Capítulo 13 -Pietra

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Há duas semanas eu havia me instalado na sala ao lado do quarto, que agora era a UTI, onde Lorenzo estava sendo monitorado.

Meu coração estava pequeno e apertado. O corpo de Lorenzo melhorava consideravelmente, mas ele ainda não tinha saído do coma. Pra piorar, não era nada legal saber que eu tinha um alvo nas costas.

Eu não tinha medo de ser alvo de ninguém. Fui criada para não ter esse sentimento, mas imaginar que de alguma forma não veria mais Lorenzo, caso algo acontecesse comigo, era um martírio. Pior seria se algo acontecesse com ele e eu não estivesse ao seu lado.

Há alguns dias o complexo parecia ter um ar estranho, algo meio sombrio acontecendo. Mas a aparência era de que aas coisas continuavam as mesmas. Poucos tinham acesso a nossa ala do complexo e Francesco tinha limitado nosso trânsito ao mínimo necessário. A ordem era não confiar em ninguém.

Entretanto, havia uma movimentação atípica no quarto de Lorenzo. Aparelhos saiam, outras coisas entravam. Bailey filha de Irina estava aqui, auxiliando a mãe, ambas eram médicas maravilhosas e meu coração estava apertado, com uma estranha sensação.

Eu tinha perguntado diversas vezes a Irina o que estava acontecendo, mas ela desconversava e dizia que estavam experimentando situações que ficariam melhor para o tratamento de Lorenzo.

Para mim aquilo não era totalmente verdade.

Nem Bailey, nemIrina tinham me olhado nos olhos, nenhuma única vez naquele dia e como se não bastasse isso, ainda tinham mandado as enfermeiras me tirarem do quarto. Agora eu estava ali plantada na sala ao lado, esperando poder ficar com ele.

Meu coração estava pequeno. Naqueles dez dias tinha escutado algumas vezes, as enfermeiras dizerem que alguém deveria preparar a mim e aos irmãos, para um possível luto.

Mas essa era uma situação para a qual eu não conseguia e nem queria me preparar. Apenas supor, cogitar tal situação... me doía a alma... só de imaginar.... pensar nessa possibilidade me deixava muito aflita.

_ Mia amata figlia...

_ Papà... – me desmanchei nos braços do meu pai. _ Perdonami papà. – disse assim que me recuperei do choro intenso.

_ Va bene figlia mia, va bene. Non preoccuparti di nulla.

Fiquei mais alguns instantes nos braços de papai, lá eu me sentia uma menininha e ele era meu escudo, minha proteção.

_ Sinto muito por isso Don Fernan. Deve estar muito decepcionado com seus filhos. Due sciocchi appassionati, due deboli.

_ Apaixonados sim, frágeis talvez, fracos não. O amor nos torna fortes minha menina. Ele nos impulsiona a fazer coisas que jamais faríamos em nosso normal, mas também nos torna alvo dos outros e de nós mesmos. Assim que nos apaixonamos, ficamos expostos, frágeis.

_ Eu lutei contra isso papà. Lutei muito.

_ Pois não lute mais Pietra. Quando ele estiver bem, viva cada instante. Na vida, principalmente nessa vida que nascemos, precisamos de cada momento, de cada instante com quem amamos. Precisamos de motivos para sair da cama, levantar-se e lutar.

_ Achei que ficaria furioso comigo e com Francesco, porque falhamos. Trouxemos para dentro da família pessoas de fora e agora estamos tão envoltos com nossos problemas que perdemos o foco.

_ Vocês são duas forças da natureza. Nunca nem sonhei que iriam fazer minhas vontades para sempre. O único, porém, é que encontraram o amor ao mesmo tempo. Se cada um estivesse nesse momento solo, o outro cobriria suas costas, mas é por isso que ainda estou aqui, para cobrir vocês nesse momento. E esse, minha menina, é o maior amor e a maior exposição que podemos ter.

_ Obrigada por entender papà.

_ Amor não se entende, se sente. É o que sinto pela mãe de vocês, Helena. É como me sinto com relação a você e ao seu irmão. E esse sentimento de hoje minha menina, fará com que se sinta pior ou melhor, dependendo do ponto de vista, quando chegarem meus netos. Filho é algo que transcende tudo, é um amor inimaginável, insuperável, não há nada igual, nada que se compare ao amor de um pai, de uma mãe por seus filhos. Eu entendo seu sofrimento, eu entendo seu carinho, eu entendo seu amor... ele é o escolhido pelo seu coração. Assim como a menina Mia foi a escolhida por seu irmão, assim como sua mãe foi a escolhida para o meu coração. O que quero que entenda é que, maior que o amor que sinto pela mãe dos meus filhos, é o amor que sinto por vocês, meus filhos. Por isso, minha menina...- Papai me acolheu novamente em seus braços e me abraçou com força, beijou minha testa e disse. _ Sei que você ficará extremamente irritada comigo, mas irá me entender. Quando o momento chegar, fará o que for preciso para manter você e aos outros bem.

_ O que está planejando papà... – senti uma picada no pescoço e meu mundo escureceu.

Mulheres Poderosas III - PietraOnde histórias criam vida. Descubra agora