XXXVI - O que há além do destino

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- Não existe amor sem que algo seja sacrificado. Seth sacrificou seus chifres para unir o amor puro entre Lilith e Caim. Deus a criou para com esse propósito, mas, assim como uma criança, lhe faltava tempo para aprender algo valioso sobre a existência.

No ambiente estreito que lembrava uma caverna a luz era quase inexistente e era possível ouvir o som de água gotejando.

Entretanto aqueles ali sabiam que aquilo não era água. Era sangue de monoda.

- O quê? - A voz masculina perguntou. Era fraca e lenta. Cansado, ele estava tão cansado.

- Até o sentimento mais valioso precisa ter um limite. Amor só é amor se tiver um limite.

Ele está soando frio. Seus olhos brancos estão opacos e seus lábios quebradiços sangram.

- Eu não a sinto mais - ele quer chorar, mas está desidratado demais para isso. - Preciso encontrar ela.

- Você precisa deixá-la partir, Caim. Essa é a sua função. Liberte Lilith.

Caim estava pendurado de ponta cabeça com cordas de zinco ao redor de seus calcanhares e pulsos. Pregos de mesmo material estão segurando suas duas asas abertas.

- Não pode ser real. Não tem a menor lógica que isso seja real, Seth. Por que você está fazendo isso?

- Caim, você precisa acordar. Ainda tem muito para andar antes de chegar lá.

- Lá onde, Seth?

- Essa é uma escolha sua.

- Não sei o que isso significa.

- Sem a ligação que sacrifiquei meus chifres para dá-los, o que resta de Caim e Lilith?

- O que fez com ela?

- Eu fiz uma pergunta, Caim. O que resta desse amor que nada tem de transcendental sem o meu poder?

- Vai se foder! - A voz saiu muito mais forte agora. - O seu poder não me fez amar Lilith. Eu a amo desde o primeiro milésimo de segundo que meus olhos tocaram o espírito dela.

- Resposta errada. O que resta é o seu desejo de destruí-la. Caim, seu amor é mortal e condenável. Não há nada pior que amar você.

Os olhos de Lorenzo se abriram e uma chuva de sensações tomaram conta de seu corpo. A areia do deserto ameaçada ultrapassar sua pela pela temperatura. Ele se sentou, sua respiração tremia. Olhou para os lados, mas não havia nada ao sei redor, o deserto parecia não ter fim. Ele se levantou. Sentia seus músculos fracos demais para manter-se de pé, mas forçou-se a dar pequenos e doloridos passos em qualquer direção. Seus olhos ameaçavam fecharem-se mais uma vez. Lorenzo não sabia onde estava, mas sabia que não deveria caminhar para trás porque foi naquela direção que Teodora caminhou quando deixam o bar.

Lorenzo não estava morrendo, mas estava bem longe de viver.

- Ainda falta muito - falaram atrás dele. Lorenzo pensou ser uma alucinação e por isso não olhou para trás. - Não vai encontrar nada se não sabe o que está procurando. - Lorenzo continuou com seus pobres passos sem deixar sua mente cansada o distrair. - Enzo, aonde está indo?

- Para casa - disse de forma quase inaudível. Foi a primeira vez que falou algo em dias.

- E onde é sua casa?

- Eu não sei - ele começou a se desesperar com sua própria resposta. - Eu perdi a minha casa. Não consigo encontrar em lugar nenhum.

- É no inferno.

Ele parou de andar.

- Não. O inferno é um lugar, minha casa... - Lorenzo passou a mão direita entre as clavículas acima da camiseta. - Não lá. É ela.

FUGITIVOS DO INFERNO 02 -Triângulo Da Morte [EM ANDAMENTO] Onde histórias criam vida. Descubra agora