_ Como assim você vai dormir fora hoje?
Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Toya não podia fazer isso comigo. Não justamente naquele dia em que eu estava me sentindo tão mal. De novo.
Mas ela não parecia se importar. Nem com o fato de eu estar chateado, muito menos em me deixar sozinho numa sexta-feira à noite.
_ Assim Michael: estou pegando umas roupas, estou colocando nesta mochila, vou descer, o motorista vai vir me buscar, eu vou sair e não é para você me esperar porque eu volto só amanhã à noite. Só isso.
_ Você não pode fazer isso... Eu não acredito...
Eu estava sentado no sofá e minha irmã estava no quarto. O apartamento que dividíamos em Nova Iorque era grande, mas eu conseguia vê-la. Até então ela não olhava para mim enquanto falava, apenas se maquiava diante do espelho, arrumando-se para "cair na noite", como ela dizia.
Mamãe ficaria uma fera se imaginasse a roupa que Toya estava vestindo, pior ainda se soubesse que ela estava programando passar um dia inteiro fora, sabe lá Deus onde, sabe lá Deus com quem... Toya tinha feito uns amigos no tempo em que estávamos aqui em Manhattan. Ela fazia amigos com facilidade.
_ Michael, sinceramente, você deveria fazer o mesmo. Pelo amor de Deus! Não cansa desse looping infinito? As gravações terminam essa semana. A Diana te enrolou todo esse tempo! Essa mulher enlouquece você, faz você rastejar só para te manter apaixonado mas, na hora que você quer uma definição, ela faz o que fez hoje: pula fora, diz que é impossível, que a diferença de idade é grande, que nunca daria certo... Eu cansei de ver você na fossa por causa dela! - esbravejou, sendo, de fato sincera.
E eu sabia que cada palavra dela era verdade. Uma dura verdade que eu renegava em aceitar.
Eu amava Diana...
Talvez chegasse a ser doentio. Já vinha me perguntando sobre isso... Mas eu não conseguia entender, como Diana não conseguia perceber que éramos perfeitos um para o outro? Com ela não via que as coisas só fariam sentido, tanto para mim, quanto para ela, se estivéssemos juntos?
Ela reclamava que os homens não sabiam tratar as mulheres corretamente.
Eu achava que as mulheres não sabiam ser elegantes e divertidas sem serem soberbas e vulgares.
Ela dizia que eu era gentil e admirava o modo como eu agia com ela.
Eu via nela um modelo de sofisticação e leveza que não encontrava em mais nenhuma mulher.
Não era óbvio? Combinávamos em tudo!
Para mim, o fato de eu ser 13 anos mais jovem era totalmente irrelevante... Quantas mulheres não se casavam com homens 10, 15, até 20 anos mais velhos que elas e ninguém dizia nada? Qual era o problema de ser o inverso? Eu odiava esse tipo de convenção social, esse tipo de regra que a sociedade cuspia, que não tinha sido ditada por ninguém...
Naquele dia eu tinha tentado mais uma vez... Comprei um buquê, ensaiei um discurso. Eu a chamei para jantar após o último take de gravações. Fomos a um dos melhores restaurantes da cidade. Eu realmente achei que ela compreenderia... Achei que ela me olharia sendo mais do que apenas um garoto, mas... Antes mesmo de falar a primeira palavra, ela me veio com o papo: "Você é um menino de ouro, por isso sua mãe tem tanto orgulho de você...".
O resto da noite foi um fiasco. Assim como todas as outras noites que eu tinha tentado me declarar... E assim como nas noites anteriores, eu terminava do mesmo modo: sentado no sofá, sozinho e arrasado.
E agora Toya me jogava na cara o que eu já sabia: eu era um idiota por insistir naquela ilusão. Só que desta vez, ela não passaria a noite me dizendo isso, nem dividiria o balde de pipoca comigo ou assistiria ao filme na tv. Pelo jeito, minha irmã tinha arrumado algo bem melhor para fazer.
_ Vai dormir aonde? - perguntei, sem conseguir disfarçar meu ciúmes e minha curiosidade.
Minha irmã me olhou de cima abaixo.
_ Ainda não sei. Onde a cama for mais convidativa.
Arregalei os olhos para ela. Eu não acreditava que ela teria coragem...
_ Você não vai fazer isso...
Ela riu, mas eu não sabia bem o que significava aquela risada. Eu achava que ela estava blefando... Toya não era santa, eu sabia disso. Mas não era nenhuma maluca também. Ela sabia que qualquer escândalo que se metesse, colocaria todos nós em apuros. Cada um dos Jacksons sabia bem do peso do nome que carregava.
Mas naquela noite ela estava querendo me chocar. Me chocar e me dar um chacoalhão._ Por que não? Michael, eu sou jovem, solteira, e não frequento o salão do reino, ok? Aliás, nos últimos meses, nem você. Somos adultos. Pare de agir como se fossemos crianças, ou como se precisássemos ser os jovens modelos da América o tempo inteiro! Além do que, se você não contar, ninguém vai saber, certo? - disse ela, num tom que eu entendia ser um aviso.
Eu não pretendia contar. Não era dedo-duro. Só não achava correto...
_ Não vou contar! O problema é que eu também não quero ter que ficar guardando esse segredo, porque de certa forma, será como se eu também estivesse escondendo algo...
Cruzei os braços. No fundo, acho que eu não estava bravo apenas por Toya sair... eu também estava bravo porque queria que ela ficasse ali comigo. Eu estava irritado porque queria que alguém compartilhasse da dor que eu estava sentindo comigo, mas, aparentemente, eu já tinha sofrido tantas vezes com Diana que ninguém mais dava crédito para minhas crises. Ninguém tinha paciência para ouvir os mesmos lamentos, as mesmas reclamações que eu queria fazer.
La Toya bufou, pegou a bolsa, as chaves e abriu a porta.
_ Já que você vai ter que esconder algo da mãe de qualquer jeito, então aproveite e arrume algo interessante pra fazer. Você tem 19 anos Michael! Trabalha desde os 5. Não acha que merece uma folga? Um tempo para você? Sempre sendo certinho, correto, responsável... se permita ser irresponsável pelo menos uma noite na sua vida! Quem sabe isso não te rende a inspiração para o próximo hit?
La Toya se aproximou, me deu um beijo no rosto, apertou minha bochecha e saiu, saltitante pela porta, me deixando com minha tristeza, meus lamentos, e um monte de pensamentos.
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Michael Jackson - Billie Jean
FanfictionCONCLUÍDO "Billie Jean não é minha amante, é apenas uma garota que diz que eu sou o único, mas o menino não é meu filho..." Eu sei que você conhece esses versos. Todo mundo conhece. O que ninguém sabe é o contexto, como eles surgiram e a história po...