Capítulo 43 - Lorenzo

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Me permiti sentar e descansar por uns vinte minutos.

Acredito que seria o mínimo aceitável, pois precisava recuperar a força.

Somente o tempo suficiente para ver se o tal curativo, faria ou não efeito.

Por incrível que pareça, o emplasto deu uma aliviada na dor e consegui me colocar em pé. Tirei totalmente o pano da canoa. Já tinha rasgado ele quase todo, então dobrei o resto. No barco havia uma corda, remos, varas, redes de pesca e um pequeno motor, embora o combustível ali, estivesse pela metade.

Numa arvore próxima ao barco havia uma carretinha pequena, dessas que acoplamos em carro. Os pneus, estavam bem gastos e não sei se durariam o caminho que deveria ser percorrido, mas era o que eu tinha a disposição.

Pelo mapa, o caminho até o rio, não parecia ser muito distante. Mas sendo mata adentro, eu não tinha como saber o que encontraria no caminho e quais imprevistos poderiam acontecer.

Amarrei um pedaço de tecido na minha cintura e em ambas as mãos. Ajeitei a carreta no chão, puxando o barco sobre ela. Coloquei dentro dele os remos, o motor, o resto do tecido e tudo aquilo que eu acreditei que seria de utilidade.

Ações que eu faria rapidamente, gastei três ou quatro vezes o tempo.

Meus pés doíam muito e o cansaço estava gritando dentro de mim. A única coisa que me mantinha em pé era minha raiva, minha determinação e a saudade de Pietra e dos meus irmãos.

Depois do que eu acredito, ter passado umas três horas, enrolei mais um pedaço de pano na tocha improvisada, amarrei a corda em minha cintura, peguei a tocha e fui em direção a carreta, amarrando a corda nela também.

Eu estava pronto para começar o caminho.

Então passei a arrastar a carreta com a ajuda das minhas mãos e do meu corpo.

Existia uma espécie de trilha no caminho indicado pelo mapa, mas a trilha era apenas para uma pessoa. Muitos lugares, era bem difícil passar com a carreta.

A todo momento eu precisava parar pra tirar galhos, pedras e assustar bichos do caminho. Isso quando não tinha que, ajudar a passar a carreta carregada, em lugares em que havia raízes fixadas no chão.

Foi um longo caminho, difícil e dolorido.

Parei muitas vezes e pensei em desistir em outras. Eu me sentia fraco e sabia que eles não voltariam por mim.

Para piorar a situação, prendi o meu pé em um tronco e me espatifei no chão. Por sorte a tocha não se apagou e nem o fogo se alastrou pelo mato, pois a grama era verde e já havia um sereno que caia nas folhas.

Ainda no chão, levei minha mão para alcançar a tocha. Foi então, que percebi que no pé da arvore havia uma seta pequena, porém florescente, indicando o caminho.

Esqueci a dor e me pus de pé no mesmo instante.

Passei a carreta pelo tronco e clareie o chão próximo aos pés das arvores, encontrando outra seta.

Foi como se alguém houvesse me dado um novo ânimo.

Passei a seguir as setas, ao invés do mapa e pouco tempo depois eu estava nas margens do rio.

O lado bom, é que eu não iria andar mais puxando o barco.

O lado ruim é que eu não conseguia encontrar o local indicado no mapa. Aparentemente, eu estava bem mais pra baixo. O mapa tinha várias voltas e as setas pareciam mais uma reta.

Soltei a corda da minha cintura e amarrei a carreta numa árvore. Beirando o rio, caminhei um pouco mais acima. Encontrei a árvore indicada no mapa. Pendurada nela, havia uma lanterna, peguei ela e testei. Funcionava, então apaguei a tocha nas águas do rio.

Teria que subir um pouco com o barco para fazer a travessia no local certo. O Rio era extenso. E pelo menos no escuro a margem parecia bem longe.

