Quatro paredes

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_ Isso? O quê...

Os olhos de Bárbara me trouxeram à memória o conteúdo dos meus bolsos, e sua expressão me revelou em qual bolso ela tinha encostado.

_ Isso...- ela balbuciava.

O pequeno estojo aveludado já estava em suas mãos e suas mãos estavam trêmulas.

No meu coração, eu não sabia bem o que eu sentia...

Alívio? Culpa? Eu não conseguia discernir.

Ela poderia muito bem ter apalpado o outro bolso, não poderia? Isso teria mudado todo o rumo da noite. Eu teria revelado toda a verdade a ela, eu seria obrigado a isso.

Mas agora, como poderia fazê-lo? Como poderia interromper aquele momento para contar que eu, um dia, no passado, havia dormido com a irmã dela?

Naquele instante, uma decisão foi tomada no meu coração:

Eu não contaria nada.

Não haveria mais Billie Jean.

Eu abriria mão daquela canção. Ela estava fora.

Bárbara valia mais que uma música.

Ela valia mais que um álbum de sucesso.

Ela era a mulher da minha vida, essa era uma certeza. Enquanto Billie Jean... Billie Jean era uma possibilidade. Era uma só uma música.

Eu então me coloquei de joelhos, no meio do salão do restaurante. Eu olhava em seus olhos, admirando o brilho deles. Acho que eu nunca a tinha visto mais feliz e ao mesmo tempo, mais vulnerável.

Diferente do dia em que eu havia feito o pedido, no gramado de Haveynhurst, agora eu tinha um jantar, um cenário, e um símbolo: o anel de noivado em minhas mãos.

Segurei as mãos dela, impedindo que ela continuasse tremendo. Algumas lágrimas já desciam pelo seu rosto.

_ Desta vez o seu improviso só tornou a cena que eu planejei ainda melhor. - iniciei e abri a pequena caixa vermelha - Isso é o seu anel de noivado. Quero saber se você aceitar se casar comigo.

Bárbara então ajoelhou-se a minha frente. Seu sorriso brilhava, seus olhos cintilavam... ela ria e me fazia sorrir: era a expressão de alegria, uma genuína alegria, a qual eu me sentia abençoado por compartilhar com ela.

_ Se eu aceito? Meu Deus... Michael... eu te amo de um modo que acho que nunca, nunca vou poder explicar... ser sua é a única coisa que faz sentido pra mim. - dizia ela, quase em êxtase, entre risos e lágrimas.

Eu já tinha lágrimas e risos em meu rosto também...

Devia ser uma cena bem pitoresca: eu e ela, vestidos com roupas de gala, sentados no chão do restaurante da Disney, chorando e rindo.

_ Mas e então? Você aceita? - perguntei, por fim.

_ Com uma condição. - disse ela, desafiando-me com um olhar.

Eu franzi a testa. Que condição seria essa?

Ela então respirou fundo, tentando retomar a seriedade. Olhou para cima, fechou os olhos e quando voltou a abri-los, sua expressão já era de quem exigiria a mesma seriedade na resposta.

_ Me promete que vai me manter dentro da sua vida? Nunca fora dela? Seja para o que for bom, ou para o que for mau?

Bárbara era uma mulher muito, muito esperta.

Abaixei a cabeça.

_ Prometo que vou tentar aprender a fazer isso.

_Promete que vai me deixar te ensinar? - pediu ela, segurando meu queixo, fazendo-me olhar pra ela.

Michael Jackson - Billie JeanOnde histórias criam vida. Descubra agora