"Você já pensou em como poderia ser os últimos momentos da sua vida?
Eu penso sobre aquele último suspiro. A tentativa de puxar o ar. Penso nos músculos do meu corpo queimando e se dilacerando, completamente inúteis. Nada de nada. Só a escuridão. Ma...
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Ninguém quer perder ninguém, essa é a verdade sobre amar alguém. Quando você acaba por ouvir em um rádio, celular ou até computador, de uma família que perdeu alguém próximo, você acaba nem dando bola. Mas quando é sobre alguém próximo, não há dor que se compare.
- Acho melhor você voltar pra aula, Floch. – Falo enquanto observava algumas crianças brincando de esconde-esconde. – Não deveria ter vindo atrás de mim.
- Se você acha que eu não deveria estar aqui, então eu também acho que você não deveria estar aqui. – Seu tom de voz é grosso, sério. – Você deveria estar dentro da sala de aula, aproveitando como sempre fazia, como sempre me mostrava a língua no começo.
Eu ri.
- Não deveria dar bola para o que aquele idiota falou.
- Mas é a verdade. – Olho para sua face, seus olhos mudaram de alguma forma. Não parecia mais aquele garoto ruivo que conheci nos primeiros dias.
- Você é chata. – Ele fala enquanto sorri. – Muito chata. Por que não aceita que é mentira e vamos curtir o restante do dia?
- Como assim?
- Se voltarmos para dentro daquele colégio, teremos que pegar autorização. Mas se não voltarmos, só ganharemos falta. Então o que me diz? Quer conhecer um lugar bom, ou quer voltar e ter aula com aquele narigudo do professor de Filosofia?
Ele tem a sua mão estendida em minha frente, como uma forma de pedido para ser aceito. Olho em direção do colégio e logo após a sua mão. Não penso duas vezes. Aceito o pedido.
Ele me ajuda a levantar e faz questão de levar meu tubo de oxigênio nas mãos.
- E a minha mochila? – Falo finalmente ao lembrar dela.
- Sua namorada pode pegar. – Ele sorri e eu sorrio de volta.
Floch me guiou por um longo caminho através do parque, cruzando-o pelas famílias e chegando do outro lado da cidade. Eu não sabia ao certo onde estávamos indo, até porque, aquele beco da cidade eu nunca havia ido.
- Onde você está me levando? – Eu perguntava a cada minuto.
- Você verá.
Cruzamos todas as lojas desconhecidas, passamos por becos arrepiantes, pegamos alguns atalhos e mesmo assim nunca chegávamos.
- To achando que você só quer fazer exercício físico comigo. – Ele ri e depois pede para eu fechar meus olhos. – Não quero, tenho medo.
- Confie em mim, você não irá se arrepender. – Fecho devagar. Ele segura uma das minhas mãos, me conduzindo lentamente até o local.
Poucos metros após, paramos e logo sinto o cheiro de algo doce, algo muito bom sendo preparado, algo que me lembrava a infância.
