João e Melanie

capítulo 13

Passei três dias a base de remédios e bebidas, não saia do quarto, não comia, nem com Alex eu conversava.

Já estava escuro quando escutei ele chegando.

- João, meu amigo, a Mel não veio te ver de novo?

- Não mas o que importa isso? - falei contra o travesseiro.

- Cara você tá fedendo.

- Tô? - tentei me cheirar, realmente eu tava.

- Vai tomar um banho. - ele acendeu a luz do quarto e eu enfiei a cara na coberta evitando a claridade.

- Não. Pra que?

- Mano você vai cair de sujeira. O que a Mel fez com você?

- Não fala dela, nos terminamos e pronto, tá tudo bem. - minha vontade era de gritar.

- Como assim? Vocês são perfeitos juntos. - ele se sentou na beirada da minha cama.

- Eu não quero falar sobre isso.

- Mas precisa.

- Não, eu não preciso. O que você quer pra dar essa conversa por encerrada?

- Que você vá tomar um banho e depois vamos comer. - ele disse tirando uma sacola de dentro da mochila.

Me levantei sem falar nada e fui pro banheiro. Olhando no espelho eu estava um caos total, olheiras enormes quase pretas debaixo dos olhos, minha barba que não é muita estava comprida de mais, quando eu tirei a camisa dava pra ver meus ossos, eu estava muito paládio, a boca descascando. Eu estava horrível.

Tomei um banho demorado, lavei tudo que passei nos últimos dias, retirei o pouco pelo da minha face e  me vesti com uma roupa bem larga pra disfarçar a perca de peso.

Sentei na cama novamente, teria que trocar os lençóis, a cama também estava fedendo.

Peguei um embrulho das mãos de Alex, era um sanduíche, minha barriga roncou. Eu nem me lembrava qual havia sido uma minha última refeição.

Comi como se não ouvesse amanhã, levando o alimento  pra um estômago vazio.

Mas por dentro eu ainda estava vazio. Mel tinha me rejeitado, o que era pior do que se ela tivesse apenas me deixado.

Eu não podia imaginar transar com outra pessoa, beijar na boca de outra, tudo parecia errado agora sem a minha parceira de jogo.

- Você vai voltar pras aulas? - meu amigo perguntou entre uma mordida e outra.

- Sim, essa semana meu atestado acaba.

- Entendi, se quiser posso pedir a um de seus amigos de sala pra trazer a matéria acumulada pra você ir estudando enquanto não volta.

- Eu já fiz isso, amanhã ele vai trazer tudo pra mim.

Realmente eu tinha combinado com um colega do meu grupo de estudos para trazer a matéria pra mim, eu podia perder tudo, menos o foco da minha carreira.

- Você precisa querer ficar melhor cara. - Alex ponderou.

- É eu sei, vou ficar. - falei tranquilo.

- Eu espero.

Comemos em silêncio, depois fomos jogar videogame, noite a dentro. Eu sabia que meu amigo tinha aula cedo, mas ele estava ali por mim o que era reconfortante.

No outro dia de manhã eu precisava de um café. Mas como faria? Se eu fosse ao restaurante poderia desabar com a visão da loira gostosa que trabalha lá.

Esperei, esperei, as horas pareciam não passar, eu queria muito mesmo um café.

Tomei um banho, me arrumei como pude pra tentar disfarçar a cara acabada e fui.

No caminho pensei o tempo todo se seria uma boa escolha ver ela, tão rápido assim. Mas um dia eu teria de encarar a realidade. Mel não era mais minha, ela estava livre e solteira, andando pelo campus enfeitiçando outros homens.

Mas quando abri a porta do restaurante a Mel que eu vi não estava disposta a enfeitiçar ninguém.

Ela tinha olheiras tão profundas quanto as minhas, a pele alva parecia ainda mais clara, os cabelos amarrados em um coque desgrenhado feito as pressas e sem qualquer zelo.

Ela parecia acabada, e quando me viu notei aquele brilho suave em seus olhos, mas logo ela desviou o olhar, sem um aceno, um sorriso.

Meu coração estava saltando loucamente no peito, será que o dela também estava?

Andei até o balcão e pedi um café gigante, comprei ainda um bolo e um pão, eu queria comer. Paguei também a mesma refeição e pedi para entregar a minha loirinha, ela precisava comer também.

Não ousei me sentar no restaurante,  pedi tudo pra viajem, comer no meu quarto seria um pouco menos doloroso que comer vendo ela passando de um lado para o outro sem poder tocar e beijar.

Estava quase acabando meu café da manhã quando recebi uma mensagem.

"  obrigada pelo lanche. "

Foi o suficiente para me fazer desabar de novo. Eu não respondi, não tinha o que falar.

Um pouco depois do horário do almoço, Alex apareceu e trouxe consigo a única pessoa que eu desejava não ver nunca mais.

- Oi Camila, tudo bem? - falei apático.

- Nossa você ta horrível, senti sua falta. - ela disse me dando um abraço e dois beijinhos.

- Ah obrigada. - eu nem sabia o que falar, olhei pra Alex.

- Ela perguntou por você todos os dias, hoje quis vir aqui então eu permiti.

- Eu nunca entrei aqui com os dois, é até estranho. - ela olhava de um para o outro.

- Fica a vontade, o que quer fazer? - falei direcionado a ela.

- Vamos pedir comida! - ela sugeriu.

- Boa ideia! - Alex concordou.

- Eu estou sem fome. - falei me sentando no sofá rasgado.

- São dois contra um, então vamos pedir comida. - Camila falou.

Eles começaram uma discussão sobre o que pedir, eu como qualquer coisa, então deixei que eles escolhessem, levando toda a minha atenção para o jogo que acabei de começar.

A comida chegou, estava deliciosa, eles pediram massas diferentes com molhos diferentes e experimentei um pouco de cada um, no final estava lotado.

Ficamos deitados um tempo, Alex em sua cama, eu no sofá e Camila em minha cama. Adormecemos eu acho, pois só me lembro de ouvir vagamente Camila se despedindo para ir embora.

No início da noite meu colega trouxe as matérias pra mim, o que foi um grande ganho, agora tinha desculpa para não precisar socializar.

As férias estavam chegando, eu ia para a casa dos meus pais, estive pensando tanto em levar Mel pra eles conhecerem. Mas isso ficou pra trás.

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