XXXI. Se ela é o mais perto da perfeição que chegou, qual foi o mais perto caos?

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ALGUM LUGAR NO UNIVERSO

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ALGUM LUGAR NO UNIVERSO


No universo existem muitos pontos neutros. Eles são aqueles onde o tempo não passa, nada muda e tudo que existe é o eterno vazio. Não estou falando do local que habito e sim do que senti ao ultrapassar Teodora. O coração dela é oco. Nada o preenche, é um completo breu escuro e infinito, é por isso que ela nos pede socorro? Está se afundando no nada da existência, submersa em um indecifrável líquido que a afoga? Nunca estive aqui. Dentro dela. Habitando-a fisicamente.

Por mais que tente brilhar com minha energia, estou fraca demais para iluminar mais de dois centímetros à minha frente. Estou só, um líquido banha meus pés e some até as canelas. Não costumo sentir tanto o meu corpo humano desta maneira.

Ouço uma voz distante. Está cantando. Teodora está cantando para mim, mas sua voz é mórbida e decaída, a mais triste que já escutei. Busco me aproximar, mas os passos são mais pesados aqui. Entendo agora que a lança de zinco não é capaz de trazer Teodora para cá como foi com Azazel, e desconfio que o motivo principal é que no coração de dele havia algo para se destruir e no de Teodora, a dor engoliu tudo antes que eu chegasse. Ela não está aqui, ou apenas não a vejo. Esse submundo é dentro dela? Acho que sim.

Não paro de andar, a voz está ficando mais perto, assim como agora uma luz vermelha está acesa bem longe mim. Estou me tremendo, não sei se pelo espaço ou só pelo simples fato de estar morrendo sem meus dois irmãos. Uma silhueta agora pode ser vista perto da luz vermelha. É ela, eu sei, pelo cabelo e a forma com que olhou para trás, mesmo que seu rosto esteja coberto pela escuridão. Teodora some mais uma vez, e sua voz vai junto. Estou com muito frio, sinto que vou congelar. Quero falar, mas não consigo. Algo trava minhas palavras, mal posso respirar. Quero encontrar Isaac, penso agora sobre ele. Penso em nós três, no Éden original. Lembro da chegada de Seth após o pecado de Lilith. Ela era triunfante, magnifica, e tudo que exalava era amor. Nascemos os dois dela. No instante que Seth chegou ao inferno, de seus dois chifres brotaram rosas vermelhas e dessas flores, nascemos eu e Lúcifer. Alguns dizem que deveríamos chamá-la de mãe, não irmã, mas é estranho pensar dessa forma. Afinal, um dia nos tornamos uma tríade de iguais. Apenas Teodora se dividia, mas nós éramos os moldadores de suas almas. Elas eram complementares, assim como nós, e enquanto Lúcifer criava os obstáculos para o desenvolvimento humano, eu era aquela que permitia a existência de almas extremamente puras para guiar a humanidade para um bem maior. Mas, Seth se partiu por não querer os seres cruéis feitos por Lúcifer e assim, as almas de bondade avassaladora retornaram a ela, mas os piores seres humanos não. Seth sentou limpar a terra, mas de fato apenas a condenou à pior das possibilidades. Lúcifer, aquele que nada fazia além de seu papel designado por Deus, foi alvo dos piores sentimentos que Seth já carregou e isso o amaldiçoou com a mente condenada a carregar as almas humanas em um local doentio e cruel. Meu irmão sofreu como nenhum de nós por um erro dela e está condenada a dormir em um local úmido e frio após uma lança de zinco o ultrapassar por causa dela.

Pergunto-me, então, Pai... Se ela é o mais perto da perfeição que chegou, qual foi o mais perto caos?

A luz vermelha se acendeu mais uma vez. Agora, um ser conhecido é visível aos meus olhos. Lúcifer está preso com as mãos e pernas esticadas, mas não há amarra visível. Tento andar mais rápido, mas seus lábios estão trêmulos e não sinto minhas mãos. Quando o alcanço, noto que ele está de olhos apertos em minha direção, mas estão transparentes.

— O-o que te prende? — Sussurro, com as últimas energias tentando deixar meu corpo, ele está olhando em minha direção, mas é nítido que não me enxerga.

Lúcifer então ergue a cabeça para cima e sigo seus movimentos. Lá, vejo o céu e as sombras da Morte estão vindo me dar boas-vindas ao inferno de Teodora. O maior erro dela é que se esquece que toda luz sou eu. Cada raio do sol sou eu. Aquele céu azul, sou eu.

O brilho intenso que exala do meu corpo dispersa as sombras ao nosso redor. Meu braço esquerdo se ergue aos céus, impedindo que a brecha aberta se feche. Lúcifer permanece imóvel, os lábios estão sem cor também.

— Abaixa a cabeça — mando e meu irmão obedece, mesmo sem saber que o líquido vermelho dos meus olhos está entre nossos rostos e, quando fico perto o suficiente, transmito metade de minha falha força para o fraco à minha frente.

O olho direito de Lúcifer se preenche e apenas o meu esquerdo permanece vermelho. Olhamos para cima no mesmo segundo e minha luz me suga para fora do pesadelo melancólico dentro de Teodora. Isaac, por outro lado, permanece lá.

FUGITIVOS DO INFERNO 02 -Triângulo Da Morte [EM ANDAMENTO] Onde histórias criam vida. Descubra agora