"Você já pensou em como poderia ser os últimos momentos da sua vida?
Eu penso sobre aquele último suspiro. A tentativa de puxar o ar. Penso nos músculos do meu corpo queimando e se dilacerando, completamente inúteis. Nada de nada. Só a escuridão. Ma...
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Em qualquer conversa, seja com quem for, a pior parte sempre será o silêncio que ficará entre ambas as pessoas. Em um silencio constrangedor, eu olhava para Hange com dor. Uma das dores que eu sabia que iria ter que enfrentar no momento em que me contaram sobre a minha doença. Eu sabia o quanto aquilo machucou a ela, e eu faria de tudo para tentar voltar no passado e reverter a situação, não contando nada a ela.
Ela olhava para um ponto fixo da lua. Seus olhos estavam vermelhos pelo choro. As lágrimas caiam, e sabíamos que não havia nada a ser feito para impedi-las. Seu choro era silencioso e por mais que aquilo doesse para mim também, eu teria que ser forte. Todos ao meu redor teriam que ser.
- Em qual estágio...? – Ela questionou entre um soluço e outro. – Em qual estágio o câncer já se encontra?
- O médico explicou que há até IV (quatro) estágios que um câncer pode chegar. – Segurei uma de suas mãos, acariciando-a. Ambas olhamos para o gesto. – Eu não me lembro direito, mas o câncer de meu pai deveria estar no estágio IV, o mais avançado..., mas não importa o estágio desse câncer, Hange. Não devemos nos preocupar se ele já está avançado.
- Por favor, {S/N}. Eu preciso saber. – Ela levantou sua face para ficar cara a cara. Aquilo doía para mim, e eu sabia que iria doer ainda mais nela.
- Meu pai foi informado que esse câncer, Pulmorimista como é chamado, não há cura. Uma vez o tendo em seu corpo, ele morre junto com a presa. – Notei a cara de Hange fechar mais. – Entretanto, o médico me informou que não adianta fazer tratamento, pois meu câncer está ainda mais evoluído do que a do meu pai.
- Quanto... Tempo ainda lhe resta? – Notei sua respiração falhar. Ela não queria perguntar, mas eu sabia o quão forte era, e por isso, estaria determinada em seguir com isso até o fim. Notei também que ela estava aceitando a minha situação, por mais que doa.
Olhei para o chão, pensando o quanto, a partir daquele dia, eu estaria me machucando e machucando as pessoas que eu mais amo ao meu redor. O câncer não é o pior disso tudo, e sim a dor que ele causa às pessoas com quem convivemos.
- 60 dias.
Houve um silêncio longo, os segundos pareciam não passar.
- Então irei te amar com todo o meu coração por durante todos esses 60 dias. – Ela levantou a cabeça, determinada. Pegou o pingente que eu ainda segurava em sua frente e o pôs ao redor de seu pescoço. Ele estava vazio, e aquele vazio deveria ser preenchido com uma foto nossa. – Você não estará batalhando contra esse câncer sozinha. Eu, na verdade, todos nós estaremos aqui batalhando junto a você. – Ela se levantou em um pulo, me assustando.
Eu me levantei, ficando ao seu lado. Olhei para a lua, que ainda depois de tantas lágrimas derramadas, continuava a ter o melhor brilho que eu já havia visto. Hange segurou uma das minhas mãos, virou-se para mim e para a minha surpresa, sorriu.
