foi subindo devagar, se fascinando com as coxas grossas que ia descobrindo, imaginando que iam parar em um quadril largo, com um bumbum redondo que esse vestido tinha escondido. Já fazia muitos anos que Draco tivera uma mulher e ele se surpreendeu com a força de seu desejo. Estava completamente entregue e a teria tomado ali mesmo, naquele sofá, se a porta não fizesse um barulho, abrindo-se vagarosamente.

Eles se soltaram de imediato, ele agarrou seu copo e passou a mão nos cabelos, voltando a ser um homem composto no mesmo instante. Astória viu com fascínio ele vestir uma máscara de cinismo e desdém. Ela, por outro lado, tinha as pernas trêmulas e o rosto afogueado era um livro aberto. Escondeu as penas debaixo de seu vestido e soltou o cabelo, que lhe caiu em ondas até a cintura, e acendeu um novo cigarro que segurou com dedos trêmulos enquanto Narcisa terminava de abrir a pesada porta, muito vagarosamente, como se soubesse de tudo e estivesse dando tempo a eles de se recompor.

- Ah, aí estão vocês.

A menina olhou-a por um segundo, conseguiu sorrir, mas logo desviou os olhos.

Draco a olhou com tédio e, com a varinha, encheu seu próprio copo de whisky, mas não o dela.

- Então, se entenderam?

A mulher perguntou, olhando para o jovem casal.

- É mãe, ela serve.

- Draco, não fale assim. Desculpe-o Astória, ele passou dois anos afastado do convívio de pessoas decentes, não sabe mais se portar perto delas.

- Tudo bem, senhora Malfoy- levantando-se, Astória olhou-o de cima a baixo, torceu a boca e devolveu - ele vai dar para o gasto.

E saiu da biblioteca, deixando mãe e filho sozinhos.

Draco escondeu um sorriso. Agora estava ansioso para seu casamento.

oOo

Aparataram em casa. Draco sentiu toda a felicidade que o beijo de Astória lhe deu sumir, como que evaporado. Ainda não conseguia se sentir confortável naquele mausoléu, estava sempre tenso. Lembrava-se de tudo que sofreu no ano da guerra, quando Lord Voldemort fez da sua casa quartel general. Ele estava insatisfeito com Lúcio então o relegou a lugares cada vez menores dentro de sua própria casa. No começo ele não podia sentar-se ao seu lado, logo não podia sentar à mesa, logo não podia comer de modo algum. O mesmo com o dormir. Voldemort ocupou a suíte de seus pais e eles primeiro ocupavam o quarto de Draco, depois a cozinha, depois o porão, onde eles chegaram a matar alguns ratos para que pudessem se alimentar.

Expiação - DrastóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora