Capítulo dois: 🇧🇷 Preferia morrer! 🇮🇹

694 80 6
                                    

- Ela se foi! Ela se foi! - dizia eu a mim mesma baixinho ainda agarrada ao corpo sem vida de minha mãe.

Eu estava em choque.

- Senhor, eles foram vistos há 3 quadras daqui! - ouço uma voz cheia de sotaque falar.

- Certo! Vamos fazer o que tem que ser feito. - a outra voz diz.

Ambos pareciam não ser brasileiros pois suas vozes eram carregadas de sotaque.

- Senhorita, preciso levar sua mãe daqui! - o homem mais velho diz ao se agachar junto a mim.

- O quê? - pergunto ainda em choque abraçada a minha mãe.

- Eles estão voltando, certamente para terminar o serviço, a senhorita corre risco de vida. Precisamos sair daqui! - ele tenta me explicar.

- Io no vou com vocês! - falo firmemente numa mistura de italiano com português. Eu estava com os nervos a flor da pele.

O homem mais velho me olha atentamente, vejo resquícios de pena em seu olhar. Eu deveria estar um caco de pessoa.

- No temos tempo para isso! - ouço a voz do mais novo.

E em seguida, sinto apenas uma mão me dominar por trás e um cheiro forte adentra de forma violenta em minhas narinas. Tento lutar, tento me defender mas não consigo. Ele era mais forte e mais ágil também, e em fração de segundos, sinto perder o controle do meu corpo e mente.

🎤

Como se estivesse saindo de sonho ruim me sinto quando vagarosamente sinto meus sentidos voltando a si.

Sim! Tudo aquilo era apenas um sonho ruim, um pesadelo. Um cruel pesadelo, e que felizmente eu estava acordando para a realidade. Tudo estava como sempre esteve. Entretanto, ao abrir os olhos e me deparar com assentos vazios de um avião, vejo que o pesadelo é real.

Eu estava dentro de um avião particular, a minha frente estava o tal homem mais velho que vi antes, que pensei ter sido fruto de um sonho ruim.

- Como se sente? - sua voz é como eu me lembrava, carregada pelo o sotaque.

- Mal! - digo friamente.

- Sinto muito por sua mãe! Ela era una boa pessoa. - sua frase me deixa intrigada. Aquele homem conhecia minha mãe?

Mas antes que eu possa dizer em voz alta o que meus pensamentos já haviam dito em minha mente, o homem mais novo, o tal Salvatore, que descobri a pouco ser meu primo, surge, vindo da parte dos fundos do avião.

- Deixe-nos! - sua fala soa como uma ordem.

E com a cabeça baixa o homem mais velho levanta e parte.

Vejo meu mais novo primo se sentar no assento a minha frente. Sua feição é fechada, séria, sombria. Olho atentamente em seu rosto tentando encontrar em sua feição algo que nos una, algo em comum que geralmente os parentes tinham, mas nada vejo. Salvatore para mim era um desconhecido.

- Imagino que tenha muitas perguntas a fazer! - ele diz me olhando atentamente.

- Algumas! - é tudo o que respondo.

Vejo ele respirar profundamente.

Com uma perna sob a outra e postura firme, Salvatore começa a dizer.

- Seu pai era dom Giuseppe Torantino. Pepe, para os mais chegados! Ele era um homem importante na máfia, em termos leigos, o chefe! Durante uma viagem ao Brasil a negócios, ele conheceu sua mãe. Tiveram um romance, e o fruto foi você!

Aquela era minha história.

Eu passei todos os anos da minha vida tentando descobrir sobre minha própria história, mas mamãe nunca me disse tudo o que eu queria saber. Ela sempre dizia que a hora certa um dia chegaria.

- Mas Pepe no podia se casar com tua mãe, ele estava comprometido com a filha de um outro don, da Alemanha. Em segredo, ele esteve com tua mãe em todos os momentos da gestação, até ela dar a luz a você, e foi onde tudo acabou. Pepe sabia que se quisesse te manter a salvo, ele precisava se afastar, ficar longe. Se o pai da então esposa dele soubesse de você e de tua mãe, seria o fim das duas! E para sua segurança, ele se afastou.

Eu simplesmente não acreditava no que estava ouvindo. Era absurdo demais.

- Mas durante toda a tua vida, Pepe ficou de olho você, em sua mãe! Até que eles se reencontraram pouco antes dele morrer, quando você tinha 15 anos. Foi numa viagem que ele precisou fazer de volta ao Brasil...

- Foi quando mamãe precisou cuidar de uma amiga doente! - digo em voz alta mas falando pra mim mesma.

- Si! Ela disse que precisava cuidar dessa amiga mas na verdade foi a despedida deles! Em seguida, quando Pepe voltou para a Itália, ele faleceu. - ele diz com pesar.

- O que aconteceu com ele? - pergunto.

- Esse meio em que vivemos, é muito perigoso!

- Meio em que vivemos? Então você... - tento ligar os pontos.

- Eu fiquei no lugar de Pepe, como ele não tinha filho homem, e você é mulher, sem falar que é também um segredo, eu assumi seu lugar, como o único parente vivo! - sinto orgulho em sua fala.

- Então ninguém sabe da minha existência?

- No sabiam até hoje! No sei como mas, o irmão da esposa de teu pai descobriu sobre você, ela quer vingança, nunca aceitou que seu pai amasse mais a sua mãe do que a ela, ela descobriu tudo... Quando fiquei sabendo resolvi ir pessoalmente ao Brasil para proteger e contar tudo a sua mãe, mas, cheguei tarde!

- Você está me dizendo que minha mãe faleceu por apenas um capricho de uma mulher mal amada? - a ironia é visível em minha fala.

- Na máfia as coisas são resolvidas assim. - ele diz simplesmente.

- Não! Não! Não! Isso é um sonho ruim. Eu preciso acordar! - digo a mim mesma.

- Acredite Rafaella, eu gostaria que fosse como você diz, mas no é!

- Não... Meu pai, ele morreu antes de eu nascer. Ele era um motorista numa empresa, eu recebi a pensão dele até os 21 anos. - digo.

- A pensão era da máfia! Eu mesmo assinava as transações. - ele retruca.

- Não pode ser verdade!

Salvatore apenas me olha.

- E, pra onde estamos indo? - tento retomar a compostura.

- Mônaco!

- O quê? - pergunto surpresa e furiosa.
- Quem lhe deu permissão para me trazer para a Itália? Quem você pensa que é?

- Eles estavam voltando para o seu apartamento para terminar o serviço. Era a Itália ou a morte! - ele retruca.

Reviro os olhos.

- Preferia morrer! - digo amargamente.

Casamento De MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora