16

713 103 6
                                    

– Meu Deus, Kara? – A voz estridente de Nia perfura meu cérebro.

Sinto como se um caminhão tivesse passado por cima de mim.

Me sento na cama macia e, antes que pudesse analisar o ambiente, uma tontura me impede de fazer qualquer outra coisa senão me deitar novamente.

– Graças a Deus você está bem – Diz ela enquanto me ajuda a me acomodar na cama. – Eu estava morrendo de preocupação. Eu sinto muito. A culpa é toda minha.

– Que bom que você sabe. – Olho em volta, tentando entender onde estou.

Enfermaria. Mas para a minha surpresa, quase parece que estou em um quartinho privado, que não era para ser usado em alunos. Escuto pessoas vomitarem do outro lado da parede e passos atrapalhados de um lado para o outro, que imagino ser de uma enfermeira.

– Como está se sentindo? – Pergunta Nia, culpa em seu rosto e seu corpo encolhido.

Olho de canto para ela, brava.

– Eu que te pergunto – Provoco. – Não fui eu que tomou duas pílulas de sabe-se-lá-o-que.

Ela abaixa a cabeça e se senta aos pés da minha cama, constrangida.

– Eu sei, nunca não deveria ter feito isso.

– Você se lembra de alguma coisa de ontem?

– Pra ser sincera, quase nada. – Seus olhos se arregalam e se fixam em mim, como se tivesse se lembrado de algo. Pego o copo de água e começo a dar um gole, sedenta. – Então acho que você consegue imaginar a minha surpresa quando soube que hoje de manhã as Prodígios de Elite publicaram que você não era mais inimiga delas, e não deveria mais ser perseguida.

Cuspo toda a água para fora da cama.

– O quê?! – Grito.

– É isso mesmo que você escutou: Kara, você foi desmarcada.

Mas o quê...

– É a primeira pessoa na história a ser desmarcada por elas. – Segue ela, puxando minha mão. – Olha, eu não faço ideia do que aconteceu ontem..., mas seja lá o que for, você conseguiu. Conseguiu ganhar deles, Kah!

Solto uma risada cínica.

– O que aconteceu ontem? Eu fui humilhada, humilhada e humilhada. – Dou uma pausa. – Eu já te falei que fui humilhada?

– Falaram da sua mãe, não é?

Deito com o corpo na cama, exausta só de imaginar o que passei.

– Na frente de todo mundo. Lena fez questão que todos soubessem.

Nia se aproxima de mim e passa o braço pelos meus ombros, tentando me confortar.

– Eu sinto muito, muito, muito mesmo...

Meus olhos começam a arder novamente.

– A culpa foi toda minha – Admite ela. – E eu não consigo expressar o quanto eu sinto muito por ter feito você passar por isso. E eu vou entender se não quiser, mas eu espero que um dia você possa me perdoar, Kara.

Pisco rapidamente os olhos, tentando afastar as lágrimas.

Solto um longo suspiro. Estou cansada de intrigas, brigas e discussões. Agora finalmente estou livre e não quero levar nada disso comigo daqui para frente.

Me mexo para o outro lado da cama, deixando espaço para Nia se deitar ao meu lado e ficar abraçada comigo. Ela sorri e, sem pensar duas vezes, se encolhe junto ao meu corpo.

– Você é perfeita, sabia? – Bajula ela.

– Mas eu só te perdoo com uma condição: nunca mais use drogas.

– Eu prometo! Até porque acho que a partir de agora vamos poder nos divertir em paz.

Nós duas sorrimos, aliviadas. Não consigo acreditar que fui desmarcada. Vou poder seguir em Titanos e tentar realizar meu sonho sem ter medo de ser torturada no caminho. Estou realmente, finalmente, livre.

– E não podia ter momento melhor para isso. – Acrescenta ela.

– O que quer dizer?

– Está na época da viagem cultural anual de Titanos. É simplesmente o melhor evento do ano inteiro! Vou te explicar tudo, então preste atenção...

E, assim, o jogo perigoso que eu estava jogando terminou.

E eu ganhei.

Agora uma nova fase começou e eu não podia estar mais animada para vivê-la do jeitinho que eu deveria ter feito desde o início.

E pra isso, não podia ter um começo melhor: uma viagem de cinco dias para uma ilha alugada pelo Instituto de Titanos, tudo para uma "troca de experiências culturais" com os alunos de todas as especializações.

Pelo que Nia me contou, isso pode ser traduzido por "cinco dias cheios de arte, bebida, drogas e sexo de adolescentes ricos sem supervisão". Todos os anos o preço era absurdo, mas, por algum motivo, esse ano os alunos do curso de dança foram patrocinados anonimamente e não vão precisar pagar a viagem.

O que quer dizer que, além de eu poder ir, não vou precisar pagar absolutamente nada.

Enquanto escuto as várias histórias de Nia sobre as loucuras dessa viagem, não consigo fechar meu sorriso.

Ontem pode até ter sido um dos piores dias da minha vida, mas alguma coisa me diz que, a partir de agora, eu vou ter os melhores dela.

Prodígios de Elite ᴥ SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora