Capítulo 4 - Lorenzo

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Ivan acabara de chegar e vinha sorrindo em minha direção e de meus recentes companheiros de surras, que a pouco descobri serem russos.

_ Ora, ora... dois pelo preço de um, nesse caso, três. – disse olhando para nós.

Um dos russos xingou e cuspiu em Ivan. E numa fúria assassina, Ivan desferiu um golpe em seu rosto, com a bengala que ele carregava. Sangue jorrou por todo lado, inclusive no meu rosto.

Confesso que meu desconforto aumentou consideravelmente, mas eu já estava na chuva... então.

_ Precisava mesmo fazer isso tão rápido? – perguntei com deboche. _ Por que teve o trabalho de nos trazer então?

Ele se voltou lentamente para mim. Circulou ao meu redor, levantou meu rosto com sua bengala e me olhou nos olhos. Eu sustentei seu olhar sorrindo.

_ Ora, ora, ora. Eu sabia que você não me era estranho. – Olhou novamente para o meu estado e continuou. _ Eu sei por que cada um deles estão aqui. Sei disso porque eram penetras em minha festa. O que não sei... ainda, é o que você fazia lá... para quem está trabalhando e porque voltou dos quintos dos infernos, somente para me irritar. Não foi o bastante ver o papai e a mamãe morrer, quer se juntar a eles?

_ Então... você realmente lembra de mim? Que lisonjeiro. – Continuei sorrindo. _ Eu não preciso me juntar a ninguém, trabalho melhor sozinho. Nesse mundo, ninguém é confiável. Você mesmo é prova disso. Deixou seu amigo e sócio para morrer... sozinho. E agora, está jurado pelos melhores, entre os melhores do mundo. – Fiz o melhor para manter a respiração regular e o desconforto dolorido crescente. Apesar da dor que sentia e a consciência que parecia querer me abandonar continuei. _ Eu penetrei na sua festa, sozinho aliás. Fazia parte do meu último presente, para mim mesmo. Acabar com você. Depois percebi que lá ficaria complicado porque você estava rodeado de russos, irlandeses, africanos, chineses, italianos, japoneses... Notei também que, nem todos os seus convidados estavam felizes. Sabe qual o lado bom de se estar sozinho, você passa desapercebido. Você se enfia em algum lugar e escuta tudo. Percebe tudo. É claro que notei que daquela mistura não podia sair coisa boa..., E como todos sabemos, já deu merda né. Eu vi a explosão que teve lá. Coisa linda, obra de arte. Infelizmente parece que sempre tem alguém, um passo na minha frente. E agora, com esses meus novo amiguinhos russos aqui ao lado, me pergunto quanto tempo até que façam contigo o mesmo que fizeram com teu sócio... Perguntinha, já está desesperado?

Ivan apertou um botou na lateral da bengala e no seu topo apareceu uma lâmina, a qual ele passou lentamente pelo meu rosto e eu pude sentir o sangue descer.

Apesar da ardência, não consegui desviar os meus olhos do dele.

Eu queria muito matar aquele homem, minha mãe não merecia ter tido aquele fim, minha irmã não precisava ter ficado órfã, mas no fundo eu sabia que havia grandes probabilidades de morrer ali. Embora eu estivesse tentando me manter desperto e aparentar estar bem, eu já conseguia ver a luz branca no fim do túnel e não parecia nada bom.

_ Ahh os Castilhos. Sabe que seu pai era um porco, não sabe. Tinha esperança, de que vocês tivessem se saído melhor que ele. Sabia que ele fez sua mãe me servir, muitas e muitas vezes... em troca de dívidas que ele adquiriu comigo. Depois quando eu recusei sua mãe, pois ela estava se tornando uma drogada e obsoleta, ele tentou me dar sua irmã... em troca do meu silêncio, da minha proteção e claro da enorme dívida dele comigo. E eu me lembro de ir com ele até o colégio em que ela estudava, ela não devia nem ter idade suficiente para saber trepar. Claro que como eu nunca tive apreciação por pedofilia, recusei o convite, mas meu afilhado tenho certeza de que apreciou. – Disse apertando a ponta afiada da bengala no meu peito. _ Se sua irmã não tivesse escolhido certo naquele dia, nenhum de vocês estariam vivos hoje. Deveria ter sido grato pela minha generosidade e sumido da face da terra. Deixei vocês irem porque vi que, apesar de ter dois pais de merda, a garota sempre teve fibra, aguentou firme tudo que passou e nunca titubeou, nem por um segundo. Ela nunca foi aquela menininha chata e chorona, como sua mãe era. Ela sempre soube fazer dos limões que a vida lhe dava, boas limonadas.

Mulheres Poderosas III - PietraOnde histórias criam vida. Descubra agora