Voltei ao barco com a tocha e a lanterna e comecei o trabalho de colocar o barco no solo, colocar o motor e carregá-lo para a água.

O impacto da água gelada no meu pé que queimava, foi dolorosamente bom. A água fria era dolorida, mas também aliviava.

Tive um pouco de dificuldade de subir no barco, pois qualquer lugar que colocava o pé doía, mas finalmente subi.

Puxei o motor e tentei fazê-lo pegar algumas vezes, na quinta tentativa ele resolveu funcionar e eu fui em direção a outra margem do rio.

A ideia era atravessar o rio e se alguma coisa desse errado, eu já estaria do outro lado e poderia remar ou andar até o ponto de extração.

Fiz isso, atravessei o rio primeiro e depois coloquei o barco para subir o rio.

Só tinha um problema no meu plano. A margem desse lado do rio, era totalmente fechada pela mata.

No mapa, se eu tivesse saído no lugar certo, eu teria que subir o rio, aparentemente pouco. No máximo, gastaria pouco mais de uma hora, como indicava o mapa, mas já fazia umas duas horas que eu estava no barco e nada, nem um local onde desse para descer.

Para ajudar a gasolina do motor terminou e eu passei a remar.

Primeiro com vontade e afinco. Depois, não mais.

Quanto mais eu me esforçava, menos alcance eu tinha. Um tempo depois e com os braços ardendo, eu já beirava o desespero.

Ironicamente, a lentidão com que remava foi o que me ajudou, pois caso eu ainda estivesse com gasolina ou remando rápido, buscando uma margem aberta, não teria percebido um pequeno caminho aberto na mata e lá ao fundo dele, uma claridade.

Levei o barco até a beira da pequena margem e lá encontrei outra carreta.

Essa, de aspecto bom e com pneus melhores. Pendurado na carreta, apenas um bilhete dizendo: "Guarde da mesma forma que achou." Puxei o barco da água e deitei a carreta no chão.

Fiz o mesmo processo anterior.

Amarrei os panos nas mãos e cintura. Prendi a corda na carreta e passei a puxar a mesma até o ponto claro, que eu via ainda de longe.

Cheguei à fogueira o dia parecia querer amanhecer.

Havia um peixe na brasa e eu não pensei, apenas me soltei e fui o mais rápido que pude ao encontro dele.

Claro que, fui parado quando estava quase lá. Um cara muito alto com aparência de ser muito mal, olhou feio pra mim e apontou com a cabeça o barco.

Entendi que tinha que guardar primeiro e comer depois, mesmo frustrado fiz. Coloquei o barco ao lado de outro que tinha ali. Peguei tudo que era útil para mim e amarrei dentro do tecido que restava do barco. Arrumei a carreta no canto e me arrastei de volta a fogueira.

O brucutu me deu água e disse que se eu quisesse peixe, teria que pescar. Mas que se eu fosse pescar, eu iria ficar ali por muito tempo, pois ele estava indo pegar um avião.

Ele saiu andando e eu fui com ele, carregando minha trouxinha e a caneca de água que ele tinha me dado. Ele caminhava depressa e mesmo eu dizendo que não tinha condições, ele apenas dizia que quem precisava estar no avião antes das portas se fecharem, era eu não ele.

Determinação era uma coisa de louco.

Coloquei a dor de lado e fingi que ela não estava ali, acredite ou não isso funcionou muitas vezes pra mim. Cheguei no avião pouco depois dele. Ele já estava na cabine ligando a aeronave e assim que eu pus o pé pra dentro, ele fechou as portas e começou a taxiar numa pequena pista no meio da mata.

Levantamos voo em companhia do sol, que se levantava num raiar de um novo dia.

Eu não tinha ideia se tinha ou não acabado, o que eu sabia com certeza, é que se eu conseguisse terminar de cabeça erguida, eu teria vencido mais uma batalha muito importante pra mim.

Era isso que importava.

Mulheres Poderosas III - PietraOnde histórias criam vida. Descubra agora