Arco IV: Aventura Mortal Capítulo XXII:

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A caldeira encandecia com os carvões dentro das paredes de ferro, soprando a fumaça e o vapor por entre os canos, subindo e fazendo as pás rodarem em meio as aguas, ao mesmo tempo que uma grande chaminé deixava o rastro de fumaça negra por onde passava.

Deitados entre alguns caixotes de madeira, pratos, copos e talheres usados, estavam os homens que cuidavam de alimentar o fogo, roncando alto, jogados pelo chão e provável que no decimo quinto sono. Trabalhar em frente ao fogo por 24 horas seguidas conseguia esgotar até mesmo o mais forte dos homens.

Passos ecoavam pela sala da caldeira, andando em direção a grande fornalha conforme seus olhos procuravam algo que fosse útil para ser usado.

Bascúd tinha algo em mente, um plano que era bolado a cada segundo que passava no navio de Gasparde. De canto de olho viu uma espécie de foice, com uma lamina bem mais grossa que o normal, arma essa normalmente usada para cortar os carvões em pedaços menores. Pegou o objeto em mãos, vendo seu peso e o mirou em direção a grande fornalha.

- O que pensa que está fazendo? - Disse o velho com uma voz cansada e rouca causada pela doença que circulava em seu sangue. Recebendo um olhar do caçador de recompensas que via uma faca pontar nas mãos do homem velho. - Não vou deixar que toque nela.

- Considerando seu estado de saúde, você tem muita coragem. - Mantinha a arma erguida ao topo de sua cabeça.

- Não me faça rir. Eu apenas acho essa caldeira bonitinha. Não dou a mínima para os desejos arrogantes daquele homem. - Dizia o homem se aproximando do mais novo conforme os vapores quentes escapavam pelos canos.

- Tem certeza de que pode falar assim dele? Você é um subordinado. - Bascúd abaixou a arma que tinha em mãos.

- Sou um controlador de caldeira. - Se aproximou do jovem apontando a faca de três pontos.

- Você é um velho bem estranho. - Bascúd falava com uma das sobrancelhas levantada, movendo a cabeça para trás conforme o homem movimentava a mão ao falar.

- Quem você pensa que é para falar isso? Você é diferente também por estar trabalhando para aquele arrogante. - O velho suava por conta da febre, vendo o homem o encarar. Soltou o ar pelos pulmões e abaixou a faca. - Ajude-me aqui. Gente velha precisa de ajuda. Ande rápido. - Cambaleou para o lado, perdendo o equilíbrio e quase caindo ao chão. Bascúd o ajudou segurando em seu braço e o encostando em um canto. - Eu não ligo para quem você seja, mas não vou deixar que a danifique.

- Já entendi. - Bascúd tinha o olhar para caldeira com um sorriso de canto. - Eu também não pretendia destruir esse navio tão nostálgico. Só queria começar um tumulto. - Seu sorriso logo se transformou no mais puro desprezo, com seus dentes rangendo um no outro. - Uma chance de derrota-lo.

- Então não pode derrota-lo de frente? Acho que não consegue de forma alguma. - Falava o velho vendo um sorriso de canto se formar. - Entendi. Então, você está atrás do Gasparde. - Riu. - Se meu corpo me obedecesse, bem que eu te ajudaria... - Tossiu forte quase como se quisesse colocar os pulmões para fora.

- Você não parece estar bem, velhote. - Bascúd o olhava com as mãos nos bolsos do casaco.

- Eu ainda não posso morrer. Tenho que ver o Anaguma. - O homem olhava para as mãos com sangue e saliva, iluminadas pelo dourado das chamas.

- Anaguma? - Ergueu uma das sobrancelhas.

- Meu assistente. Saiu para matar piratas para poder me ajudar. - Uma tosse se fazia presa na garganta, causando uma rouquidão. - Maldito Gasparde...deu uma arma ao Anaguma, uma mera criança!

- Ah, aquela criança. - Bascúd falava baixo com a lembrança que preenchia seus cérebro.

- Você o viu!? - O homem das caldeiras levantou o rosto em surpresa.

The Pirate King's Dark ShadowOnde histórias criam vida. Descubra agora