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Podia ser eu. Essa garota podia ser eu.

Essa garota sou eu.

– Kara! – Nia segura meu cabelo enquanto termino de vomitar na grama. – Meu Deus, você está bem?

– Hm...hm... – Gemo, sem conseguir pronunciar palavras.

– Escuta, você não precisa ver isso toda vez que acontece.

Toda vez que acontece? Isso não pode ser verdade.

– Você vai conseguir, Kara. – Ela aproxima a boca do meu ouvido, em um sussurro. – Ninguém vai saber de você.

Meu corpo inteiro se arrepia. Cuspo na grama, finalmente terminando de vomitar.

– Eu nunca achei que... – Engulo em seco, tentando me recompor. – Eu nunca achei que veria algo assim.

Queria adicionar o "de novo", mas não me sinto preparada para compartilhar isso. Já entrei em muitas brigas, mas nada desse jeito. E depois de testemunhar o que aconteceu com Eliza – minha tia –, minha mãe e lembrar daquele dia... foi como se eu estivesse tendo uma espécie de flashback. Parecia que eu estava lá de novo, com 10 anos, assistindo tudo.

– Eu sei, eu sinto muito. – Nia me abraça. – Mas você vai ficar bem. Nós vamos ficar bem, eu prometo. Ninguém vai descobrir você.

Concordo com a cabeça e começo a chorar, relembrando da cena.

Nia continua repetindo que vou ficar bem e que não vou ser descoberta. Mas não importa quantas vezes ela fale ou quantas vezes eu concorde...

Eu sei que isso não é verdade.

Sem fôlego e sentindo meu corpo inteiro queimar, deito no chão. Fecho os olhos e tento controlar minha respiração, mas não consigo mantê-los fechados por muito tempo.

Não consigo tirar aquela cena da minha cabeça. A garota sendo socada e humilhada sem motivo como um objeto de diversão para aquelas três demônias. E eu estava assistindo. Assisti tudo em silêncio, porque não tinha nada que eu pudesse fazer.

Exatamente como quando eu era uma garotinha, incapaz de defender quem precisasse. Quem eu amava.

A partir dali, fiz uma promessa a mim mesma: jamais deixaria qualquer pessoa que fosse machucar minha família e meus amigos – assim como minha mãe fez. Me metia em brigas quase todos os dias e, consequentemente, também acabava machucando outras pessoas, mas eu sabia que isso era necessário para proteger minha mãe e a honra dela.

Era o mínimo que eu podia fazer, por mais que ela não gostasse que eu seguisse seu exemplo.

– Kara? – Nia abre a porta da sala de dança, me trazendo de volta ao mundo real. – Está tudo bem? Por que está deitada aí no chão?

– Estou bem. – Respondo. – Só estou... existindo um pouco.

Não vejo, mas escuto Nia soltar uma pequena risada.

— Então vou existir um pouco com você também. – Diz ela vindo até mim e se deitando ao meu lado.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas o som de nossas respirações soando pela sala.

– Acho que eu preciso te contar uma coisa – Nia confessa, por fim.

Pela primeira vez, viro minha cabeça para poder olhá-la.

– Sabe por que eu não tinha outras amigas antes de você chegar? – Seus olhos se fecham, tomando coragem. – Por conta da minha irmã, Maeve... ela era um dos demônios de elite.

Prodígios de Elite ᴥ SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora