Um colapso

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Visão de Michael

Não vi mais meu pai nos dias antes do ano novo. Ele não fez questão de falar comigo, e eu menos ainda de falar com ele. Na verdade, eu tinha tantas coisas em mente que realmente não ocupei muito a cabeça com isso.
Eu sentia que tinha uma música querendo vir...
Às vezes era assim. É difícil explicar. Eu tinha ouvido uma linha de baixo e ela ficou na minha mente. Mas faltava algo. Eu até podia arriscar algumas notas no instrumento... um teclado, ou guitarra, mas não era assim que a canção se criava. Saber tocar um pouco não me ajudava e eu me dedicava muito pouco a isso. As músicas pareciam ser enviadas pra mim diretamente na minha mente e eu precisava cantá-las. E eu sentia que tinha algo especial surgindo...

O som forte, os acordes começando em F#m (fá sustenido menor) e depois indo para Bm (si menor) ficavam dançando em minha mente, e eu sabia que um som forte como aquele precisaria de uma letra forte, uma história marcante.

Alguns versos teimavam em vir, algumas vezes... mas não eram versos que eu me permitiria cantar. Eu não podia falar sobre aquilo, não explicitamente como os versos chegavam pra mim. De qualquer modo, eles vinham soltos, sem uma lógica... eu nem os tinha anotado, apenas gravado a linha de baixo em beatbox como geralmente eu fazia.

"Billie Jean is not my lover

She's just a girl that says that I am the one (do you know?)

The kid is not my son"

(Billie Jean não é minha amante

Ela é apenas uma garota que diz que sou eu (você sabe?)

O garoto não é meu filho)


E eu estava assim, cantando mais uma vez esses versos, quando o telefone do meu quarto tocou. Eram 22h do dia 30. Bárbara e eu vínhamos nos falando todos os dias e alternando o dia em que eu ligava e que ela ligava. Hoje era o dia de eu ligar... e ainda faltava 30 minutos...

_ Alô?

_ Michael? Sou eu.

_ Oi amor! O que foi?

Bárbara não estava bem. Eu percebi pela voz.

_ Desculpa ligar. Desculpa ligar e desculpa mais ainda pedir, mas eu já liguei para três companhias de táxis e não consegui nenhum carro...

Eu comecei a me levantar...

_ O que foi? O que aconteceu?

Bárbara começou a chorar.

_ A Betty... Aquela maluca surtou... parece que tentou fugir... machucou um enfermeiro... eu não entendi direito. Só me ligaram e pediram para ir pra lá. Eu não falei pra ninguém aqui em casa porque a minha mãe vai pirar também se souber e a Bertha vai me encher de perguntas que eu não sei responder... Tem como mandar um carro? Alguém pra me levar lá?

_ Me espera no ponto de encontro. Eu chego em 10 minutos!

Bárbara estava desolada. Eu odiava vê-la daquele jeito.

_ Você fica no carro, ok? Não quero que você entre... eu não sei o que houve e... ela pode estar agressiva, sei lá. - pediu ela, mostrando uma força que, eu sabia, ela queria ter, mas não tinha.

_ Se ela estiver sumida, eu chamo uma equipe, a gente encontra.- eu disse.

Bárbara sorriu, triste.

_ Não preciso de uma equipe para achá-la. Só preciso saber onde vendem cocaína. Se eu achar a cocaína, acho minha irmã.- ela respondeu.

Eu odiava drogas. Odiava. As drogas destruíram o pouco de esperança que Betty tinha e a transformaram numa pessoa que ela não era, e seguiam destruindo as vidas em torno dela. Não era justo Bárbara ter que viver aquilo.

Michael Jackson - Billie JeanOnde histórias criam vida. Descubra agora