Capítulo 39 - Lorenzo

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Fazia uma semana que Luna e Pietra tinham ido embora.

Enrico dizia que elas estavam bem e que assim que Irina me liberasse poderíamos sair dali, segundo Irina seria em breve.

Eu achei estranho pois, eu havia escutado uma conversa entre Luigi e Irina onde ele perguntava a ela sobre minhas condições de saúde, perguntava se eu aguentaria um ambiente de pressão, se meus pulmões e minha cabeça estavam prontos para a ação e nesse dia, para ele, ela disse que eu estava cem por cento nove e que minhas condições físicas eram melhores agora que eu treinava diariamente do que quando eu cheguei na máfia.

Quando questionei Irina sobre isso, ela desconversou e me mandou continuar com os exames e com os exercícios.

Todos os dias eu me exercitava por pelo menos quatro horas, fazia exames e tinha uma boa alimentação.

Já não tomava mais medicamentos nenhum e me sentia pleno.

Esse era apenas mais um dia. Onde eu fazia mais do mesmo e ficava mais e mais incomodado e entediado por não ter muito o que fazer.

Pra piorar ainda não tinha conseguido contar aos meus irmãos, ou a Pietra que minhas lembranças estavam todas ali, assim como minha saudade.

Depois do jantar e de uma bateria completa de exames realizados por Irina, fui me deitar no quarto em que estava alocado, quando acordei, estava trancado, algemado e isolado num tipo de porão, tomado pela escuridão.

Não sabia se era dia ou noite.

Estava apenas de boxer e sem nada que pudesse me dizer como tinha ido parar ali. Minhas mãos estavam presas as costas e podia sentir o balanço enjoativo refletido em meu estomago, como se eu estivesse em um barco ou algo similar.

Um tempo depois, fui arrancado do porão e jogado num convés com um forte cheiro de peixe.

_ Abra a boca. – Mandou o homem que segurava meus braços. _ Não engula. Essas são as chaves das suas algemas. – Enfiou a chave na minha boca e segurou meus lábios fechados.

Tentei dizer algo, perguntar que porra estava acontecendo, mas ele levantou a mão, em claro sinal de que eu deveria me calar.

_ Presta atenção, porque serei breve e não falarei outra vez. Estamos somente eu e você aqui. Isso quer dizer que ninguém virá atrás de você, ninguém sabe onde está e ninguém vai te ouvir. A partir de agora está por conta própria. Daqui até a próxima praia são doze quilômetros. A água está em torno de 13 graus, se você for na direção errada a tendência é que ela esfrie ainda mais. Quanto mais fria a água, menos tempo você irá durar vivo. Quanto mais perto da praia você estiver, mais quente a água estará e mais tempo você durará. A água nessa temperatura te dará em média de quatro a seis horas de vida. Uma boa dica é olhar a direção do barco, ou ficar de costa para o sol, mas eu não esperaria tanto se fosse você. Agora são três da manhã, se com movimento do corpo é difícil, sem ele você morrerá rapidamente. Caso consiga chegar à praia, irá encontrar roupas e mais instruções. Agora, respire profundamente, feche a boca, segure a chave e boa sorte.

Num impulso ele me jogou na água gelada e escura daquele imenso mar.

Depois do susto, tentei subir o mais rápido que pude, afinal eu precisava seguir a porra do barco e descobrir em que merda havia me metido agora.

Enquanto subia e via a direção do barco que se afastava, tentei nadar com os braços nas costas, mas percebi que seria bem mais complicado. Eu tinha a chave, agora precisava pensar numa forma de abrir a porra da algema. Depois de umas tentativas infrutíferas, consegui passar minhas pernas por dentro dos braços, não sem antes ferir meus pulsos.

Eu não sabia exatamente o que tinha naquelas águas, mas sabia que tubarão apreciava e muito sangue e eu estava em alto mar, era melhor me prevcaver.

