Promessas

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Bárbara me olhava quase com desconfiança, mas também com uma pitada de piedade.

_ Ok... Comece me explicando sobre como você consegue ser esse garoto simples, tranquilo... quase inofensivo e simplesmente virar do avesso quando o show começa? Porque, me perdoe, Michael: são duas pessoas distintas!

Eu sabia que aquela pauta surgiria... aliás, ela não era nova.

_ Eu já falei pra você... é como um personagem. Eu represento a música. Eu danço como a música pede e me comporto conforme a história da canção que canto. É interpretação.

_ Certo... eu entendo isso. Mas, convenhamos: para ser sexy, é preciso saber ser. Isso tem que estar dentro de você, em algum lugar. Eu assisti ao show, e eu vi o seu olhar, o modo como você encara as meninas, e eu vejo esse olhar em você, aqui, na vida real. - disse ela, com um leve sorriso nos lábios.

Um sorriso que fez eu sentir meu rosto ficar vermelho.

_ Não... quero dizer... não sei! No palco eu sei o que estou fazendo. É intencional. No dia a dia, eu não sei... - tentei montar uma argumentação, falhando miseravelmente.

_ E se você quer saber? Não é só o seu olhar! Você é... ora! Você é sexy Michael! E o modo que você se coloca mostra isso! Quando você caminha, é bonito de ver... as passadas largas, o peito aberto... entenda: fazer a leitura corporal faz parte as vezes da análise que eu faço dos meus clientes e de quem eu aciono na justiça, e a sua leitura corporal é de um cara extremamente confiante, não de um menino inseguro. Pelo menos na maior parte das vezes.

O que eu podia dizer pra ela? Eu observava o rosto de Bárbara, confiante em sua análise, mas ao mesmo tempo, gentil ao me olhar.

Eu não podia discordar totalmente dela. Eu só não sabia como expressar aquilo...

_ Tem mais algum palpite? Do porque eu sou assim? - perguntei.

Ela suspirou.

_ Você sabe o poder que tem sobre as pessoas... mas acho que chega a ter medo desse poder. Um Clark Kent que renega seus poderes. - disse ela.

Aquilo me intrigou. Eu nunca tinha pensado daquele modo....

Eu cresci com muita gente me dizendo o quanto eu era especial, o quanto eu era talentoso. Cresci vendo as pessoas chorarem ao me ver cantar. Meninas e mulheres desmaiarem ao me assistirem dançar... mas também cresci com meu pai me dizendo que isso só acontecia com esforço e trabalho. Não era dado de graça. Também cresci com a mãe falando que tudo que eu tinha era um dom de Deus. Não era meu. E eu acreditava nas duas teses, tanto na do meu pai, quanto da minha mãe.

Mas no fundo, eu sabia... eu percebia o quanto eu conseguia ver coisas que algumas pessoas não percebiam...

_ Certo... você diz sobre o que especificamente? Quando fala sobre "poder"? - perguntei, enfatizando a última palavra.

Bárbara estreitou os olhos.

_ Falo sobre sedução, Michael. Falo sobre mulheres e falo sobre essa sua modéstia enorme, porque você sabe que conseguiria ter a mulher que quisesse. No fundo, acho que usa essa falsa insegurança para se esconder de alguma coisa...

_ Talvez esconder o fato de que eu não sou tão incrível assim, porque, afinal de contas, eu não sou, Bárbara. E não posso conseguir qualquer garota... fui rejeitado pela Diana tantas vezes... sou rejeitado até hoje por ser negro, já te contei isso. - salientei, um pouco exasperado.

_ Mas isso é diferente! Essa garota, seja lá quem foi a maluca, te rejeitou por medo do que as pessoas pensariam, no mínimo. E com a Diana foi o mesmo: ela teve medo pela idade. Agora, uma garota, negra, da sua idade, jamais te rejeitaria! Você a levaria pra onde quisesse!

Michael Jackson - Billie JeanOnde histórias criam vida. Descubra agora