- Capítulo 11 - A súcubo perdida na floresta -

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 Quando os primeiros raios de sol tocaram as montanhas que ficavam ao redor do Reino Central, no horizonte surge a silhueta de um senhor vestido com longas vestes cinzas, uma barba branca que reluzia com os raios do sol e seu cajado de madeira amarrado à cintura. Conforme pisava na grama sentia o cheiro do orvalho e grama molhada tocar suas narinas e sua mente dizia — estou em casa.

Kendorf era, de longe, o rei mais diferente que o Reino Central já havia tido sentado em seu trono.

Sempre viajava sozinho por portais, andando uma vez ou outra um longo caminho por estradas, vestia sempre suas longas e surradas vestes cinzas, sandálias de couro e seus cabelos brancos amarrados em um rabo de cavalo, nunca colocava sua coroa de rei sobre sua cabeça e em poucas ocasiões sentava no trono, de acordo com ele mesmo, não era o verdadeiro rei daquele lugar, nem seu descendente, nem mesmo alguém importante para levar tão a sério o cargo que lhe impuseram, mas amava aquele povo e aquele reino a ponto de deixar se chamado de rei regente e atender em nome daqueles que lhe buscassem ajuda.

— O rei voltou! — Gritou um dos guardas de cima da muralha ao ver sua silhueta inconfundível surgir no horizonte.

Erik, seu cavaleiro real, segundo em comando e pupilo, ajudava os moradores a retirar da estrada pesados troncos de árvores que haviam tombado naquela noite quando dois lenhadores bêbados entraram em uma aposta para provar qual dos dois era o mais veloz cortando uma árvore.

Lógico que o resultado da disputa nenhum dos bêbados lembrava mas o estrago estava feito e como era de costume de Erik todas as manhãs fazer uma ronda na cidade enquanto se exercitava, ele decidiu ajudar.

— Aquele velhote voltou! — Disse Erik abrindo um sorriso e indo em direção a Kendorf com o tronco da árvore sobre seus ombros.

— Estão me reconhecendo mais rápido, preciso trocar de vestimentas, talvez mudar a cor de cinza para preto já seja de boa ajuda — Murmurava Kendorf enquanto admirava a natureza à beira da estrada que levava até a entrada da capital do Reino Central.

— Velhote! — Gritou Erik se chegando para perto dele — Bom dia, meu rei — Disse corrigindo-se ao chegar mais perto.

— seu primeiro cumprimento foi verdadeiro, porém desrespeitoso, em outros tempos seria enforcado, decapitado ou teria toda a pele das costas tirada fora enquanto ainda estivesse acordado. Seu segundo cumprimento foi cordial, digno de um cavaleiro da ordem do rei, porém falso e apenas vazio — Analisou Kendorf tirando seus óculos meia lua e os limpando em suas vestes.

— O que isso quer dizer? — Erik pareceu confuso com a análise de seu rei.

— Não quer dizer nada, ao menos não para mim. Pena que não posso mais por vocês de castigo ou te acordar jogando água fria sobre o rosto por perder a hora de seus treinos, aquilo era satisfatório para mim — O rei suspirou lembrando-se do passado.

— Não se force demais, velhote, sua cabeça não funciona mais como antes.

— Recebi a notícia do caos que se seguiu duas noites atrás, o que você me diz, Erik — Perguntou o rei mudando o ritmo de seus cumprimentos.

— Ele realmente retornou, o garoto ainda está muito abalado e a conversa que se sucedeu na sala de guerra não terminou muito agradável — Erik olhou para o lado vendo um campo aberto com a grama baixa onde ele se abaixou e colocou o tronco da árvore que estava sobre seus ombros vagarosamente no chão.

— A chave do selo ainda está em nosso cofre? — Perguntou o rei parando para esperá-lo colocar o tronco no chão.

— Estranhamente sim — Respondeu o cavaleiro se levantando — na teoria, um ritual de quebra de selo não pode ser realizado sem a chave que o fez, isso pra mim não faz sentido!

O Último Draconiano - Livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora