Isso não pode dar errado

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Visão de Michael

Insônia. Eu nem me surpreendi. Se meu sono era ruim, depois da conversa com Bárbara eu não esperava conseguir dormir direito.

Meu sono foi uma sucessão de sonhos desconexos, lembranças e inspirações. Escrevi coisas, joguei outras fora, li livros. Eram 5h30 da manhã quando desisti de vez e fui espiar a varanda.

Sim, eles estavam lá, em vigília.

Os fãs.

Se eu pudesse, colocaria cada um deles para dentro, é sério. Ainda que o tempo estivesse ameno, eu pensava se estavam confortáveis, se tinham comido, ou como podiam passar tanto tempo lá fora. Era uma quantidade considerável. Mas eu estava com um humor bastante duvidoso naquele momento e também não seria nada legal despertar os demais hóspedes provocando os fãs aquela hora. A sensação de solidão era estarrecedora nestes momentos: estar cercado de gente que me amava, mas não poder estar com nenhuma delas.

Tinha Bárbara. Há poucos apartamentos abaixo.

Mas eu não sabia exatamente se ela ainda me amava.

A varanda do quarto dela dava para o lado interior do hotel... mas não... ela não estaria acordada... estaria?

_ Será que da janela de trás eu consigo ver? - perguntei pra mim mesmo.

Curioso, fui conferir, ver se alguma luz me indicava movimento. Não sabia o que eu iria fazer com aquela informação... provavelmente eu não teria coragem de ligar para o quarto dela.

Mas o que eu vi foi muito, muito melhor do que apenas uma luz acesa.

A janela de onde eu olhava era da saleta de refeições, um espaço entre o meu quarto, o principal do apartamento e o de Petter. Dali eu tinha a visão do pátio interior do hotel, cujo prédio tinha uma arquitetura cilíndrica, me oferecendo um bom ângulo de visão da varanda de Bárbara, e lá estava ela...

Com roupas de ginástica, com algo que pareciam tornozeleiras de pesos e luvas, fones de ouvido e um walkman na cintura, treinando algum tipo de exercício, que parecia mesclar algo como luta e aeróbica no degrau que havia entre a varanda e a entrada do quarto.

A luz estava apagada, mas a pouca claridade me permitia vê-la, talvez seu único expectador naquele horário. Ela estava com um collant preto, mas a regata leve que ela usava por cima era branca e isso me ajudava a ver melhor seus movimentos. Seu cabelo estava preso em um coque alto.

"Michael, isso está errado!", meu inconsciente me acusou, e eu comecei a me levantar, mas então ela começou a se movimentar e a... dançar?

Aquilo definitivamente chamou minha atenção.

Eu não podia, obviamente, ouvir o que ela escutava nos fones, mas os movimentos... eles denunciavam... eu conhecia aqueles passos.

_ Sim... é... Body Language?.. - eu disse para mim mesmo, desenterrando os passos da memória.

Preciso dizer que aquilo me surpreendeu. Muito! Eu não esperava que ela ouvisse a nossa música. Que ela ainda ouvisse a minha voz por livre vontade. E ainda mais que dançasse.

Lembrei-me de Petter dizendo que via as minhas fotos na casa dela... eu não achava aquilo possível, de verdade, mas agora, começava a pensar na possibilidade.

Ao mesmo tempo que ela dançava, ela seguia com o que me parecia uma sequência de chutes e socos... não era aleatório, tinha um ritmo lógico pelo que eu imaginava da sequência da música, que eu já cantarolava mentalmente, conforme ela dançava o refrão.

_ Ela está dançando muito melhor... - balbuciei, e  a hipótese dela ter desenvolvido essa habilidade dançando com alguém no tempo em que estivemos separados, doeu.

Michael Jackson - Billie JeanOnde histórias criam vida. Descubra agora