Florescer

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As pétalas seguiam o vento em uma valsa suave até que tocassem o chão, colorindo-o de rosa, enquanto o cheiro das flores embriagava seu consciente como se fosse uma hipnose terapêutica. De fato, nunca havia sentido tanta paz. Sentia seus cabelos dançando com o vento que acariciava a sua face. Era agradável, gostava da sensação. Amassando as folhas com o seu sapato, caminhava entre as árvores que davam espaço a um caminho com pedras e gramas. Tudo era tão lindo e harmônico que sentia como se fossem feitos exclusivamente para si.

— Oh, um humano! — uma voz graciosa chamou sua atenção. Buscou pela sua fonte, mas antes que pudesse encontrá-la, o vulto se escondeu atrás de uma árvore gigante. — Não, não me olha! Não me olha!

— Lillia, está tudo bem. Eu estou aqui. — disse um homem de cabelos longos e platinados, chifres azulados e um kimono semi aberto, que surgiu do lado daquela grande árvore. O vento balançava a franja curta e os adereços presos às tranças laterais do rosto alvo e tranquilo. Era um samurai, que apesar de carregar uma katana, exalava um sentimento amistoso.

— Ah! É verdade. — a voz gentil riu. — Às vezes me esqueço de que você é um sonho que se tornou realidade.

O samurai sorriu curto e ergueu uma das mãos, a unicamente azulada, que foi segurada pela criatura oculta. Então a vastaya finalmente apareceu. Tinha uma aparência centaura, onde parecia metade humana e metade cervídeo. Longas orelhas vastayesas abaixadas, cabelos multi cores azuladas, roxas e rosadas, e um olhar muito, muito gentil. Segurava um cetro mágico com uma flor globular pendurada na ponta.

— Continuo me escondendo mesmo tendo alguém aqui, sozinho... comigo. — ela comentou, apertando o cetro.

— Sua insegurança te prende, Lillia. Ainda vou te libertar. — gentil, o espadachim guiou a vastaya para alcançarem o caminho de pedras.

— Yone, quando as pétalas caem, os sonhos falam... no florescer espiritual, as pétalas dão vozes aos mortos... — os dois olharam em direção do terceiro, que os observava. — Mas o que acontece quando ficam em silêncio?

O espadachim fechou os olhos, apertando os dedos delicados da centaura:

— Uma vez você me disse que seres quietos eram fortes... — ele cochichou brincalhão, mesmo com uma expressão um pouco séria.

— Você continua forte, mesmo se não estiver falando baixinho... — ela cochichou de volta, divertida.

A vastayesa riu inocentemente, cúmplice ao sorriso apaixonado do samurai. Os olhos brilhavam sob o reflexo um do outro. Por fim, Lillia se voltou ao terceiro:

— Uns chegam perdidos no jardim... outros... se perdem... Minha amiga pediu para te guiar.

Com seus cascos, ela começou a marchar ao lado do samurai que a acompanhava, e sem pensar, decidiu segui-los. Observou-os conversando baixinho, sorridentes, como dois cúmplices do amor. Entretanto, um barulho vindo de trás chamou a sua atenção, e ao virar o rosto, viu dois seres místicos: uma garota mascarada com chifres curvos e longos cabelos volumosos platinados, que vestia um kimono e segurava um arco e flecha, e ao seu lado, um grande espírito branco como as neves, com um sorriso enorme que parecia de uma criatura marinha.

— Eles chegaram. — Yone disse.

— Os Kindred... — a vastaya comentou. — Estão à espera... do seu último sonho.

Na sua opinião, era bonito como aquela ovelha e aquele lobo pareciam ser tão harmônicos. Não era algo tão simples como dizer que se completavam. Eram muito mais do que isso.

Apesar da persistência em segui-los, os Kindred não se aproximavam, mantendo uma distância respeitosa.

Quando enfim chegaram no fim no bosque, se depararam com uma ponte longa que decorava um rio brilhante. De longe, lá em cima da estrutura curva de madeira, avistou uma raposa alva de nove caudas azuladas. Sentiu uma nostalgia fraca quando viu os orbes azuis fita-lo com atenção, enquanto os pêlos dançavam com o vento. A movimentação da vastaya centaura chamou sua atenção, e se virou, vendo-a apertar o cajado em mãos.

— Sua alma está florescendo. — ela sorriu. — Vou cuidar do seu sonho.

Um barulho atrás de si despertou sua atenção: era a madeira do arco sendo flexionada pela garota que apontava a flecha em sua direção. Sua voz melódica ressoou:

— Toda a sua vida conduziu a este momento.

Foi então que viu o arco disparar.

Assistiu três flechas cortarem o vento e cravarem cada uma em si, onde todas atravessaram o seu peito. Mas apesar do impacto, a dor não veio à consciência.

Sentiu sua vida se esvair; escorregar entre seus dedos. E indiferente, apenas a deixou ir. Apenas se entregou àquele momento, fechando os olhos.

Finalmente havia chegado a sua hora.

Mas antes que ela se fosse, algo chacoalhou seu mundo.

Quando reabriu os olhos, vislumbrou um vastaya o agarrando. Tinha olhos rosados, longos cabelos e orelhas platinadas, com uma franja e tons rosados, uma cicatriz no nariz e duas marcas rosas nas laterais do rosto. Era o ser mais lindo que já vira em toda a sua vida.

Phel! Eu não vou deixar você ir!

Aquela voz veio com tanta intensidade que mais parecia uma onda enorme o cobrindo e o naufragando, o inundando com suas memórias.

Sem ar, ofegou. Em sua mente, flashes de memórias corriam e se juntavam como um quebra-cabeça, completando o seu vazio. Um nome bombardeou o seu coração, escapando dos seus lábios:

Sett...!

— Aphelios, Aphelios!! — sua voz o clamava, ressoando por todo o seu ser. — Fica comigo, Aphelios!

Aphelios reagiu, enfim segurando os braços que o agarraram.

— Sett! — sua visão embaçou pelas lágrimas que brotavam em seus olhos.

— Resista, Aphelios! Nós temos muito o que viver! Juntos!

As flechas magicamente começaram a ruir, e como lembranças distantes que se esvaíam com o vento.

Os Kindred já não estavam mais lá.

Sett o abraçou, envolvendo o corpo contra o seu. Aphelios retribuiu na mesma intensidade, sentindo o calor, o carinho, o afeto.

Afastaram-se momentaneamente, e naquele momento, só tinham mais um objetivo. E assim o fizeram: Sett aproximou os rostos, o memorizando com carinho, os olhos rosados como o entardecer de um dia revezavam entre os seus azulados como o nascer de um dia; e ambos fecharam os olhos mutuamente.

Os lábios se tocaram em um ósculo.

E tudo foi como uma vida eternizada em um momento. As almas se encontraram, os corações se transcenderam, e ambos se envolveram.

O beijo era um selo de um contrato de espíritos florescidos em uma primavera fértil.

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O seu escolhido da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora