Prólogo

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O som de passos ecoava por toda cela silenciosa e escura, a única fonte de luz era uma pequena fresta entre o chão e a grande grossa porta de metal. Dentro daquele reino de imundice e solidão, um homem residia entre as paredes e a escuridão, com seus braços, pernas e pescoço preso por correntes pesadas e de aço maciço. Seus olhos eram sem expressão e sua pele estava tão suja quanto um deposito de lixo, com uma camada grossa de poeira, suor e sangue.

Não tinha mais forcas para lutar contra a prisão ou vontade de viver, seus pulsos desgastados e machucados, igual a todo resto de seu corpo, eram a prova viva de quanto lutou. Cicatrizes envelhecidas e desgastadas pelo tempo.

Podia sentir que seu tempo ali estava se esvaindo a cada hora que passava igual a seus pulmões que almejavam parar de puxar o ar e o coração que ansiava pelo doce beijo da morte. O homem de cabelos longos e grisalhos, unhas igualmente longas e quebradiças, só queria morrer e cessar com aquela agonia.

Mais uma vez aquela porta pesada foi aberta naquele mesmo dia. Ou será que já era outro? Quanto tempo tinha passado ali? Não sabia dizer ao certo, o homem só sabia de uma coisa, aquela era a centésima sétima agulhada que recebia. Era a centésima sétima vez que sentia seus músculos perderem a força e a centésima sétima vez que perdia a consciência. Ou será que era mais do que aquela contagem? Não importava mais, a única coisa que importava era que aquele líquido que queimava em suas veias já não fazia mais efeito, seu corpo tinha se acostumado ao sedativo, mas de tão acostumado que estava, não tinha forças para reagir.

Por mais uma vez ouviu quando seu corpo foi colocado em uma maca e levado para fora como um defunto. De tanto que aquele mesmo procedimento era feito, já tinha decorado as voltas que precisavam ser feitas para chegar ao lugar.

"Cinco voltas para a esquerda, duas para direita, uma pausa de três minutos para pegar o elevador, seis andares para baixo, um longo corredor e mais três voltar para a direita."

Foi o que pensou enquanto o caminho era feito.

Escutou um barulho conhecido de porta sendo empurrada e bufou baixo em escarnio. Tinha chegado ao lugar onde aquela maldição iria recomeçar.

Seu corpo foi posto em uma bancada, despido de suas roupas, se aquilo que usava poderia ser chamado de roupas, e pouco a pouco começou a sentir seu corpo ser cortado mais uma vez. Suas unhas eram arrancadas uma a uma, sua pele era dissecada e o sangue pingava fresco e rubro, mas nada era desperdiçado, pelo contrário, tudo era catalogado e guardado como se fosse uma experiencia ou um rato de laboratório. Cabelo, unhas, dentes, saliva, lagrimas, tecido saldável, sêmen. Tudo era guardado.

-Amostra mil quatrocentos e dezoito. - Um dos ajudantes gravava conforme passava o tubo de ensaio cheio de sangue para outro companheiro que o guardava em uma espécie de geladeira portátil.

"Então é isso que eu sou, uma cobaia para testes. Que vida mais sem sentido a minha. Quando isso irá acabar? Será que eu vou morrer logo?"

- Pronto, pode trazer a nova dose. - Aquela mesma voz de antes disse por uma segunda vez ao pegar uma seringa da bandeja e aplicar o líquido sobre a veia do braço.

"Não, eu odeio agulhas. Pare com isso!"

Puxou o braço em um espasmo que pareceu involuntário aos outros, mas de nada adiantou e o líquido percorreu suas veias, destruindo tudo pelo caminho e queimando o sangue.

"Essa porra arde! Tira isso de dentro de mim! Anda logo, eu não gosto de sentir essa dor!"

- Rápido, segurem seus membros e cabeça! Ele está tendo uma convulsão! - Disse o doutor ao virar a cabeça do homem parcialmente para o lado, fazendo a espuma branca cair sobre a bancada e evitando o engasgo.

The Pirate King's Dark ShadowOnde histórias criam vida. Descubra agora