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Não contei para Nia sobre o que aconteceu ontem. Não tive coragem.

Como posso dizer para ela que acabei de arrumar briga com os demônios de elite? Será que ela entenderia se eu contasse que Samantha queria me ter em troca de não contar a verdade, e por isso não pude aguentar?1

Porque eu sei como isso termina. Se eu tivesse aceitado, Samantha ia poder fazer o que quiser comigo com a chantagem de não espalhar que eu sou bolsista. E isso ia me destruir.

Tudo bem, eu preciso contar. Assim que eu chegar do meu treino de dança hoje de noite, vou contar para ela calmamente no nosso quarto. Nia precisa me entender.

Ando de cabeça baixa pelos corredores do Instituto em direção ao refeitório, morrendo de medo de cruzar com Samantha e seus amigos. Se já estou ferrada, quero pelo menos tentar adiar isso pelo maior tempo possível.

E então, gritaria e pessoas correndo começam a passar por mim, na direção oposta.

– Cara, você viu? – Um garoto puxa seu amigo na direção da correria, mas eu escuto uma parte da conversa. – Outra pessoa foi pega!

– O quê?! É bolsista?

– Não sei, mas estão falando que... – E ele já está longe demais para que eu consiga entender o resto.

Imediatamente um péssimo pressentimento paralisa meu corpo. Todos meus pelos se arrepiam e sinto meu coração disparar, sabendo que tem alguma coisa errada.

Puta que pariu. Não pode ser o que eu estou pensando.

Largo minha mochila no chão e começo a correr, desesperada para chegar a tempo. Corro o caminho inteiro rezando para que eu não esteja certa.

Assim que chego no pátio, uma multidão de pessoas amontoadas nas mais diversas cores cobre minha visão. Começo a cavar pelos corpos até finalmente chegar no meio da roda.

E meu maior medo se mostra real: a pessoa que foi pega é a Nia.

Duas garotas altas e bonitas a seguram com força, prendendo uma de suas mãos em seu cabelo para poderem puxá-lo com força.

– Você – Lena aponta para Nia, que está despencada no chão e de cabeça baixa, sem forças para se erguer –, de todas as outras pessoas, logo você começou a proteger bolsistas?

Meu coração dói e subitamente respirar parece ser a tarefa mais difícil do mundo.

– Como será que Maeve se sentiria sobre isso? – Comenta Lena. Um pequeno sorriso se abre em seus lábios, mas seus olhos não parecem nada felizes. – Ah, é... ela não está mais aqui, está?

Consigo ver Nia soluçar por debaixo de seus cabelos, chorando.

– Mas sabe, isso é bom – Ela se aproxima dela e dá a volta em seu corpo murcho, continuando seu show. – Estava na hora de acabar com as irmãs Nal de uma vez por todas. Te deixamos ficar porque parecia que tinha mudado e não ia mais atrapalhar, mas acho que cometemos um erro.

Raiva sobe pelo meu corpo e aperto as mãos, sentindo gotas de sangue descerem pelos meus dedos ao cravar as unhas em minha palma.

– Saia do Instituto – Termina ela, segurando o queixo de Nia e a obrigando a olhar para ele. – Saia e nunca mais volte. Se não...

E então, meu punho fechado acerta Lena bem no maxilar.

Ela cambaleia para trás, quase caindo no chão pelo gancho que acabou de levar de uma garota cinco centímetros menor que ela por causa dos saltos que usará.

Subitamente o ar do mundo inteiro parece pesar 30 toneladas sobre nossas cabeças e o pátio inteiro fica em silêncio, ninguém conseguindo acreditar no que acabou de acontecer.

Até mesmo eu.

Fui a primeira pessoa a acertar um soco em Lena Kieran Luthor.

Automaticamente uma das garotas que segurava Nia a solta e começa a puxar meu cabelo, tentando me imobilizar. Me debato, o que a faz usar as duas mãos para me conter. Aproveito a oportunidade para atirá-la pra longe, tentando me recompor. A outra garota começa a vir em minha direção, raiva brilhando em seus olhos.

Mas se é briga que elas querem, é briga que elas vão ter.

Preparada para elas virem para cima de mim, sinto alguém parado em minhas costas. As duas meninas o encaram e se olham em seguida, engolindo em seco e imediatamente se afastando de mim em medo.

Com as pernas tremendo, me viro para olhar quem eu já sei que me observa com sangue nos olhos.

Lena Luthor.

Seus olhos verdes-claros devoram os meus, completamente fixados. Seu
maxilar cerrado e punhos fechados em ódio me dão vontade de me autodeclarar como defunto.

Estou morta. Com toda certeza, estou morta.

Mesmo assim, não consigo parar de olhá-la. Essa filha da puta é linda, mas eu sei que também poderia matá-la se tivesse a oportunidade.

Lena finalmente muda o foco de seus olhos e começa a me analisar por inteiro, de cima para baixo e dando a volta sem pressa até minhas costas. Acho que não estou respirando. Será que estou respirando? Ela se aproxima tanto de mim que consigo sentir sua respiração em meu cabelo.

Meu corpo inteiro se arrepia ao toque dos seus dedos invadindo meu couro cabeludo, segurando com força um punhado de cabelo meu, e controlando minha cabeça completamente. Uso toda força que tenho para não mostrar nenhuma reação, proibindo a mim mesma de dar essa satisfação para ela.

Lena puxa levemente a parte de trás da minha cabeça e coloca sua boca do lado do meu ouvido, sua respiração quente no ar.

– Eu vou destruir você. – Sussurra ela, encostando seu lábio de raspão em minha pele.

E então, me solta bruscamente. Me encara com o canto dos olhos e faz um sinal para suas amigas, seguindo seu caminho pelo meio da multidão que se abre conforme passam. Sinto meu coração doendo em pânico e humilhação, mas tento me recompor e corro até Nia.

Eu me ajoelho na sua frente e a cubro em um abraço, tentando protegê-la dos olhares e murmúrios das pessoas.

– Eu sinto muito, Nia – sopro em seu ouvido enquanto acaricio suas costas, reconfortando-a. – Eu sinto muito, muito...

Lágrimas caem silenciosamente por meu rosto e um pensamento incessante toma conta de minha mente:

O que eu fui fazer?

Prodígios de Elite ᴥ SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora