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POV | Lena Kieran Luthor

É definitivo: eu preciso ficar longe de Kara.

Por mais que eu queira estar todos os minutos do dia do lado dela, também não aguento mais olhá-la e saber que ainda não é minha. Na verdade, minha ela é. O problema é que eu ainda não sou dela.

E eu sei que disse que não deixaria o meu Cisne escapar, mas sou inteligente o suficiente para saber que pressionar e prender um animal contra a sua vontade o fará apenas criar ódio e se afastar o máximo que conseguir de mim. E, para ser sincera, prefiro que eu me afaste dela antes que ela me afaste por ódio – de novo.

Já tenho oportunidades fora de National City e grandes companhias de dança que me contataram em Nova Iorque, mas estava evitando ao máximo ir embora. Além de toda a vida que eu tenho em National City – e agora essa garota que não sai da minha mente –, tenho quase certeza de que meu pai está morando lá e eu definitivamente não quero ficar no mesmo país que ele.

E depois de ter colocado a Kara contra a parede, eu deveria ter voltado para o meu quarto e descansado para a nossa competição no dia seguinte.

Mas obviamente eu não fiz isso.

Chamei amigos que tenho no Rio, compramos bebida e nos mandamos para uma festa cheia de garotas ricas e gostosas. Apesar de várias delas literalmente se sentarem em cima de mim, a única coisa que fiz – ou consegui fazer – foi me entupir de álcool até esquecer Kara.

E isso obviamente também não deu certo.

O que está acontecendo comigo? Eu nunca faria nada disso na noite anterior a uma competição desse tamanho... só no dia seguinte. Preciso ir embora antes que seja tarde demais.

Cambaleando de um lado para o outro, simplesmente começo a andar para ir embora. Deixo todos os meus amigos para trás e, ao invés de pegar um táxi e voltar em segurança para o hotel, resolvo ir andando. Várias quadras, andando, no meio do Rio de Janeiro.

Então não fico muito surpresa quando, ao chegar na quadra anterior a do hotel, enxergo a silhueta de um homem vindo na minha direção. Na verdade, estava justamente esperando encontrar alguém para meter a porrada, bem merecido.

Mas então, não tenho mais certeza se é só um homem. Seriam três? Não sei se estou bêbada a ponto de enxergar triplicado ou se realmente são três caras. Agora sim eu me fodi. Porque se eu não tenho certeza nem de uma coisa dessas, definitivamente não vou conseguir lutar com eles.

Mas agora já é tarde demais.

Quando vejo que estou prestes a ser acertado em um soco, percebo que tem alguma coisa de errada. Um assaltante não chegaria me batendo, não é? Nunca fui assaltada, já que isso é coisa de pobre, mas pelo que eu vi em filmes, sei que a abordagem não é assim.

Consigo desviar e largar um chute nas costas do homem – talvez garoto – que não consigo enxergar direito por estar muito escuro. Sem esperar, sou acertado com força em um soco na barriga, quase me fazendo vomitar. Logo em seguida seguro o outro braço do segundo homem e o torço, rangendo os dentes em raiva.

Quem bate assim em uma mulher bêbada e inofensiva na rua?

Estou torcendo com tanta força que escuto-o implorar para eu parar. Estou prestes a quebrar seu braço quando, subitamente, sou acertada novamente – dessa vez na cabeça. Com a tontura da bebida e a força descomunal da porrada que acabei de levar, cambaleio para trás e caio no chão, me levantando em seguida e desviando de um forte chute na barriga.

Dou um sorriso e solto uma risada, me divertindo com as tentativas de me derrubar. Cuspo sangue para o lado e limpo a boca, me preparando para lutar novamente.

– Caralho, não me pagaram pra isso – Um homem diz para o outro, também se colocando em posição de luta.

– É tudo isso que vocês têm? – Volto a rir, querendo provocá-los. – Não deveriam ter pagado nada pra vocês pelo trabalho de merda.

Lados bons de ser filha de um milionário psicopata e paranoico: milhares de aulas de krav maga, jiu-jitsu, taekwondo, boxe e Muay Thai. Sim, por incrível que pareça, tem lados bons.

– Quem foi o idiota? – Eu pergunto enquanto os homens se aproximam de mim, me preparando para soltar outro soco.

Antes que eles pudessem me responder, alguém me puxa pelas costas em um mata-leão, colocando algum tipo de pano molhado em meu rosto. Como efeito da bebida, meus reflexos estão lentos demais e não tenho tempo o suficiente para me soltar antes de sentir meu corpo amolecer, minha força se esvair e meus olhos se fecharem para o vazio.

A última coisa que escuto antes de apagar completamente é o som distante de uma voz feminina sussurrando em meu ouvido:

– Sentiu minha falta?


Acordo com o som corrente de água. Imediatamente sinto uma dor consumir meu corpo inteiro, tanto pelas pancadas que levei quanto pela ressaca da bebida. Tento mexer meus braços e pernas, mas então percebo que estou amarrada em uma cadeira colada no chão de granito. Olho em volta e me assusto quando vejo onde estou: na piscina coberta e subterrânea do hotel em que me hospedei, totalmente sozinha.

Puta merda. Que horas são? Por quanto tempo eu fiquei apagada? Será que eu perdi o Titans Dance? Meu Deus, a Kara! E se eu... e se ela...

– Bem-vinda de volta, Lena – Escuto uma voz modificada grave falar no alto falante do local, ecoando por todos os lados.

Olho em volta, completamente perdida.

– Dormiu bem? – Continua a voz.

– Quem é você, filho da puta?! – Grito, me debatendo na cadeira tentando me soltar. – Quanto tempo eu apaguei?! O que você...

A voz solta uma risada, debochando e me provocando. E então eu percebo, não é um homem.

– Lena, você não mudou nada – Diz. – Sempre se achando superior e com um ar de arrogância. Você não está em posições de fazer perguntas, não percebeu?

Quem é essa filho da puta que acha que me conhece?!

– Eu vou matar você, sua desgraçada! – Grito novamente, sentindo o suor escorrer pela minha testa de tanto que me contorço na cadeira.

– Ah, aposto que vai – Continua. – Não se preocupe, eu estou apenas fazendo um pequeno experimento. Se tudo der certo, não vai demorar muito e você poderá voltar a tempo de competir com a sua garota. Mas se não der...

Ela está mencionando Kara? Isso não é bom. Nada bom. Eu olho em volta freneticamente, desesperado para encontrar qualquer sinal da pessoa que está fazendo esses joguinhos comigo.

– Você sabe de quem eu estou falando – A voz volta a ecoar pelo subterrâneo. – Eu escutei algumas histórias muito interessantes sobre vocês dois, Kara. E estou impressionada. Precisava ver como isso funcionava de perto... e que momento melhor do que esse?

– Eu não tenho uma garota! – Berro, me esforçando ao máximo para não transparecer minha preocupação.

Seja lá quem essa pessoa for, é perigosa. E eu não posso deixá-la saber o quão importante Kara é para mim. Não posso mostrar que a minha fraqueza é ela, pelo seu próprio bem.

– Você está tentando mentir para mim, Luthor? – Uma risada sádica parece explodir em meus ouvidos. – Minta o quanto quiser, não vai fazer diferença nenhuma no final. – A voz dá uma pausa ensurdecedora. – Porque ela já está vindo para cá.

Puta que pariu.

Prodígios de Elite ᴥ SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora