Trinta

436 28 10
                                    

Naruto

— Cof, cof! — Nara tossiu, limpando a garganta. Ele parecia ter engolido um tijolo de pó, inteiro. — Quando foi a última vez que alguém esteve aqui? Quando construíram as Grandes Pirâmides? Nunca vi tanta poeira junta num só lugar, em toda a minha vida.
— Ah, deixa de frescura, Shikamaru. — reclamei, analisando um prédio que há muito não era utilizado, mas que estava para alugar e em perfeito estado de conservação. Só a sujeira que chegava a dar coceira. — Acha que esse lugar daria para ser uma academia de dança?
— Olha, acredito que depois de uma bela limpeza e também de uma boa pintura, daria e muito! — ele falou, confirmando aquilo que eu tanto gostaria de ouvir.
— Então tá bom, vai ser aqui mesmo.
— Aleluia! — exclamou o meu amigo. — Agora vamos dar o fora daqui, pois já estou... a, a, a, ATCHIM!
— É melhor mesmo a gente sair daqui, do contrário eu vou ter que chamar uma ambulância!
O referente imóvel tinha dois pisos, com uma escadaria em espiral que dava para o segundo piso. Não era muito grande, mas também não muito pequeno, perfeito para que a Hina começasse sua tão sonhada academia. Tá certo, que o Nara era noivo da Temari, que por sua vez era membro da academia da Mei, mas eu confiava nele como em um irmão. Nara  viu e me ouviu chorar por várias noites, quando a safada da Sakura me traiu, tanto que foi ele mesmo e o Gaara que bolaram a surpresa de me arranjarem uma namorada para que assim eu voltasse a ser o que eu era. E mais porque o Nara disse não ter palavras para agradecer à Hina por ter me tirado da sarjeta na qual eu estava mergulhando e fazer com que eu voltasse a ser eu mesmo. Até a faculdade eu pensei em abandonar, mas não o fiz por causa dela, o sofrimento dela me fez enxergar que existem coisas pelas quais realmente valem a pena lutarmos e outras, nem tanto.
Saímos do imóvel e eu tranquei tudo direitinho. Fomos direto até a imobiliária, onde expus os meus termos para alugar o imóvel. Primeiro, ele teria de passar pela inspeção do Corpo de Bombeiros e depois, uma boa pintura deveria ser feita ali, já que seria uma academia de dança. Somente o Nara e eu sabíamos desse plano... ah, e os meus pais, já que se tratava de uma surpresa.
— Olha, se alguma coisa vazar daqui eu saberei que foi você. — adverti ao Shika.
— Oras. E por que você acha que eu vou dar com a língua nos dentes, ã? — ele questionou. — Eu não sou fofoqueiro não, tá bom?!
— Eu sei que não é, mas só pra lembrar... não abra a boca nem para a Temari, ouviu bem? Ela pode deixar a fidelidade falar mais alto e acabar contando a respeito dos nossos planos para a Mei!
— A Tema também não é fofoqueira, mas está tudo bem, não vou falar disso para mais ninguém, só você e eu sabemos disso. — ele prometeu.
— E eu também quero fazer uma baita surpresa para a Hina. Poxa, ela vai ficar muito feliz.
Nara assentiu. Eu implicava com ele às vezes, mas sempre soube que ele era um grande amigo. O corretor disse que não iria arcar com as reformas, mas disse estar disposto a descontar no valor do aluguel, as despesas gastas com as melhorias. Aceitei. Shikamaru disse conhecer um excelente pedreiro e pintor, ele disse também que o homem não cobrava muito caro pelos serviços. Então eu disse que não me importava com o preço, mas que queria um serviço bem feito para que ninguém colocasse defeito no estabelecimento da Hina.
— Tá legal, você está certo. — disse o meu amigo. — Mas eu posso te garantir que o serviço dele é de excelência.
— Ok, mande-o vir falar comigo. Pagarei o que for merecido pelo trabalho.

***

Cerca de um mês se passou e a cada dia se aproximava mais da minha formatura e do meu casamento com a Hina. Eu programei que a gente iria se casar logo depois que eu me formasse, então minha mãe nos chamou na casa onde eu fui criado e nos intimou que já estava na hora de começarmos a pensar nos preparativos.
— Sua mãe está certa. Faltam apenas dois meses para a sua formatura e também o seu casamento. — comentou o meu pai.
— Verdade, amor. — Hina concordou. — Não nos atentamos para esse fato. Serão duas festas.
— Então, tudo bem, a gente já vai começar a escolher o seu vestido de casamento, Hina. Eu vou falar com um costureiro muito famoso da capital. — falou a minha mãe. Logo ela, que sempre adorou uma boa farra.
— Ah, não precisa ser coisa muito chique não, senhora Uzumaki. Eu sempre fui acostumada com coisas simples! - a Hina falou, sem graça.
— De jeito nenhum. O meu único filho vai se casar e a noiva dele não vai usar um vestido de grife? Que tipo de mãe eu seria, se permitisse uma coisa dessas? — ela retrucou. — Você também vai passar a ser a nossa, filha. Sabemos de sua perda, mas não está mais sozinha!
Hinata não aguentou a emoção e chorou, abraçada aos meus pais. É impressionante como essa garota mudou, não só a mim, mas também a minha família com sua história de dor e superação. Finalmente ela já estava começando a aceitar o fato de que o pai estava morto e que ela deveria seguir e tocar a sua vida para frente. Mas ainda tinham algumas coisinhas a serem superadas. Mais por conta de agentes externos que a deixaram com um pouco de ansiedade.
— Eu não tenho palavras para agradecer por tudo o que vocês fizeram e ainda estão fazendo por mim. — comentou, com lágrimas nos olhos.
— Se você quer saber, tem um jeito sim!
Arregalei os olhos. O que a minha mãe pretendia com aquilo?
— Mamãe?
— Calma, Naruto, deixe-me falar. — ela me cortou. — A Hina pode sim nos pagar, enchendo essa casa de netinhos correndo pela casa.
Todos sorrimos, minha família agora estava completa, pois ela chegou para tapar o vazio que existia ali.

