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Mesmo com sangue caindo dos seus lábios, Lena abre um sorriso capaz de acabar com qualquer garota. Nós entramos no pequeno banheiro da minha casa e nossos corpos roçam um no outro cada vez que nos mexemos. Eu a coloco sentado na tampa da privada.

Mesmo sem estar de pé, ela consegue ficar da minha altura.

– Você é louca – Digo enquanto lavo furiosamente minhas mãos. – Você só pode ser louco! Como achou que isso era uma boa ideia? Como achou que...

E então, antes que eu conseguisse sequer piscar, Lena está de pé me virando pela cintura e prensando meu corpo contra a pia.

Nossos rostos estão a centímetros de distância e eu sinto que vou derreter. Meu coração vai sair pela minha boca a qualquer momento e tenho que lembrar a mim mesma de respirar.

– Você tem uma covinha aqui quando fica brava, sabia? – Ela declara enquanto coloca gentilmente sua mão na minha bochecha, segurando meu rosto e ignorando toda a sua dor e sangue por conta dos piercings.

Agora sim estou derretendo.

Ela está fazendo isso de propósito para me desequilibrar. Ela só pode estar fazendo isso.

– Por que você está fazendo tudo isso? – Quebro o silêncio. Seguro a sua mão que está na minha bochecha e a recolho, mas não a solto.

– Porque eu quis vir – Ela responde me olhando. – Quis ficar com você.

Cerro o maxilar.

– Mas não deveria – Solto a sua mão e me encolho, deixando evidente que estou desconfortável com a sua proximidade.

Lena se afasta e se apoia na parede, me dando espaço. Ela cruza os braços e desvia o olhar por um momento. Me viro de costas para poder pegar um spray antisséptico, gaze e pomada.

– Eu não sei o que você está pensando – ela começa, o tom na sua voz mudando de gentil para indiferente. –, mas acho que já sabe o que está acontecendo comigo. Porque estou fazendo as coisas que estou fazendo.

Engulo em seco e me viro em sua direção, apontando com a cabeça para ele se sentar novamente.

– Não é tão complicado – Termina ela sem me olhar enquanto se senta.

Me aproximo do seu rosto e começo a limpar o sangue cuidadosa e delicadamente com a gaze, mas ela ainda estremece de dor.

– Mas também não é tão fácil – Falo enquanto desinfeto os seus machucados. – Agora, por exemplo. Você sequer me perguntou se poderia vir até a minha casa. Se poderia conhecer a minha família e se poderia participar do nosso reencontro depois de meses sem eu ter os visto.

– Eu não sabia que precisava da sua permissão – Ela retruca, levemente irritado.

Respiro fundo e continuo cuidando delicadamente dos seus machucados.

– Você sabe o que eu quero dizer – Falo calmamente. – E eu sei que sua intenção não foi ruim, mas você tem ideia do quão sem consideração isso parece?

Ela subitamente segura o meu pulso, me impedindo de continuar. Seus olhos são turbilhões de emoções e não tenho ideia nenhuma do que se passa na sua cabeça.

– Obrigada por ter vindo – Digo olhando no fundo dos seus olhos verdes. –, por ter se importado e por ter tratado minha tia bem. Mas se você tivesse me perguntado primeiro, teria sido melhor.

– E você teria me deixado vir? – Ela rebate rapidamente, o rosto duro como concreto. – Porque você está sempre tão brava comigo, e perguntar se eu poderia vir não parecia uma opção.

Automaticamente eu paro tudo o que estou fazendo. Tiro meu pulso de sua mão e digo:

– Você não entende, não é? Você não entende que a única coisa que precisava ter feito era pedir desculpas?

Lena parece travar. Trava como se seu cérebro estivesse processando o que eu disse. Como se nunca tivesse se passado pela sua cabeça ter pedido desculpas.

– Porque até agora, você não pediu desculpas por nada do que fez. – Falo seriamente. – Por absolutamente nada. Você sequer percebe isso?

Os olhos de Lena correm pelo meu rosto e sua respiração se torna pesada e inconstante – como se tivesse acabado de aprender alguma coisa revolucionária.

– Ao contrário do que você pensa – começo –, eu não sou uma pessoa muito difícil de agradar. Depois de tudo que você fez e tudo que aconteceu, eu...

E então, antes que eu pudesse terminar, Lena se levanta e me puxa em um abraço urgente, inundado de algo parecido com ternura. Afeto. Como se fosse a primeira vez que faz isso e não tinha ideia do quanto precisava de um abraço assim – bem mais do que eu.

– Eu sinto muito – Ela sussurra angustiado no meu ouvido. Uma de suas mãos apoia minha cabeça perto do seu torso e acaricia levemente meu cabelo, bem na frente do seu coração. – Me desculpa, eu sinto muito. Eu realmente sinto muito.

E ela sussurra no meu ouvido, pescoço e me aperta com cuidado, me deixando confortável.

– Eu queria tanto ter feito as coisas diferentes – Lena diz, ainda me abraçando. Parece falar mais para si mesmo do que para mim. – Se eu pudesse voltar atrás e recomeçar tudo de novo, eu faria. Eu sinto muito, Kara. Por tudo.

E eu não sei se é porque ela me abraça como se eu fosse a única coisa importante que resta em seu mundo. Se é porque eu nunca a vi se deixar tão vulnerável na minha frente ou na de qualquer pessoa. Ou se é porque ela parece tão sincera e arrependida que seu coração pode se partir ao meio.

Mas eu digo:

– Você pode – Sussurro levantando minha cabeça para olhá-la. – Agora você pode fazer tudo de novo.

Prodígios de Elite ᴥ SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora