O céu perdeu seu azul e grandes nuvens nimbos o preencheram até onde os olhos conseguiam ver, pingos grossos de chuva pouco a pouco em uma crescente começaram a cair sobre Gabriel e todos que estavam presentes no cemitério da cidade.
Quando as primeiras gotas vindas do alto tocaram nos presentes ali um mutirão de sombrinhas e guarda-chuvas foram abertos simultaneamente. As cores cinza, preto e azul marinho preenchiam o lugar dando a mensagem que Gabriel ainda não conseguia processar corretamente, ou talvez simplesmente não quisesse.
— Ele se foi — uma voz do lado esquerdo falou.
— Eu ainda não acredito, não deve ser verdade — vociferava a voz do lado oposto.
O caixão contendo seu avô ia descendo lentamente dentro da cova enquanto sua mãe abafava um choro incontrolável no peito do seu pai, que embora não estivessem mais juntos nutriam um pelo outro um respeito forte a ponto de ter se feito presente ali naquele momento.
Seu pai, por sua vez, o acariciava nas costas com uma das mãos enquanto abraçava sua mãe com a outra.
Todos presentes não disseram ou fizeram nada além de jogar algumas rosas de diversas cores sobre o caixão, a última a ser jogada foi a de Gabriel. Ele deu dois passos à frente sem se importar de se molhar na forte chuva que caia e dando uma última olhada para o túmulo de seu melhor amigo e avô, jogou sua rosa branca que bateu no enfeite em forma de cruz que havia em cima do grande caixão branco.
— Que Deus te receba, vô — Seus olhos fixaram na cova que foi sendo coberta de terra pouco a pouco enquanto todos familiares iam se retirando.
— Venha, eu levo vocês — Seu pai o chamou já colocando sua mãe no banco de trás do carro e abrindo a outra porta para ele.
Antes de entrar no carro um arrepio o percorreu na espinha, fazendo seu corpo inteiro paralisar por alguns segundos — Seria a chuva? — Uma pequena parte de si indagou o fazendo olhar em todas as direções, mas foi um pensamento que durou breves segundos e foi afundado pela dor em seu peito por sua perda, ele entrou no carro e seguiu toda a viagem em silêncio.
Antes que seu pai pudesse falar qualquer coisa que o fizesse entrar em uma longa discussão sobre com quem ele deveria morar, assim que chegaram em casa Gabriel se apressou a ir para o quarto, trancar a porta e ficar num profundo silêncio tentando absorver tudo que tinha acontecido com ele nessas últimas semanas. Ouviu sussurros na cozinha do seu pai trocando algumas palavras com sua mãe, porém nada que parecesse começar outra longa e detestável discussão entre os dois, isso era normal entre eles quase sempre que se viam, mas não naquele dia.
Gabriel fechou os olhos e começou a lembrar da imagem do seu avô o chamando de amigão, era assim que eles sempre chamavam um ao outro. Seu avô sempre fora seu melhor amigo e ensinou quase tudo que Gabriel sabia, principalmente sobre mitologias, fantasias e coisas que cercavam o misterioso gosto incomum que ambos tinham em comum.
Três semanas atrás, quando Gabriel completou dezesseis anos seu avô tinha lhe dado de presente um livro de mil e quinhentas páginas sobre a mitologia nórdica, o último para formar sua coletânea sobre mitos do mundo onde se contava sobre cada região e suas adorações e costumes.
Gabriel retornou de seus pensamentos quando sentiu uma lágrima escorrer pelo canto de seu olho direito. Percebeu que fitava o teto de seu quarto que ambos pintaram simbolizando um pedaço da galáxia.
— Um viajante das estrelas sempre deve olhar para a imensidão de onde veio e lembrar que dentro de si existe um universo inteiro — Repetia o avô dele sempre que eles fitavam aquela galáxia pintada no teto.
Gabriel nunca entendia aquela frase por inteiro, mas seu avô garantia que um dia quando fosse mais velho ele iria entender o real significado. Aquilo o fazia ficar confuso, seriam só palavras comuns de segredos de amigos como sempre foram? Ou eram só palavras para o confortar nos dias que ele achava ser o mais diferente e talvez estranho dentre todos os que estavam à sua volta.
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O Último Draconiano - Livro um
FantasyA saga do Reino dos Guerreiros - Livro Um - os mundos colapsam, deuses da calamidade ressurgem para destruir o mundo de Zigward enquanto uma organização a serviço de um mal ancestral tão antigo que os homens não se recordam o nome começa a se mover...