XXXVIII - A confiança dos desesperados

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PITT: 2031, TERRA 104, INGLATERRA

Nunca havia me sido mostrada uma realidade na qual almas gêmeas não existiam. Nessa nova versão do eterno, Sol não estará.

Eu a conheço desde o instante que abri meus olhos. No segundo que a consciência tocou minha alma, a bela criatura se bochechas rosadas e curiosidade intensa já estava me esperando. Sol nunca me deu uma gota de outra coisa que não amor, mas o Ciclo da Era a estrangulou, esquartejou e jogou seus pedaços aos porcos.

A escolha de Seth transformou Sol em uma criatura solitária e doente, carente de amor. Pegou tudo o de bom que havia nela e pisoteou. O trabalho árduo de manter o equilíbrio fez de Sol, e também Lúcifer, zumbis que ansiavam pela morte mais do que por amor. Seth os matou antes mesmo de ter seus chifres de volta em sua cabeça. Ela os prendeu dentro a dores e responsabilidades que eram dela e, no fim, o que há de justo no Triângulo da Morte? Lucifer e Sol desapareceram e diante de mim a culpada por tudo isso não tem nenhuma punição, apenas mais poder.

Quando Héstia me dizia que era tolo e fútil o meu amor por Sol, já que minha alma gêmea logo me encontraria e eu saberia o que era o amor puro, eu respondia que viveria o minha verdade com a estrela da terra enquanto me sobrassem dias para o fazer.

Ela era a parte mais azeda do inferno. Azeda como uma fruta cítrica, suculenta, original. Nunca desacreditei do poder das almas gêmeas, mas era desconcertante pensar que a escolha me foi tomada quando nem ao menos havia nascido. Por alguns instante duvidei dos meus próprios sentimentos. Talvez Héstia estivesse certa e eu pensasse que aquilo era amor porque nunca havia probado o amor antes, mas sempre que a via isso se desmanchava como açúcar em água.

Eu sempre escolheria Sol. A escolheria do início ao fim, seus acertos e seus pecados. Em qualquer terra ou no inferno. Escolheria sua alma livre, seu temperamento impulsivo e seu caos particular.

De nada adianta qualquer coisa que eu escolheria já que ela não está mais aqui. Se foi como se nunca houvesse existido. Memórias que antes eram boas, agora só me trazem tristeza.

- Caim e Lilith continuam dormindo - disse a voz de YHWH enquanto ele pousava a mão sobre a de Lilith.

Estavam deitados lado a lado em uma pedra de mármore branco. Ambos não mexeram sequer um centímetros desde que Sol se foi por completo e as almas gêmeas deixaram de existir. Não sabemos quando irão acordar desse sono que acontece pela primeira vez na história.

Encaro Quione, fazendo uma sombra com suas asas acima de minha cabeça, logo que essa retorna de sua missão. Ela pousa ao meu lado, coloca a mão em meu ombro direito descoberto e fala:

- Não a encontro em lugar nenhum. Sem Caim, não tem com encontrar Seth.

Fecho os olhos, mas o arrependimento já me cega há tempos. Não somos veteranos no triângulo da morte como éramos no ciclo da era e esse erro custou a existência de Lúcifer e Sol. Seth colocou Caim e Lilith em um sono profundo antes de desaparecer, nos deixando feito palhaços perdidos nessa confusão toda.

- Precisamos de ajuda - Bragu suspira, caminhando em minha direção como se eu pudesse dar a ela respostas. - Pitt...

- Acabou. - Sinto-me aquele obrigado a informar isso a todos. - Mesmo depois de tudo, não vamos conseguir fechar o triângulo da morte. Está tudo acabado. - Olho diretamente para Héstia, cujos cabelos laranja são jogados para trás com o vento.

Lágrimas se formam nos olhos de YHWH e logo caem, manchando seu rosto de branco.

- Tem que ter outro jeito de encontrar Seth. Por que ela faria isso? - Héstia disse isso em um tom mais elevado o que precisava, mas é o medo que está falando. Ela anda até Caim com desespero. - Por que Seth fugiria depois de tudo que fizemos por ela?

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⏰ Última atualização: Apr 29, 2023 ⏰

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