Segurei a chave nos lábios e peguei nas mãos. Depois de algumas tentativas e de quase perder a chave algumas vezes, consegui abrir uma das algemas e quando fui abrir o outro lado a chave caiu na escuridão do mar.

Teoricamente minhas mãos estavam livres. Não como eu gostaria, pois a algema era um peso extra totalmente desnecessário no braço esquerdo, dificultando mais minhas braçadas, mas eu conseguia me movimentar melhor do que antes.

Procurava dar braçadas longas e grandes e agora eu agradecia o intensivo na piscina da ilha.

Para mim a água continuava fria e eu cada vez mais cansado.

Não tinha ideia de quanto tempo eu estava na água, ou do quanto eu já havia percorrido, mas já podia ver o dia dando seus primeiros sinais e não me parecia algo bom.

Apesar de estar clareando, no lugar onde eu estava, parecia estar se formando uma tempestade.

A força da água, me empurrada com as ondas e percebi que logo a frente havia uma formação rochosa.

Se não fosse a praia, pelo menos que eu desse a sorte de subir numa daquelas pedras antes da tempestade chegar até mim, pois ela com certeza me jogaria naquelas pedras sem piedade.

Apesar da dor nos braços e da canseira, me esforcei mais e usei a força da água, que me jogava cada vez mais perto das pedras.

As rochas de cima eu conseguia ver e tentava me afastar das que aparentavam ser piores, mas as que estavam embaixo eu não tinha ideia de como seriam.

Uma onda mais forte me jogou rumo a uma rocha, foi o tempo de virar e bater a lateral do braço. Na sequência pulei e tentei subir na pedra que havia lá.

Percebi que ali, apesar de ainda um pouco fundo já tinha areia. A chuva começava a cair com muita força.

Andei entre as pedras e subi um pouco mais buscando uma pedra mais alta, uma que talvez pudesse me proteger das fortes ondas e que também me desse uma visão de onde estava.

Me esfolei bastante tentando subir nas pedras molhadas e escorregadias, mas o esforço valeu a pena.

Eu consegui ver que, um pouco mais a frente, havia uma praia.

Ela não estava muito distante, mas eu não conseguiria sair dali agora, porque a tempestade parecia piorar a cada minuto.

Decidi aguardar a chuva passar ali, sentado onde estava.

Virei as costas para a praia e dei de cara com um magnífico horizonte. O sol nascia ainda tímido bem lá no fundo e parte do céu, lá no fundo, já começava a limpar a tempestade.

Não sei quanto tempo fiquei ali, só me lembro de pensar nos meus irmãos, nos novos amigos e em tudo que eu ainda queria viver com eles.

Assim que a tempestade passou e as águas acalmaram, desci das pedras e nadei o restante que precisava pra chegar até a praia.

Um pouco afastado da beirada, entre o início da mata e da praia, pendurada num pedaço de madeira, havia uma mochila.

Abri e despejei seu conteúdo no chão.

Havia uma blusa térmica, um par de botas e uma calça militar.

Como eu estava cansado e com muito frio, fui logo me enfiando na roupa e no calçado que tinha uma luzinha que parecia piscar, assim que calcei.

Havia também uma garrafa pequena de água e um mapa com um caminho a ser seguido.

Junto ao mapa, havia um bilhete que dizia, que eu deveria chegar antes do anoitecer, que se eu quisesse comer deveria pescar e que uma vez colocado as botas só eles poderiam tirar ou elas explodiriam.

A merda se resumia em, perceber tarde demais que, além de explosiva, a bota não era meu número e já começava a apertar.

Revirei a bolsa mais um pouco e encontrei uma pequena faca e um isqueiro.

Comecei a andar querendo acabar logo com aquela tortura.

Eu nunca fui bom em pescar e o tempo que eu perderia tentando, eu poderia chegar mais rápido e tirar aquela merda de bota dos meus pés.

Mulheres Poderosas III - PietraOnde histórias criam vida. Descubra agora