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Puta que pariu.

Assim que desgrudo meu rosto do chão e levanto a cabeça para enxergar a dona da voz, sinto que meu queixo vai cair. Uma garota alta de cabelos tão pretos que até parecem azuis e grandes olhos escuros me fita intensamente, com a expressão indecifrável. Eu a encaro por um momento, completamente pasma e sem conseguir acreditar que ela é real.

O que ela tem de filha da puta, com certeza tem de bonita também.

Sinto meu corpo paralisado. O que eu faço? Estou praticamente de boca no chão, em uma das maiores vergonhas que já passei na minha vida. Será que se eu fingir que sou uma estátua, ela vai embora?

– Eu perguntei – A garota recomeça, se abaixando e colocando um joelho no chão para poder ficar mais próximo do meu rosto. – Perdeu alguma coisa, meu amor?

Certo, definitivamente não vai colar o lance da estátua.

Engulo em seco e desvio o olhar rapidamente, analisando debaixo das estantes e olhando para o chão – como se eu realmente estivesse procurando alguma coisa.

– Perdi meu brinco, estou tentando encontrar – Apalpo o mármore, tentando dar credibilidade para a minha história. – Será que você não viu algum caído no chão por aí?

A desgraçada solta uma risada cínica e arqueia as sobrancelhas, nitidamente não convencida. Cerra os olhos e observa tudo que consegue em dois segundos: meu rosto, meu corpo, o chão e minhas mãos.

– Me diga você – Provoca ela. – Está deitada nessa mesma posição já faz uns cinco minutos, como assim não encontrou seus dois brincos?

Cerro o maxilar, travando. Não acredito que ela sabia que eu estava ali o tempo inteiro.

Respiro fundo, tentando me acalmar. Não tenho que me justificar para essa nojenta desgraçada – e muito menos me humilhando na sua frente, servindo como sua próxima diversãozinha em forma de pessoa.

Me levanto rapidamente e me recomponho, sem nem querer olhar em seu rosto estúpido e bonito.

Estou saindo de trás da estante e passando por seu ombro quando, subitamente, ela se coloca na minha frente, fazendo meu corpo colidir de propósito com o seu.

Solto um pequeno gemido de dor e me afasto, mas a garota apenas se aproxima cada vez mais de mim. Ando para trás, tentando evitar de nos encostarmos novamente. E então, sou prensada contra a estante de livros, incapaz de fugir e tendo de encarar seus olhos.

– Você vai fugir depois de escutar uma conversa privada, sem nem mesmo pedir desculpas? – Ela provoca novamente, não se importando em esconder sua diversão. – Cadê a sua educação, loirinha?

Uma risada alta escapa da minha boca, sem conseguir acreditar nisso.

– Educação? – Retruco, incapaz de conter minha raiva. – Minha educação está muito bem, obrigada. Eu só não devo ela a alguém como você.

Seus olhos se arregalam, chocados e brilhando em curiosidade. Uma risada também parece escapar entre seus dentes.

– Quem você pensa que é, coisinha irritante? – A garota fala, mas ao invés de estar brava, parece estar se divertindo. – Alguém precisa te ensinar boas maneiras, ou você vai acabar irritando as pessoas erradas.

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