***

Estava eu sentado no degrau da escada, do prédio recém reformado, sozinho, com a cabeça entre as mãos. Por um momento senti-me perdido mediante a tantos acontecimentos e decisões que precisavam serem tomadas, dentre elas, um acordo entre Sasuke e Hina, de ela retirar a queixa e em troca ele deixaria o país. Assim ninguém ficaria sabendo do ocorrido entre eles. Será que era o certo a se fazer? Uma nova vida estava sendo desenhada para a Hinata e eu não queria, de modo algum, que nada a atrapalhasse. Foi quando Nara chegou, resgatando-me daquele limbo de ideias, pensamentos e especulações.
— Nossa, isso daqui ficou muito bom, hein? — disse ele, examinando todo o lugar, com os olhos. — Está parecendo até um mine palácio, do tanto que ficou bonito.
— É, você tinha razão. — respondi, ao mesmo tempo em que fiz um esforço para me levantar. — O cara que você me indicou, é mesmo bom!
— Não te falei? — afirmou ele.
— Agora só falta fazer uma boa faxina e esperar os móveis chegarem. — comentei.
— E de que tipo de móveis estamos falando?
— Nada demais. Sofás, poltronas, carpetes... eu já contratei um especialista nesse tipo de decoração e aparelhamento do lugar. Vai ser ficar tudo muito bom, você vai ver!
Nara deu um sorriso, depois me falou que estava muito feliz por mim e pela Hina, mas a notícia que mais me deixou chocado foi a de que Temari havia sido escorraçada da academia da Mei e o motivo foi ela ser amiga da Hinata.
— Isso é um absurdo, cara. — disse eu, indignado. — Essa mulher é mesmo se um mau caráter sem tamanho, viu.
— Pois é. E assim como é para a Hina, a dança também funciona como uma força vital para a Tema, cara. Eu estou arrasado!
— Olha, mas eu tenho certeza de que a Hina não vai deixa-la desamparada, pode ter certeza que não. Elas vão voltar a dançar juntas, meu amigo! — afirmei, dando tapinhas em suas costas.

***

No dia seguinte bem cedo, a Hinata tinha uma consulta marcada com a doutora Shizune. Ela viu a evolução da Hina no tratamento e por isso pediu uma avaliação para ver se a mesma já poderia ter as dosagens dos remédios reduzidas. Uma coisa a Shizune me disse, que a depressão tinha apenas paliativos, mas nunca uma cura concreta. Ainda mais tendo sido tipo tão agressivo como foi com a minha noiva. Mas devido ela estar aceitando e sem barganhas, a morte do pai, era correto se fazer a diminuição da medicação.
As duas ficaram conversando por vários minutos no consultório e eu fiquei esperando na sala de espera, quando a Sakura sentou-se do meu lado.
— Oi, Naruto!
Caralho, que susto essa garota aqui.
— Oi, Sakura. Veio se consultar um psicólogo? — perguntei, agindo de forma arredia.
— Na verdade, eu te vi entrando com a Hinata e resolvi entrar também. Gostaria muito que você pudesse me ouvir, Naruto!
— Pois diga. Mas seja rápida, a Hina já está quase saindo e a gente ainda tem muita coisa pra resolver.
— Está bem. Ó quero confessar que a ideia de tentar violentar a Hina não partiu apenas do Sasuke.
Eu não estava ouvindo aquilo que eu estava ouvindo. Maluco, a garota falou a mentira de que a gente continuava a se encontrar as escondidas e ela disse isso ao Sasuke. Então ela soube que o namoradinho também estava caidinho pela Hina e ficou morrendo de ciúmes. Sakura contou que o Sasuke chegou a agredi-la depois de descobrir o ocorrido no escritório do meu pai, chegando a agredi-la. Então ele resolveu devolver o suposto chifre, tentando seduzir a Hina, mas como não conseguiu, a própria Sakura o instigou a tomar o que tanto queria, à força.
— Que tipo de pessoa é você, sua doente? — perguntei, com a voz alterada. Os pacientes que aguardavam, ficara me olhando. — Qual mulher vai incitar o próprio namorado a cometer um estupro? Você vale menos do que pensei que você valesse, Sakura.
— Eu sei que não mereço o seu perdão, mas acabei por descobrir que amo o Sasuke de verdade. - ela falou aos prantos, e nesse momento mais que nunca eu agradeci por ter me livrado dessa maluca, agradeci pelo chifre que ela me colocou, mas eu não queria mais essa sujeira toda perto da Hina, então eu apenas olhei para os lados e suspirei.

— Vamos conversar lá fora...

Meu presente - NaruhinaOnde histórias criam vida. Descubra agora