Nós dois não podemos tê-la

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Visão de Bárbara

Minha vida nunca tinha sido fácil. Nunca.

Mas em três semanas cuidando dos detalhes da reforma da casa de Michael e sua família e de algumas questões relacionadas a sua carreira, eu tinha chegado a uma conclusão:

Não era nada fácil ser Michael Jackson. Nem um pouco.

Para cada orçamento que eu pedia e que, posteriormente eu chegava com um cheque com o nome "Michael Joe Jackson" impresso para efetuar o pagamento, recebia devolutivas de que "um ajuste de preços precisaria ser feito", e isso, pelos mais variados motivos, e sempre para bem mais caro, é claro. Eram sempre como um bando de abutres prontos para garfar o máximo de dinheiro que podiam.

No final das contas, decidimos que eu sacaria os valores em espécie para fazer os pagamentos e andaria com um segurança à paisana. Ninguém precisava saber para quem era o material que eu encomendava.

Os contratos com os músicos, a compra ou aluguel de equipamentos para as gravações aconteciam do mesmo modo: a primeira reação quando Quincy Jones fazia o contato sempre era "Uau! É claro que eu vou! Será uma honra!", afinal, quem não queria gravar com Michael? Quem não queria ser produzido por Quincy Jones? Mas aí o momento de acertar o pagamento era comigo, e eu já sabia os valores de mercado. Já tinha estudado e me informado a respeito.

Eles sempre pediam o dobro. Senão o triplo.

Michael não gostava de falar de dinheiro. Aliás, ele detestava, ainda mais quando dinheiro e música estavam na mesma pauta.

_ Tudo bem, Michael! Eu já entendi. Esse é o meu papel: te poupar dessa parte. Eu só preciso ter uma ideia de quem é substituível e quem não é... com quem eu posso negociar e dizer "não" se a pessoa for irredutível ou com quem eu vou ter que ceder porque essa pessoa é importante pra você, entende?

Eu tentava, novamente, explicar meu ponto a Michael, enquanto ele observava as estruturas de madeira que tinham sido entregues.

_ Bom... o Bruce, o Paulinho, o Greg... o pessoal da base, esses caras são estruturais, eles entendem a densidade que quero para o som. São gente das antigas, mas que entenderam que eu preciso de novidade. É uma linha tênue, e é difícil transitar por ela... - ele explicava.

Eu ia tomando nota. E pouco a pouco ia conhecendo um Michael tão exigente e técnico que minha admiração só crescia. Ele gesticulava, como se pudesse, com suas mãos e com suas expressões, mostrar-me o que estava em sua mente. Ele fazia música com a boca, batia palmas, estalava os dedos, e eu entendia: quem estava na construção do som com ele eram as pessoas que eu priorizaria.

_ Você terá as pessoas que precisa. Pode ficar tranquilo. - garanti.

A cada dia eu ia me apropriando de um novo mundo da área jurídica, longe da vara de família, o que na verdade, era um bálsamo. Ainda que eu sabia ser importante ajudar aquelas mulheres a se livrarem de seus maridos sanguessugas, eu não tinha nem um pingo de saudade de estar perto daquelas histórias... Talvez um dia eu criasse algo para apoiar aquela comunidade, afinal sempre me pegava pensando nisso, mas no momento, eu queria estar longe.

Teria sido bom se eu tivesse conseguido simplesmente me mudar para Haveynhurst e ter deixado todo meu passado para trás, como se ele realmente tivesse sido queimado naquela grande fogueira. Mas é claro que Bertha jamais deixaria que isso acontecesse. Afinal, ela conseguiu exatamente o que queria: eu estava morando na casa de Michael, ainda que eu não estivesse morando com ele.


_ Isso deve ser suficiente, Bertha. Pelo menos por este mês. - eu disse, passando-lhe o envelope com o cheque.

Nosso encontro, marcado em uma lanchonete elegante em Bel-Air, próximo ao novo emprego dela, não foi o que minha irmã esperava. Ela queria ter sido recebida em minha nova casa, como ela dizia.

Michael Jackson - Billie JeanOnde histórias criam vida. Descubra agora