XXII. A Morte

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Sente uma agonia cada vez mais intensa e penetrante

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Sente uma agonia cada vez mais intensa e penetrante. Como se andasse em corda bamba, Lorenzo soa muito subindo as escadas na direção daquela que, internamente, não quer encontrar. Não tem nada a ver com o esforço físico de subir sete andares e sim a energia da Morte que parece muito diferente daquela que já encontrou. Ele se lembrava de ser forte, mas não ao ponto de deixá-lo tonto dessa maneira. Acredita que pode ser resultado da sua própria energia, brilhando na testa, brigando com ele como se fosse um ser a parte e o incentivando a se afastar. Não deixa de subir cada degrau enquanto todos os medos o atingem.

Suas asas estão soltas, mas Lorenzo as mantém baixas para andar no apertado local. Seus, trêmulos, e os músculos, contraídos, expressam seu mais interno e verdadeiro pânico.

Quando escuta a voz dela chamando seu nome, ele para. Olha para trás, querendo voltar, mas depois de um profundo e demorado suspiro, volta a subir os degraus de ferro com os olhos fechados, recusando seu incontrolável pavor. Quando abre a porta do oitavo andar, sabe que ela está aqui, mesmo que ainda não consiga vê-la com seus olhos brancos agora abertos.

O homem caminha cauteloso pelo corredor repleto de portas pretas fechadas, deixa para trás a escada de ferro da qual um dia Eloísa quase despencou, contando os passos e as respirações, tentando não se esquecer de fazer um nem outro. Já se arrepende.

Atrás de si, o relincho de um cavalo soa em alto tom, assustando-o e o rapaz vira-se depressa. O animal é dourado como ouro, com as crinas voando, mesmo que nenhum vento as atinja, e suas patas dianteiras então erguidas como se tentassem alcançar o teto cinza. Encara tamanha beleza boquiaberto. A arma de mesma cor do animal está pousada em sua mão direita. Lorenzo a pressiona com ansiedade. Tem certeza de que não viu o animal da última vez que encontrou a morte, mas o chamado dela faz a certeza de que está por perto.

Surgindo detrás do cavalo, a mulher de cabelos vermelhos está inteiramente vestida de branco e seus dedos percorrem o equino brilhante até que ele fique completamente no chão. O animal agora está calmo, e os olhos de Lorenzo brilham de confusão. Percebe que nunca olhou para trás enquanto fugia da Morte, logo, nunca chegou a ver seu rosto, e não imaginava que fosse de fato o mesmo de sua melhor amiga. A imaginava como o pior dos monstros e não é essa a imagem que tem diante de si.

Só então, a mulher o encara, com os mesmos olhos multicor das últimas vezes, mas um semblante muito oposto ao das outras. Lorenzo sente um arrepio percorrer seu corpo no mesmo instante que a névoa preta surge engolindo todo o corredor atrás de Teodora, como um animal selvagem, até atingi-la por trás e a fazer cambalear para frente, afastando-se do cavalo. O ser completo, agora com as asas completamente abertas, não pensa tanto antes de avançar até a mulher, temendo o que ocorrerá quando todas as sombras habitarem a melhor amiga. Ele é rápido, só não o suficiente.

Um movimento com a mão esquerda e Teodora o lança com força contra a parede cinza do local, que se raça até o teto instantaneamente. Seus olhos ainda não de cores diferentes, mas um completamente preto enquanto o outro atinge o intenso breu. Os cabelos vão mudando de tonalidade, as raízes e depois o resto fica preto. Lorenzo está com os olhos arregalados, encara a arma de ouro caída do chão alguns metros à sua direita e depois olha ela de novo. Saindo do lado do cavalo, o ser antes de pele branca e lisa, começa a apresentar bolhas enormes em todas as partes do corpo, mas não sente dor pois está sorrindo. As pernas e braços se alongam, as cortas se curvas e o líquido negro escorre por todos os seus buracos e das bolhas que agora estouraram. A mão esquerda continua apontada a ele, que mesmo tendo uma força sobre-humana, é incapaz de se mover.

Lorenzo pragueja Isaac um milhão de vezes. Está assustado e sozinho novamente, mas tem plena noção de que não precisaria estar. É consciente da burrice que fez e quer se desculpar com Eloísa pois é nela que mais pensa nesse exato momento.

O ser grotesco à sua frente enfia sua mão direita dentro do próprio tórax agora coberto apenas com ralos tecidos brancos rasgados e ensopados do líquido. De lá retira uma arma de dois metros e uma ponta de anzol, a lança de zinco. Arfando, Lorenzo pressiona os olhos fechados sabendo não ter escapatória. Tenta focar no seu poder, encravado na testa e sente a luz brilhar com intensidade partindo dele, mas isso em nada impacta a Morte.

— Ei, irmãzinha, sentiu saudades? — Pergunta a voz família, que faz Enzo abrir os olhos. No mesmo momento, despenca da parede, ficando de quatro no chão. A Morte está se virando em direção a Isaac, que aparece sorrindo com seus chifres reluzentes. O olhar do homem em questão pousa nele e depois passa, sutilmente para a lança de ouro jogada no chão. — Você já foi mais bonita — argumenta, batendo as asas sem temor até o imenso monstro corcunda, até que fique exatamente à sua frente.

O grito ensurdecedor é deixado a boca deformada da Morte, mas isso em nada impacta Isaac.

— Shiii — pede dele, franzindo as sobrancelhas e balançando a cabeça negativamente. — Já estamos quites, Seth — declara, com a mão direita ameaçando se aproximar do rosto dele, mas em recusa, as sombras começam a deixar o corpo com velocidade. Isaac busca por Lorenzo, agora preocupado, mas não o encontra perto da arma dourada, que também já não está mais no chão.

Olha para frente no mesmo instante que a lança ultrapassa as costas da negra criatura e voa um pouco para trás, observando que a lança a atravessou e quase lhe atingiu. A Morte cai de frente, bem abaixo dos pés de Isaac e com Lorenzo pousado em suas costas como um ceifador. Aquele que ceifou a Morte. Olha para o homem de cabelo preto acima de si, com ódio e vontade de matá-lo. Desce do corpo que se incendiará e pega a lança de zinco em mãos, encarando-a com pavor.

Isaac respira fundo, fazendo Lorenzo voltar a olhá-lo. Com a mão direita na cintura e a esquerda erguida ao alto, diz:

— Hora de voltar — e estala os dedos antes que o outro dissesse uma só palavra.

FUGITIVOS DO INFERNO 02 -Triângulo Da Morte [EM ANDAMENTO] Onde histórias criam vida. Descubra agora