Capítulo 20

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Fred

  - Isso tá virando rotina.

Tirei os olhos do algodão com desinfectante dos joelhos de Daphne e olhei para ela.

  - O que?

  - A gente cuidando dos machucados um do outro.

Eu sorri de leve.

  - É uma péssima rotina.

Continuei limpando os ralados nos joelhos de Daphne em silêncio. Depois daquela confusão, viemos para minha casa. Velma limpava os óculos sujos com um dos meus lenços e Salsicha mastigava batatinhas no canto da sala.

Eu pensava nos acontecimentos terríveis da noite, mas também sobre meu pai, no caminhão da prefeitura. O mesmo que bateu na gente e nos mandou para uma quase morte. Salsicha quebrou o braço, mas podia ter sido muito mais que isso.

Se o caminhão era da prefeitura, quem dirigia? Quem quer que fosse, sabia o que estávamos investigando. Mas não consegui contar o que vi para eles, talvez porquê tinha medo demais de descobrir que meu pai pudesse ter algo a ver com toda essa bagunça.

E isso já é motivo para me tornar um alvo.

  - Se aquele idiota não estivesse morto, eu iria matá-lo - resmunguei, jogando no chão outro algodão. Daphne ficava se machucando, e dessa vez era graças ao falecido.

  - Muito romântico, Fred, mas agora não sabemos quem é o próximo. - Velma constatou, colocando os óculos no rosto.

  - Alguma coisa me diz que logo saberemos - Salsicha disse, dando uma batatinha para Scooby.

  - E talvez tenhamos perdido a melhor chance de capturar o Demônio Negro.

  - Olha, uma droga que a armadilha não funcionou, mas pelo menos eu estou fazendo alguma coisa pra tentar - disse, ríspido, me levantando com a caixa de remédios.

  - Fred. - Daphne me repreendeu.

  - Eu não estou fazendo nada? - Velma torceu o nariz. - Talvez você queira fazer sozinho então, mas quem vai limpar a bagunça quando suas armadilhas não funcionarem?

  - Gente! Não vamos brigar, qual é - Salsicha ergueu os braços. - A situação já está ruim o suficiente.

Bufei, indo em direção as escadas e deixei eles para trás.

Velma

Revirei os olhos, sentindo uma coisa ruim no fundo do estômago. Não queria ter dito isso, e acho que nem ele.

  - Ele só precisa se acalmar. - Daphne sentou do meu lado, passando um braço ao meu redor.

  - Eu sei - suspirei, engolindo a culpa. - Ele não lida muito bem com as emoções dele, nem dos outros. - Daphne, eu não tenho certeza, não sou especialista. Mas...

Olhei para Salsicha, que estava distraído com Scooby.

  - Acho que Fred pode ser autista.

Ela olhou para mim surpresa.

  - O aspectro autista é um distúrbio de neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.

Daphne desviou os olhos, refletindo sobre minhas palavras.

  - Aquele negócio que ele sempre faz com a chave da Máquina de Mistérios,  comportamento repetitivo. O jeito que ele fica focado quando está concentrado, quando ele fica em silêncio e se recusa a falar qualquer coisa. Dificuldade de entender os sentimentos dele e os dos outros. Como ele fica incomodado falando com qualquer um que não seja a gente e se incomoda muito com barulhos altos. Hiperfoco e obcessão com armadilhas. É só uma teoria, mas...

Scooby-Doo: Você vai morrerOnde histórias criam vida. Descubra agora